Lia de Itamaracá assumirá Secretaria de Turismo e Cultura da Ilha de Itamaracá
Anúncio foi feito no primeiro feriado do Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira (20), pelo prefeito eleito do município, Paulo Galvão (PSDB)
A cirandeira Lia de Itamaracá, ícone da cultura popular de Pernambuco e do Brasil, assumirá a Secretaria de Turismo e Cultura da Ilha de Itamaracá. O anúncio foi feito pelo prefeito eleito do município, Paulo Galvão (PSDB), nesta quarta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Aos 80 anos de idade e mais de 50 de carreira, essa é a primeira vez que Maria Madalena Correa do Nascimento representará oficialmente a cultura e o turismo da Ilha de Itamaracá com uma cadeira entre os secretários municipais.
"Estou muito feliz. Meu papel será parecido com algo que eu já faço, que é o de levar o nome de Itamaracá para todo o Brasil e para o mundo, só que agora como Secretária. Quero abrir portas para trazer investimentos para a Ilha que eu carrego no meu nome", disse Lia.
"Lia será nossa voz no turismo e na cultura nacional e internacional. A Rainha da Ciranda irá conversar com governos, empresários, instituições e entidades para recolocar Itamaracá num espaço de respeito e relevância como nunca foi visto antes", disse Paulo Galvão.
Reconhecimento
Nos últimos cinco anos, Lia de Itamaracá tem assistido uma verdadeira reviravolta na carreira, com participações em filmes de sucesso, como "Bacurau" (2019); reconhecimento de astros globais, como Jon Batiste; diversos shows no exterior e em grandes festivais, como Rock in Rio; e uma exposição no Itaú Cultural.
Em diversos momentos, ela precisou criticar o poder público para ter maior reconhecimento. Em 2020, a cirandeira não se apresentou no Carnaval pelo Governo de Pernambuco, por exemplo, pela falta de atualização do seu cachê.
No dia em que completou 80 anos, em 12 de janeiro de 2024, ela comandou um amplo festival, realizado na Praia de Jaguaribe, na Ilha de Itamaracá. Em sua terceira edição, o Festival O Canto da Sereia cresceu pela grandiosidade da ocasião, foi realizado em três dias e trouxe movimentação cultural e turística para a Ilha.
Trajetória
Nascida em uma família pobre, Maria Madalena era apaixonada pelas rodas de coco e ciranda. Aos 12 anos, se torna cantora amadora nas festas de São João. Adulta, frequenta a ciranda de Dona Duda (1923-2022) na Praia do Janga, importante ponto de encontro de mestres cirandeiros.
A inserção na cena musical ocorre nos anos 1970, momento em que a ciranda conquista visibilidade nos meios de comunicação, em grande parte devido à ação de intelectuais ligados ao Movimento de Cultura Popular (MCP), no final da década de 1960, e ao Movimento Armorial, surgido na década de 1970.
A cirandeira assume o papel de agitadora cultural na ilha, conduzindo rodas no bar O Sargaço, onde também trabalha como cozinheira. Participa ainda de concursos públicos promovidos para fomentar o turismo na região e, em 1974, venceu o V Festival de Cirandas, realizado no Pátio de São Pedro, na capital pernambucana.
Discos
Em 1977, lança o disco "Rainha da Ciranda", com composições de mestres como Baracho e Dona Duda, além de canções de Ozires Diniz e Fernando Borges – produtores do álbum –, Capiba (1904-1997) e da própria Lia, como o sucesso "Moça Namoradeira".
Após um hiato de trinta anos sem gravar, seu nome volta a receber atenção da mídia em 1998, quando participa do evento Abril Pro Rock, em Olinda, no ápice do manguebeat. Nessa época, estabelece uma parceria duradoura com o produtor Beto Hees.
De lá para cá, lançou os discos "Eu Sou Lia" (2000), "Ciranda de Ritmos" (2008) e"Ciranda sem Fim" (2019), produzido por DJ Dolores, que trouxe também gêneros do bolero e do brega.