OLINDA

Casa Estação da Luz recebe a exposição Alceu Valença, uma geografia visceral nordestina

A exposição irá apresentar parte do acervo fotográfico pessoal do artista, assim como fotografias de Cafi, Carlos Horcades, Léo Aversa, Mário Luiz Thompson, Tânia Quaresma e Toinho Melcop

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JC

Publicado em 17/04/2024 às 10:27 | Atualizado em 17/04/2024 às 10:44
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A Casa Estação da Luz, localizada no bairro do Carmo, em Olinda, recebe a partir desta quinta-feira (18), a exposição "Alceu Valença, uma geografia visceral nordestina". O público poderá conferir mais de 200 objetos, entre peças do acervo pessoal, fotografias e vídeos históricos, exposição sobre a trajetória e obra de Alceu Valença que suscitam para a construção de um imaginário tradicional e contemporâneo do Nordeste.

“O título desta exposição traz a geografia, mas não como mero recurso retórico, para celebrar a obra do genial Alceu Valença e os seus mais de cinquenta anos de carreira. A começar pelo Nordeste que é, antes de tudo, uma direção geográfica, mas aqui se insere como uma consciência íntima da sua produção artística”, adianta Rafael Antonio Todeschini que, nos últimos dois anos, esteveà frente da equipe de pesquisa e assina a curadoria desta exposição. 

“(Na obra de Alceu), é com o reconhecimento de um imaginário nordestino de paisagens, ritmos, expressões, lugares, frutas, bichos e tantos amores, que se reúnem os elementos que impregnam uma estética viva e contemporânea”, segue o curador.

ACERVO PESSOAL DO ARTISTA

A exposição irá apresentar parte do acervo fotográfico pessoal do artista, assim como fotografias de Cafi, Carlos Horcades, Léo Aversa, Mário Luiz Thompson, Tânia Quaresma e Toinho Melcop. Serão expostas também obras de Aline Feitosa, Bajado, Getulio Maurício, J. Borges, Marcos Cordeiro, Marisa Lacerda, Sérgio Lemos, Sérgio Ricardo, Véio e Wellington Virgolino.

Além disso, haverá a exibição de diversos vídeos: a entrevista que Alceu deu informalmente para Mario Luiz Thompson no primeiro dia da primavera de 1981, que é intercalado por diversas apresentações ao vivo dele do mesmo período; o precioso filme “Nordeste: Cordel, Repente e Canção” (1975), de Tânia Quaresma; trechos de “A Noite do Espantalho” (1974), de Sérgio Ricardo e “A Luneta do Tempo” (2014), do próprio Alceu; registros em super 8 feitos também por Mario Luiz Thompson durante apresentações do show “Vou Danado pra Catende”, que deram origem ao disco “Vivo!”; a apresentação que Alceu e Paulinho Rafael fizeram no canal Antena 2 na França, em 1979, durante o período em que moraram lá; uma coletânea de videoclipes de diferentes épocas da carreira de Alceu e outras participações emblemáticas de Alceu nos canais de TV brasileiros.

Entre os artistas visuais, Marisa Lacerda, por exemplo, pintou a tela que serviu de capa do premiado disco Maracatus, Batuques e Ladeiras, que, em 1995, rendeu tanto a Alceu, como à artista, reconhecimentos no antigo Prêmio Sharp, atual Prêmio da Música Brasileira. Aline Feitosa, noutro exemplo, recria em cerâmica uma réplica da casa da Fazenda Riachão, em São Bento do Una, onde o menino Alceu nasceu e começou a tomar contato com a poesia, a música e linguagens expressivas da cultura popular de Pernambuco.

