Guia quer impulsionar afroturismo ao resgatar cultura e história afrodescendente no Recife
Guia Recife Afro está disponível em formatos digital e impresso, destacando locais emblemáticos, incluindo roteiros de afroempreendedores
O Recife, que por muito tempo preocupou-se em vender-se como uma "Veneza Brasileira" (referência europeia), aos poucos, vem procurando dar mais visibilidades os lugares de memória e cultura negra.
Estudos recentes estimam que a capital pernambucana foi o quinto ou sexto porto que mais organizou viagens negreiras nas Américas. Por isso, esse percurso é amplo, cheio de histórias de dor, mas também de resistência e tradição.
Um novo passo nessa busca de visibilidade dessa herança com o Guia Recife Afro, disponível em formatos digital (no portal https://visit.recife.br) e impresso (distribuído nos Centros de Atendimento ao Turista do Recife, CATs).
Destaques
Entre os destaques está a Rua do Bom Jesus, no bairro do Recife Antigo, considerada uma das mais belas do mundo pela revista Arquiture Sigest. Ao recontar a história da via, pouco lembra-se que lá funcionou um mercado de de comércio de escravizados.
Outra inclusão significativa é o Pátio do Terço, no bairro de São José, um espaço historicamente ocupado por trabalhadores livres, pequenos comerciantes e populações pretas, e que abrigou personalidades marcantes, como Maria de Lourdes Silva, a Badia, ícone do Carnaval recifense.
Empreendedorismo
O guia também destaca locais emblemáticos como o Sítio de Pai Adão e o bairro de São José, berço do Carnaval, buscando também impulsionar negócios locais ligados à cultura afro, como oficinas de artesanato, restaurantes típicos e eventos culturais.
No projeto, existem roteiros comercializados e operacionalizados pela população negra, além de eventos, bares e restaurantes.
Educação
O Guia ainda pode ser uma ferramenta educativa no trabalho de escolas, educadores e o público em geral para compreender a importância da história afro-brasileira e combater o racismo estrutural.
No formato digital, o material oferece acessibilidade e interatividade, com recursos como mapas digitais e vídeos, enquanto a versão impressa atende aos que preferem um material físico, ampliando o alcance da iniciativa.
Afroturismo
Emanuele Rodrigues, guia de turismo regional e gestora de Turismo Criativo, comenta que o afroturismo tem sido uma tendência muito forte no setor, pois vai além do simples ato de viajar.
"Trata-se da promoção do pertencimento e resgate de conhecimentos ancestrais que foram apagados ao longo da história", diz.
"A criação de guias incentiva as pessoas a cuidarem dela e a repassarem esse aprendizado, criando uma rede de preservação e transmissão. É uma forma de conectar histórias, produzir conteúdos valiosos e fortalecer a identidade cultural de quem participa dessa experiência."
O Guia é uma iniciativa da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife, atualmente capitaneada por Antônio Coelho.
"Buscamos não só apresentar os principais pontos históricos e culturais ligados à herança afro-brasileira, como também oferecer uma oportunidade única para que moradores e visitantes possam se conectar com a rica história da população negra no Recife", diz o secretário.
Conheça alguns pontos de memória e cultura negra:
- Museu do Estado - foi construído a mando de Francisco de Oliveira, o Barão de Beberibe, um dos maiores traficantes de escravos do século 19
- Pátio do Carmo - Local da exposição dos restos mortais (incluindo cabeça) do maior herói da resistência negra: Zumbi dos Palmares. Hoje, existe uma escultura de Abelardo da Hora para homenageá-lo
- Mercado de São José - Frequentados por comerciantes, pessoas escravizadas e homens livres negros;
- Paço da Alfândega - Tinha forte presença de homens negros escravizados carregando caixas, barris, empurrando carroças, entre outras atividades;
- Pátio do Terço - reduto de terreiros e agremiações, sendo até hoje a casa do bloco de samba Saberé