Governo Raquel Lyra atualiza o Circuito do Frio e busca consolidar marca própria na cultura com o Festival Pernambuco Meu País
Itinerância pulveriza investimento de R$ 25 milhões em 8 munícipios, mas problemas antigos do Festival de Inverno de Garanhuns podem se repetir
A gestão de Raquel Lyra (PSDB) busca consolidar uma marca própria na área da cultura com a criação do Festival Pernambuco Meu País, que começa nesta sexta-feira (12), em Taquaritinga do Norte, seguindo por mais sete municípios do Agreste e do Sertão.
O Governo do Estado abriu mão do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) após um longo embate com a Prefeitura do município, que insistiu em organizar o evento sozinha. A gestão municipal de Sivaldo Albino (PSB) lançou editais e garantiu uma programação completa, sem excluir linguagens artísticas.
Com esse desfecho, o Governo buscou um novo caminho para usar os R$ 25 milhões que geralmente eram investidos no FIG. O valor está pulverizado em oito municípios através do Pernambuco Meu País.
Raquel Lyra já expressava o desejo em recuperar um "circuito do frio" desde o início da gestão. "Temos nesta região um microclima diferenciado. Muitas pessoas vão para Ouro Preto e Gramado, mas é bom vir para cá", disse, na coletiva da abertura do FIG de 2023.
Atualizando o Circuito do Frio
O Estado já teve uma iniciativa semelhante na gestão de Jarbas Vasconcelos (1999-2006), incluindo Taquaritinga do Norte, Gravatá, Pesqueira e Garanhuns - que ficou de fora dessa vez. O "circuito do frio" foi descontinuado por Eduardo Campos (PSB), embora o Governo do Estado tenha continuado apoiando algumas iniciativas descentralizadas em municípios nesse período.
Agora, o Pernambuco Meu País agrega oito municípios do Agreste e do Sertão, e amplia o circuito de inverno do Estado. Junto a Garanhuns, que terá programação totalmente tocada pela Prefeitura, surgem novas opções com programações para pernambucanos e turistas.
São elas: Taquaritinga do Norte (12 a 14 de julho), Bezerros/Serra Negra (19 a 21 de julho), Gravatá (26 a 28 de julho), Pesqueira (2 a 4 de agosto), Caruaru (9 a 11 de agosto), Triunfo (16 a 18 de agosto), Arcoverde (23 a 25 de agosto) e Buíque (30 de agosto a 1º de setembro).
Festival novo, desafios antigos
Em um primeiro momento, pode parecer uma conquista que tantos municípios do interior tenham programações com grandes artistas pernambucanos e outros nomes nacionais. De fato, a iniciativa será ótima para movimentar o turismo dessas regiões.
Contudo, parte da classe artística que utiliza os editais públicos das programações apontam que, na prática, o Pernambuco Meu País pode importar problemas antigos de Garanhuns.
Há muito tempo, fazedores da cultura alegam que a participação no atual modelo de contratações se tornou inviável. Os cachês oferecidos não conseguem mais comportar custos como impostos, transporte, estadia e alimentação, nada sobrando de lucro.
Dilema de artistas locais
Esses custos existem sobretudo para quem não mora nessas cidades, atingindo os artistas que não estão nos palcos "principais" e que não são "convidados", mas que veem o evento como oportunidade.
"Os editais são bons porque acabam com o esquema de 'balcão' nas contratações, mas, por outro lado, acabaram surgindo editais que não deixam claro como ocorre o processo. Quem está fazendo a seleção? Quais os critérios? Eles não divulgam nem as pontuações", diz uma fonte.
"O que também preocupa é que o festival, na prática, pode acabar tendo um enfoque maior em shows de artistas de fora. Dessa forma, as pessoas vão embora após as apresentações e pouco fica para a cidade. Sentimos muita falta de uma parte maior de atividades de formação, por exemplo."
Em nota, a Secult-PE/Fundarpe informou que a programação do Festival Pernambuco Meu País conta com 80% da grade selecionada por meio do edital de convocatória nacional. "Vale também destacar que 50% desta programação é formada por artistas pernambucanos. Todo cachê é tratado de forma peculiar, analisando mérito, consagração e preço de mercado."