Fred Jordão
Obra do artista Wellington Virgolino - Fred Jordão

A exposição irá apresentar também obras como a tela de Sérgio Lemos que inspirou a composição de "Morena Tropicana", e uma escultura do artista plástico Véio intitulada “Coração de Artista”, esse coração que pipoca dentro do peito – diga-se de passagem, que foi Jackson do Pandeiro que sugeriu a Alceu para trocar “explode” para “pipoca” na letra de “Coração Bobo”. A exposição irá apresentar ineditamente a gravação de algumas músicas do show apresentado por Jackson e Alceu juntos no Projeto Pixinguinha, em que eles cruzaram o Brasil durante o ano de 1978. Incentivado pela Lei Rouanet, a exposição tem patrocínios da Copergás, da Ambev, do Atacarejo e apoio da Safe.

O QUE SE TEM NO NORDESTE

Através das questões expostas a partir da obra de Alceu, o público poderá ter contato com a própria ideia que se tem do Nordeste. “Do início da sua carreira no final dos anos 1960 até os dias de hoje, Alceu esteve muitas vezes classificado dentro daquilo que remete às matrizes populares: um artista regional. Assim como fazem com a arte considerada "naif", o "regional" serve para delimitar um espaço retraído daquela produção, reduzindo-a ao local de sua origem. Isso é, sem dúvida, uma perspectiva colonizadora que Alceu sempre combateu de forma altiva, fazendo com que o seu regional fosse vivo, expansivo e, por que não, universal?”, coloca Todeschini.

Durante os últimos dois anos, a equipe de pesquisa guiada por Todeschini fez uma fina clipagem e leu tudo que foi publicado sobre Alceu na imprensa brasileira e internacional desde os anos 1960. Outra fonte de pesquisa foi o livro Pelas Ruas que Andei, uma biografia de Alceu Valença (Cepe Editora), lançada em 2023, uma caudalosa narrativa que refaz a trajetória do músico por meio de entrevistas diretas e material de arquivo.

Além de passagens biográficas como a mudança para viver de música no Rio de Janeiro, a época de estudos em Harvard e o sucesso do disco Estação da Luz, a pesquisa encontrou também pérolas como o bilhete de Jorge Amado em agradecimento a Alceu por ter se inspirado na figura do escritor para compor Chuva de Cajus, do álbum Estação da Luz. O texto foi encontrado reproduzido na edição do Diário de Pernambuco de 4 de novembro de 1985: “Canto de pássaro, grito de guerra, a caatinga árida e o verde canavial, o povo nos limites da vida, eis a música de Alceu Valença, terno e profundo menestrel do Nordeste.”

PROGRAMAÇÃO NA CASA ESTAÇÃO DA LUZ

A exposição Alceu Valença – Uma Geografia Visceral Nordestina fica em cartaz até 18 de agosto. “Esta mostra sobre a obra de Alceu é, sem dúvidas, a maior e mais densa exposição que já realizamos aqui na Casa Estação da Luz. Uma mostra importante porque não evidencia apenas a grandeza da obra de Alceu, mas como ela revela e projeta um Nordeste contemporâneo.

Durante sua permanência, contudo, manteremos a programação em outras linguagens, como música e cursos, além de outras exposição de menor densidade”, diz Natália Reis, ao lado de Yanê Valença, sócia-gestora da Casa Estação da Luz.

“Há tempos, pensava numa exposição sobre a vida e obra de Alceu que pudesse mostrar sua diversidade e a profunda ligação com sua terra, São Bento do Una, Recife, Olinda, Pernambuco, Brasil!”, diz Yanê.

“Alceu nunca sentiu vergonha do seu sotaque. Nunca se rendeu a tendências do mercado. Sua obra reflete, através das canções, das poesias, das prosas, do filme A Luneta do Tempo, da forma que canta e interpreta, o imaginário coletivo genuinamente brasileiro. Como ele afirma em uma entrevista: "Eu tenho uma missão, que é inflar a alma brasileira, a alma nordestina. Porque num país que está ficando cada vez mais colonizado, sou a favor total da cultura brasileira. Nós somos o máximo. O Brasil é o máximo". Acredito que essa seja ‘a missão’ da exposição”, segue.

 

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