'Brega e pop são quase uma coisa só', diz Zaynara, precursora do beat melody; leia entrevista

Natural de Cametá, paraense de 23 anos é exemplo de como a relação Recife-Pará através da música brega perdura: 'Rossi também é ícone lá'

Publicado em 06/12/2024 às 19:41 | Atualizado em 07/12/2024 às 13:29
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A música do Pará vive um novo momento de alta e Zaynara, com apenas 23 anos, está na crista da onda ao lado de nomes como Viviane Batidão e Manu Batidão.

Natural de Cametá, no nordeste paraense, ela tem difundido um ritmo chamado de "beat melody", resultado de diversos hibridismos que trazem a música brega enquanto uma nova música pop brasileira.

Após ganhar o Prêmio Multishow de Artista Revelação, ela fará seu primeiro show no Recife, uma cidade que compartilha uma relação com o Pará justamente por meio do brega. Ela é atração do festival No Ar Coquetel Molotov, realizado no Campus da UFPE, neste sábado (7), com ingressos esgotados.

Conexão Recife-Pará

Zaynara, inclusive, é uma amostra de como essa relação Recife-Pará, muito forte na virada do milênio, continua existindo. Sua primeira vez na capital pernambucana foi em 2020 para uma gravação, que resultou em "Traz o Nosso Amor de Volta", um brega romântico pernambucano gravado em um estúdio no Jiquiá, Zona Oeste, com composição de Bispo Junior.

"Recife e o brega paraense têm uma relação natural. Reginaldo Rossi não é só um ícone daqui; ele é do Pará também. Meu pai cantava muito as músicas dele no karaokê", relembrou a artista, durante palestra no Coquetel Molotov Negócios, nesta sexta-feira (6).

Brega e pop

Nos anos 1990, o Pará viveu um fenômeno que ganhou o apelido de "brega pop", resultando em bandas como a Calypso, que fez carreira com escritório no Recife. Assim como naquela época, o interior do Pará e uma certa ideia de "global" se encontram na obra dessa jovem cantora.

JEFFERSON CARVALHO/DIVULGAÇÃO
Zaynara em Quem Manda em Mim, feat com Pabllo Vittar - JEFFERSON CARVALHO/DIVULGAÇÃO
GUILHERME TAKSHY/DIVULGAÇÃO
Zaynara no clipe de "Sou do Norte" - GUILHERME TAKSHY/DIVULGAÇÃO
GUILHERME TAKSHY/DIVULGAÇÃO
Zaynara no clipe de "Sou do Norte" - GUILHERME TAKSHY/DIVULGAÇÃO

"As bandas de brega do Pará sempre fizeram versões de músicas internacionais, assim como também ocorre no Recife, e acho que isso tenha sido uma grande influência para olhar o pop como um todo, um pop global", disse.

"Não consigo imaginar algo que eu faria melhor se não fosse brega. Ele ensina a gente a buscar nossas referências em lugares da nossa vida inteira: eu fui do axé até o brega-funk daqui dessa região. O brega e o pop são quase uma coisa só, sem dúvida", disse.

Afinal, o que é beat melody?

Para a artista, o beat melody é uma vertente que nasce do brega e tem "um molho de Cametá".

"Entre as principais diferenças que consigo perceber na nossa música, destaco a levada. Não temos um kit de bateria igual ao tecnomelody, mas também não é o mesmo kit de bateria do calypso", explicou, em entrevista concedida ao JC minutos antes da palestra.

"As guitarradas que usamos são nativas paraenses, do brega, do calypso, e trazemos elementos de percussão e sonoridade eletrônica. É uma fusão de tudo o que ouvi crescendo e vim me construindo enquanto artista."

Zaynara explica um pouco do por quê costuma ser referenciada como "precursora" dessa pegada: "Gosto do beat melody para chamar de meu porque eu posso experimentar como eu quiser nos sons. E é incrível”.

Ascensão

A paraense começou a sua carreira profissional na música aos 17 anos. Em 2022, lançou o seu primeiro álbum, com nove faixas, intitulado "É Beat Melody", que além do hit “Quem Manda em Mim", traz a bem-sucedida "A Destruidora”.

Em 2023, fez um comentado show no Festival Psica, realizado no Mangueirão e que teve repercussão nas redes sociais. No mês de março, passou a ser empresariada pela Fonttes Promoções, com comunicação da Mynd, grande agência de marketing de influência e entretenimento.

Em um curto espaço de tempo, vem acumulando parcerias com Pabllo Vittar e Joelma, ícone paraense, apresentações com Fafá de Belém no Círio de Nazaré e com Alok em experimento da COP 30, que será em Belém, além de show no Rock In Rio de 2024.


"Vivemos em um país culturalmente rico, imenso e diverso. Conseguir abranger todo o território com as referências regionais é um privilégio para qualquer artista, sem dúvida. Contudo, às vezes precisamos superar desafios além da regionalidade, como, por exemplo, o fato de eu ser uma mulher jovem do interior”, diz.

"Tenho conseguido vencer estereótipos por meio da minha música, além de contar com o apoio de uma equipe que confia muito em mim e com a força dos meus fãs, que me apoiam incondicionalmente. Espero que, assim como eu, tenhamos cada vez mais espaços para artistas do Norte e de outras regiões, fortalecendo esse grande intercâmbio cultural.”

Show

No show deste sábado (7), o público terá a chance de vivenciar um pouco de Cametá, um pouco de Belém, e até mesmo elementos desse global idealizado que dialoga, por que não, com o próprio Recife.

"A recepção daqui é muito parecida com a do Pará. Eu me sinto em casa. É uma região muito alegre, com população que ama música, dança, com uma cultura muito rica, fora as belezas naturais”, finaliza a cantora.

SERVIÇO
Festival No Ar Coquetel Molotov – 21ª Edição
Quando: Sábado (7), a partir das 15h
Onde: Campus da UFPE – Cidade Universitária – Recife/PE
Quanto: Ingressos esgotados

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