Teatro Valdemar de Oliveira: Proprietários contestam tombamento, mas ainda não possuem planos para recuperação
Em entrevista ao JC, diretor-adjunto do Teatro de Amadores de Pernambuco garante que imóvel não será 'destinado a outra finalidade'; Proponente do pedido de tombamento manterá a proposta
Os advogados do Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP), entidade proprietária do Teatro Valdemar de Oliveira, localizado no Centro do Recife, enviaram um pedido de impugnação do processo de tombamento do imóvel à Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe).
No pedido, o TAP pede uma averiguação no local do imóvel e argumenta que "parte da estrutura não existe mais" após um incêndio ocorrido em 7 de fevereiro deste ano. A causa desse incêndio segue sob investigação da Delegacia da Boa Vista. "As diligências já foram iniciadas e seguem em andamento", informou a Polícia Civil.
O pedido de tombamento foi aberto em 27 de dezembro de 2022 a pedido do Grupo João Teimoso, sendo acatado pelo Governo de Pernambuco através da Fundarpe. O envio da impugnação segue o rito dos procedimentos administrativos previstos na legislação estadual de tombamento - Lei nº 7.970/79.
Seguindo os trâmites da lei, o Grupo informa que manterá a proposta sob o argumento de que o imóvel vai além da estrutura física, sendo um espaço simbólico para as artes cênicas. Um ato já foi realizado pela defesa do tombamento.
Por que o TAP é contra o tombamento?
Em nota divulgada em 2023, o TAP afirmou que o "processo implica um ônus burocrático que pode prejudicar as tratativas em curso e retardar a almejada recuperação e reabertura do Teatro".
A negativa criou apreensão da classe teatral, que tem receio que o imóvel fosse vendido para alguma outra finalidade - como, por exemplo, uso do terreno pelo mercado imobiliário.
TAP nega venda do imóvel
Ao JC, Carlos Alberto, diretor-adjunto do TAP, afirmou que "todo o esforço é no sentido de manter um equipamento de cultura". "O imóvel continuará com os mesmos objetivos iniciais, que estão no estatuto do TAP. Estamos buscando parcerias nesse sentido, como possibilidades de financiamento", disse.
"Até porque, o nosso estatuto não permite agir de outra forma. Aquele imóvel não pode ser destinado para uma outra finalidade, muito menos com a possibilidade de benefício material dos associados do TAP. Dar outra destinação não faz parte dos planos."
Apesar de expressar o desejo de uma retomada do teatro, o TAP ainda não apresentou caminhos factíveis para essa finalidade. Um processo de comodato para o Governo do Estado, iniciado em 2022, no final da gestão de Paulo Câmara (PSB), não caminhou com a nova gestão.
Apesar disso, a Fundarpe deu suporte na transferência do piano, que estava se deteriorando no equipamento cultural, para o Conservatório Pernambucano de Música.
"Todas as possibilidades estão abertas, queremos que se mantenha o Teatro", reforça Alberto.
Grupo João Teimoso manterá pedido de tombamento
Oséas Borba, diretor-geral do Grupo João Teimoso, afirma que irá manter o pedido. "Recebi a documentação no dia 23 de maio. Eles pediram a nulidade do processo com o argumento de que o teatro não existe mais porque está destruído. Porém, o nosso pedido não diz respeito apenas ao prédio físico, mas sim pela simbologia do prédio e do TAP para Pernambuco. A Casa de Clarice Lispector, por exemplo, foi tombada apenas com as paredes."
"Não existe uma briga com o TAP", ressalta. "Existe sim uma necessidade da classe de preservar o Teatro Valdemar de Oliveira. Queríamos muito que o Estado ou a Prefeitura assumissem, transformando-o em um teatro público. Até porque, os débitos deles com a Prefeitura são altíssimos. Poderia ser feita uma desapropriação”, sugere.
Histórico
Fundado em 1971, esse é um dos teatros mais tradicionais da capital, sendo um espaço privado administrado pelo grupo TAP - que existe desde 1941.
O espaço já vinha "mal das pernas" desde antes da pandemia, mas sofreu um rápido processo de degradação nos últimos quatro anos. Apesar disso, o poder público não entrou em cena. Reinaldo de Oliveira, que encabeçou a administração por décadas, faleceu em 2022.
Ainda na pandemia, o prédio começou a ser invadido - sendo utilizado, inclusive, por pessoas em situação de rua na atualidade. Os associados do TAP viveram um verdadeiro "cabo de guerra" com os invasores, já que o sistema de segurança eletrônica foi danificado diversas vezes.
Foram roubados troféus, fiações de cobre, telhas de amianto, refletores e muito mais objetos. Em um intervalo de quatro meses, em 2023, até o teto desapareceu. O incêndio ocorrido em 7 de fevereiro piorou ainda mais a situação.
Abaixo assinado
Para dar mais força ao processo do tombamento, um abaixo assinado por lançado no site peticaopublica.com.br/pview.aspx?pi=BR135610.
O texto é assinado por entidades como Associação dos Produtores de Teatro e Artes de Cênicas e Pernambuco (Apacepe); Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões de Pernambuco (Sated-PE); Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape); e Sociedade Teatral de Fazenda Nova (STF); entre outras.