Como o samba de coco está impulsionando a economia criativa no Sertão de Pernambuco

Estudo de Paula Lourenço, diretora de Programas Sociais do Sesc-PE, evidencia cultura popular como força de desenvolvimento territorial

Publicado em 05/11/2024 às 16:34 | Atualizado em 06/11/2024 às 10:07

Após o período pandêmico que abalou a cultura popular, uma revitalização significativa vem ocorrendo em Arcoverde, no Sertão de Pernambuco.

Grupos de samba de coco estão conquistando maior autonomia e promovendo eventos que atraem o turismo, como ensaios abertos, museus orgânicos e até projetos para hospedagem, com auxílio das redes sociais e das plataformas de streaming.

Esse movimento é resultado de anos de trabalho do Festival Sesc de Economia Criativa – Na Pisada dos Cocos do Nordeste, uma iniciativa do HUB PE Criativo, promovido pelo Sesc PE, que celebra sua quarta edição até o dia 10 deste mês.

 

Esses avanços já estão registrados em uma dissertação de mestrado em Indústrias Criativas pela Unicap: "Da pisada do barro ao streaming: um estudo do samba de coco de Arcoverde-PE como indústria criativa para o desenvolvimento local," de Paula Lourenço.

A pesquisa virou livro, a ser lançado neste sábado (8), durante o festival em Arcoverde. Na quarta-feira (6), Paula participa do Rec N' Play, no MuAfro Recife, às 15h30, compartilhando as suas reflexões sobre o papel da cultura popular como força de desenvolvimento territorial.

Estudo e grupos participantes

Leo Caldas/Secult-PE
Registro do Samba de Coco Santa Luzia no Palco Popular do Festival de Inverno de Garanhuns de 2016 Garanhuns / PE - Leo Caldas/Secult-PE

Diretora de Programas Sociais do Sesc PE, Paula Lourenço tem acompanhado essas movimentações desde 2021, quando surgiu o festival.

Seu estudo, iniciado em 2022, reúne entrevistas com integrantes dos grupos, análises de redes sociais e bibliografias especializadas. Participaram os grupos Raízes de Arcoverde, Irmãs Lopes , Coco Trupé, Fulô do Barro, Pisada Segura e Quebra e Coco Aliança.

"No início, o Sesc convidou os artistas para reuniões e ofereceu cursos em diversas áreas, como roadie, produção cultural, negócios, redes sociais e fotografia, em parceria com o SEBRAE," explica Paula. "A ideia era que eles se reconhecessem como agentes de desenvolvimento econômico, com a possibilidade de viver da arte de forma independente."

Em três edições, o festival já impactou 174 artistas e 143 empresas, movimentando R$ 1,74 milhão em recursos para a cidade. A programação formativa incluiu cursos, palestras, mesas de debate e visitas escolares, com mais de 2.700 participantes.

Transformações

 

Jan Ribeiro/Secult-PE
Registro de sambada de Coco em Lagoa de Itaenga - Jan Ribeiro/Secult-PE

O estudo investigou impactos culturais, sociais e econômicos. "Percebemos uma maior visibilidade da manifestação e uma redução do preconceito. O coco, tradicionalmente praticado por pessoas pretas, muitas ligadas à umbanda, tem sido mais reconhecido e valorizado. O interesse dos jovens aumentou, e novos artistas têm surgido," conta Paula.

O empreendedorismo vem florescendo nos grupos de coco, que organizam ensaios abertos para arrecadar fundos e têm atraído seguidores nas redes sociais.

"As redes viraram uma plataforma oficial de divulgação, o que abriu muitas portas," diz Paula. No streaming, embora ainda sem lucros expressivos, a circulação das músicas ampliou-se, alcançando regiões distantes do país.

Museus orgânicos e iniciativas locais

As sedes dos grupos também se transformaram em museus, por meio de projetos de expografia. "Os Raízes de Arcoverde abriram uma lanchonete e têm planos para um hostel," compartilha Lourenço.

"Hoje, eles têm mais autonomia. Muitos não precisam mais de produtores, entendendo que podem se valorizar e oferecer sua arte sem perder sua essência."

Perspectivas

 

ROBERTA GUIMARÃES/Secult-PE
Registro do Samba de coco Trupé de Arcoverde, em Palco de Cultura Popular do Festival de Inverno de Garanhuns - ROBERTA GUIMARÃES/Secult-PE

Para Paula, políticas culturais que envolvam o setor público e privado são essenciais para iniciativas como o Festival Sesc de Economia Criativa – Na Pisada dos Cocos do Nordeste. Ela acredita que o modelo deve se expandir ao longo de uma década para consolidar o impacto.

"É um modelo que pode ser replicado em outras partes do País, pois fortalece a cultura popular", destaca Paula.

"O Nordeste é um dos grandes celeiros culturais do Brasil, e, como aponta Cláudia Leitão, temos o potencial de desenvolver uma nova economia a partir da cultura. Os indicadores mostram os benefícios, tanto econômicos quanto culturais, que este movimento gera."

SERVIÇO
Lançamento do livro "Da pisada do barro ao streaming: um estudo do samba de coco de Arcoverde-PE como indústria criativa para o desenvolvimento local", de Paula Lourenço
Quando: nesta sexta-feira (8), às 17h30
Onde: Biblioteca José Lins do Rêgo do Sesc Arcoverde (Rua Capitulino Feitosa, s/n, Centro)
Informações: (87) 3821-0864

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