João Pernambuco: iniciativas fazem justiça ao primeiro a escrever para violão solo no Brasil
No Dia do Músico, projeto audiovisual de Glaucia Nasser terá lançamento com primeira aparição de calunga do músico no Paço do Frevo
Certos nomes precisam ser constantemente relembrados para que a injustiça do esquecimento imposto pela historiografia ou pela falta de reconhecimento no Brasil seja corrigida. É o caso de João Pernambuco.
Filho do sertão pernambucano, João Teixeira Guimarães (1883–1947) tornou-se um dos mais importantes pioneiros do violão solo no país, explorando a riqueza das tradições populares e elevando-as a novos patamares.
Apesar de sua obra ter influenciado gerações de músicos, a trajetória do compositor de clássicos como "Luar do Sertão" e "Sons de Carrilhões" acabou sendo um tanto ofuscada pelo tempo e pela negligência.
Coração de Vilão
Hoje, iniciativas como o projeto audiovisual "João Pernambuco – Coração do Violão", idealizado por Glaucia Nasser, resgatam a grandeza de um artista que moldou as bases da música brasileira.
Neste Dia do Músico, em 22 de novembro, o Recife, cidade que acolheu João como ferreiro e o revelou como violonista, transforma-se em palco de celebração.
Em frente ao Paço do Frevo, no Bairro do Recife, o projeto audiovisual será lançado junto à primeira aparição da calunga de João Pernambuco, criada pelo mestre bonequeiro Camarão, será saudada pelo Bloco da Saudade e pela Orquestra do Maestro Oséas, em um Carnaval de rua dora de época.
A cantora Glaucia Nasser, idealizadora do projeto, apresentará um pocket-show acompanhada por Paulo Dafilin (violão), Cezzinha (sanfona) e Luidinho (sopro), enquanto trechos do espetáculo são exibidos em um telão.
Quem foi João Pernambuco
Migrante do atual município de Petrolância, no Sertão, João Pernambuco enfrentou as durezas do trabalho braçal e o preconceito reservado aos autodidatas. No entanto, encontrou na música um espaço de resistência e criação.
Ao se mudar para o Rio de Janeiro no início dos anos 1910, levou consigo as sonoridades típicas dos cantadores do Recife, marcadas pela improvisação.
Ele se destaca pela originalidade ao mesclar as influências do folclore nordestino com os elementos adquiridos nas rodas de chorões cariocas e nas festas populares do Rio, como o Carnaval e as festas da Penha.
Suas parcerias com Catulo da Paixão Cearense, embora marcadas por disputas sobre autoria, resultaram em obras fundamenais para a música brasileira.
Ao integrar grupos como o lendário Oito Batutas e ao se apresentar no Theatro Municipal de São Paulo, João levou as sonoridades nordestinas ao epicentro da cultura brasileira, provando que a simplicidade da viola sertaneja podia dialogar com a sofisticação da música de câmara.
Sua obra violonística, ao lado de outros grandes nomes como Ernesto Nazareth e Pixinguinha, tem um lugar importante na música popular brasileira, sendo um dos primeiros compositores a criar arranjos complexos para violão.
Projeto audiovisual
O projeto "João Pernambuco – Coração do Violão" expande essa narrativa ao trazer sua música de volta ao palco e às telas.
"É ir à raiz do Brasil e dizer a todos nós o tamanho da nossa grandeza"Glaucia Nasser
Gravado no Teatro de Santa Isabel e com estreia agendada no Theatro Municipal de São Paulo em abril de 2025, o espetáculo une música, teatro e documentário para reviver a figura do homem que, como diz Glaucia Nasser, nos conecta às raízes da brasilidade: "É ir à raiz do Brasil e dizer a todos nós o tamanho da nossa grandeza."
O resgate constante da obra de João Pernambuco importa para honrar os artistas que moldaram a identidade cultural do Brasil. Relembrá-lo é um ato de justiça e um convite a redescobrir a profundidade da nossa própria história musical.
"É ir à raiz do Brasil e dizer a todos nós o tamanho da nossa grandeza"
Glaucia Nasser