'Diziam que éramos muito 'roots' e nunca iríamos tocar nas rádios', diz integrante do Natiruts. Confira entrevista
Banda de reggae se despede do público pernambucano neste sábado (27), no Classic Hall: 'Consideramos que estamos no auge da nossa carreira'
Há 28 anos, a banda Natiruts chegou no mercado fonográfico brasileiro dando novas perspectivas para a música reggae, ritmo que no Brasil já tinha representantes como Cidade Negra, Edson Gomes e Tribo de Jah.
Equilibrando uma sonoridade pop com letras socialmente engajadas, o grupo conseguiu chegar no topo das paradas radiofônicas com o disco de estreia, de 1998, seguido por diversos sucessos de vendas. A banda brasiliense marcou diferentes gerações que encontram nas canções uma certa "vibe positiva" tão mencionada no hit "Reggae Power".
Neste sábado (27), o Natiruts volta ao Recife para seu último show na capital pernambucana. A apresentação ocorre a partir das 21h, no Classic Hall. O grupo promete um repertório com grande hits e músicas do começo da carreira.
Entrevistamos Luís Mauricio (baixo e vocal de apoio), que está na banda desde a primeira formação - assim como o vocalista Alexandre Carlo.
Entrevista - Luís Mauricio, do Natiruts
Após 28 anos de trajetória, como vocês se sentem ao realizar este último show em Recife?
Luís Maurício: Estamos muito feliz com esse último show aqui em Recife. É até um pouco contraditório falar isso, mas nossa sensação é de dever cumprido. Ao longo desses 28 anos, tivemos uma história muito bonita com Recife e com todo o povo pernambucano. Sentimos que cumprimos nossa missão com muito êxito. Foram 28 anos de uma história muito bonita e de um legado bem consolidado. Despedimo-nos dos palcos, mas a música segue eternizada. São muitos álbuns, muitas músicas e muitas histórias. Então, a sensação é de dever cumprido e muita felicidade com o legado que estamos deixando.
Entrevistador: Por que encerrar a banda agora? A decisão foi estritamente artística ou questões de relacionamento e financeiras influenciaram?
Luís Maurício: Foi uma decisão muito pensada. Nós amadurecemos essa ideia há muitos anos. Sempre citamos o Pelé como exemplo, pois ele soube a hora de parar. E pensamos da mesma forma. Pelé parou de jogar no auge da carreira, quando ganhou o tricampeonato, e consideramos que estamos no auge da nossa carreira. Foi o momento certo para essa decisão. Tanto é que estamos tendo um abraço muito grande do nosso público por onde passamos, com casas cheias. Estamos lotando estádios, algo que nunca imaginamos, tocando para 50 mil pessoas em grandes estádios de futebol. Temos quatro datas esgotadas no Allianz Parque em São Paulo. Isso mostra que foi uma decisão assertiva no momento certo e estamos muito felizes, com a sensação de dever cumprido. Entregamos o nosso melhor para o nosso público e a resposta está aí nesses shows lotados.
Como tem sido a rotina de shows? O público está mais fervoroso que o comum com a vibe de despedida?
Luís Maurício: Os shows estão incríveis. Olhamos para a plateia e vemos até três gerações juntas: o avô, a filha e o netinho. Muitas pessoas estão levando as crianças, que muitas vezes nasceram ouvindo o nosso som. É uma oportunidade única de nos ver ao vivo no palco. Isso tem dado um ar muito legal e uma vibração muito boa. Ver tantas gerações assistindo ao nosso show, sem dúvida, cria uma atmosfera diferente.
De que forma você acredita que a Natiruts contribuiu para o reggae no Brasil? No começo, era difícil tocar nas rádios? Existia algum estigma?
Luís Maurício: Ajudamos a popularizar muito o estilo, quebrando muitas barreiras e preconceitos que o reggae sofria. Reconhecemos o trabalho das pessoas que vieram antes de nós, como Cidade Negra, Edson Gomes, Tribo de Jah e Gilberto Gil, que sempre flertou com o reggae. Respeitamos muito todos esses artistas. Sabemos também da força e do poder que tivemos para o reggae no Brasil, ajudando a popularizar o estilo. No começo, foi muito difícil colocar nossas músicas nas rádios. As pessoas falavam: "Isso aí é roots, não vai tocar, não é comercial." Mas quando conseguimos, mesmo com a batida tradicional do Bob Marley, nossas músicas alcançaram o primeiro lugar em todas as rádios. Foi muito importante e sabemos do papel do Natiruts nessa quebra de preconceito.
Os primeiros álbuns da Natiruts tinham uma conotação política forte, falando sobre o fim da desigualdade social e da corrupção. Concorda que a banda passou a evitar esses temas em letras após alguns anos?
Luís Maurício: Não acho que evitamos. Até nos últimos álbuns, sempre tivemos algumas músicas que falam de justiça social. Sempre tivemos o cuidado de equilibrar os discos com vários temas: músicas que falam de amor, músicas mais para diversão e entretenimento, e músicas mais engajadas. Todos os nossos discos têm pelo menos uma faixa com essa conotação de justiça social. Sempre procuramos equilibrar. Todos os nossos discos têm músicas que falam de amor, paz e coisas mais amenas, mas sempre há uma mais politizada.
Como vocês gostariam que o legado da Natiruts fosse lembrado pelos fãs e pela indústria musical?
Luís Maurício: Gostaríamos de ser lembrados tanto pelos fãs quanto pela indústria fonográfica como uma banda brasileira de reggae, mas que sempre flertou com muitos estilos e tentou enriquecer nosso estilo de várias formas, incorporando muitos outros estilos ao nosso reggae. Deixamos um legado muito bonito de boas canções, músicas que realmente tiveram impacto na vida das pessoas, ajudando de alguma forma no cotidiano delas. Estamos deixando um legado muito bonito e maravilhoso para as próximas gerações que quiserem conhecer a banda Natiruts. Vão poder ter acesso a músicas que realmente tocaram a alma e o coração de muita gente. É isso.