TEATRO

Peça ambientada na invasão holandesa em Pernambuco é atração do 30º Janeiro de Grandes Espetáculos

Drama histórico dirigido por Marcos Damigo mistura passado e presente para falar sobre o início da modernidade e sua relação com estruturas ainda vigentes no Brasil

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Emannuel Bento

Publicado em 09/01/2024 às 15:52
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O espetáculo "Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar", com enredo ambientado no período do domínio holandês no Nordeste no século 17, terá duas únicas sessões no Recife durante a programação do 30º Janeiro de Grandes Espetáculos, nesta quinta (11) e sexta-feira (12), às 20h. Os ingressos custam R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia) e podem ser adquiridos no Sympla.

A peça estreou no CCBB Belo Horizonte, depois teve temporadas pelo CCBB Brasília, CCBB Rio de Janeiro e pelo CCBB São Paulo, totalizando 87 apresentações em 2023. Criação do diretor Marcos Damigo, o drama histórico mistura passado e presente para falar sobre o início da modernidade e sua relação com estruturas ainda vigentes no Brasil.

Na obra, um grupo de cinco artistas, inspirados no episódio da invasão holandesa em Pernambuco investiga as contradições do projeto moderno a partir de Anna Paes, dona de engenho da época, quando ela escreveu um bilhete para Maurício de Nassau, presenteando-o com seis caixas de açúcar em sua chegada ao Brasil. O bilhete está guardado até hoje no Arquivo Nacional dos Países Baixos, em Haia.

Elenco

O elenco conta com Carol Duarte, que interpreta Anna Paes, Ermi Panzo, artista angolano radicado há quase dez anos no Brasil, que também assina a dramaturgia da obra; Jamile Cazumbá, artista baiana que transita pelo audiovisual e a performance; e Leonardo Ventura, ator consagrado em obras dirigidas por Antunes Filho no Centro de Pesquisa Teatral; além de Adriano Salhab, músico pernambucano que assina a direção musical do espetáculo e executa a trilha sonora ao vivo em cena, com músicas originais.

Publicação digital

LUIZA PALHARES/DIVULGAÇÃO
Espetáculo 'Babilônia Tropical - A Nostalgia do Açúcar' é ambientado no Nordeste holandês - LUIZA PALHARES/DIVULGAÇÃO

Por ocasião das apresentações em Recife será lançada uma publicação digital com a dramaturgia da peça e outros materiais de pesquisa, com texto elaborado pelo historiador pernambucano Daniel Breda, consultor histórico do projeto, e criação visual dos artistas pernambucanos Rafa Saraiva e Mila Cavalcanti.

Essa publicação foi realizada com apoio da Embaixada dos Países Baixos, que financiou uma etapa de desenvolvimento da dramaturgia em 2022, possibilitando uma ida do diretor Marcos Damigo a Recife para uma pesquisa de campo e uma imersão criativa com o elenco do espetáculo.

Olhar para o passado

"Como podemos olhar para o passado sem reparar que os pilares desse país foram sustentados pela escravidão? Os vilões da nossa história devem ser nomeados para que, no presente, possamos erradicar qualquer indício dessa herança escravocrata, restaurando o lugar devido para aqueles que foram capturados e para aqueles que ainda são oprimidos", diz Carol Duarte, destacando a importância de abordar a barbárie histórica do país.

"Jamile, artista baiana, e Ermi, escritor e poeta angolano radicado no Brasil, vão pôr o dedo na ferida diversas vezes. Discutir o racismo é sempre a pauta adiada em um País que tem dificuldade de enxergar a si mesmo, o que dizer então da reparação histórica. As diversas violências que o trabalho na contemporaneidade são lançadas contra todos, pretos, brancos, amarelos e miscigenados, é fruto das distorções da escravidão."

O idealizador, dramaturgo e diretor da obra, Marcos Damigo, enfatiza: "É uma responsabilidade imensa dar vida às pessoas que vieram antes de nós, para que possamos transformar a forma como nos enxergamos e, assim, talvez, ativar nossa sensibilidade para uma melhor compreensão de nós mesmos."

O produtor do espetáculo, Gabriel Bortolini, adianta que a peça provoca reflexões profundas. "A representação histórica, exemplificada pela personagem Anna Paes, reflete nossas escolhas sobre como perpetuar a história, a imagem e seus pares. A história brasileira foi feita de brancos para brancos. Aqui, questionamos não apenas os reconhecimentos em si, mas também seus privilégios e as barreiras que precisam ser superadas para alcançar um lugar diferente", afirma Bortolini.

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