Recife negligenciou a história de seu porto, mas está a caminho de corrigir esse erro
Porto do Recife vem trabalhando para abrir um museu na Praça da Comunidade Luso-Brasileira, resgatando iniciativa que existiu nos anos 1980

Recife nasceu e cresceu sob a influência do seu porto. Antes de ser a capital que conhecemos hoje, foi a Ribeira da Marinha dos Arrecifes e Porto dos Navios, refletindo essa origem marítima e comercial. Contudo, onde estão os marcos que homenageiam esse passado tão relevante?
Imagine turistas chegando ao Bairro do Recife, berço da cidade e do porto, encontrando um espaço que narre sua história, suas curiosidades? Seria uma oportunidade para utilizar desse potencial e reforçar os laços da cidade com sua própria origem.
Atualmente, a capital parece negligenciar esse passado, mesmo o Bairro do Recife se consolidando como um promissor polo turístico.
Museu do Porto do Recife
Esse descuido histórico, no entanto, está prestes a ser corrigido. Há anos, o Porto do Recife montou uma comissão com a finalidade de criar um museu bem na Praça da Comunidade Luso-Brasileira, localizada em frente ao Forte do Brum.
O projeto expográfico está pronto, inclusive, e reformas já foram realizadas. O que falta agora é execução desse projeto.
Retomada necessária
Um Museu do Porto do Recife, na verdade, já existiu na década de 1980. Ele foi provisoriamente instalado no primeiro andar o imóvel de número 32 da Rua Vital de Oliveira, onde atualmente fica a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O espaço abrigava mais de 200 peças, mas acabou fechado para reformas, e o acervo foi armazenado em um galpão. Por algum motivo, ele nunca foi reaberto. Décadas depois, muitas dessas peças desapareceram ou se deterioraram.
"Fizemos um levantamento com empregados antigos, mas conseguimos recuperar apenas uma pequena parte das peças. Ainda assim, temos alguns itens do antigo acervo", explica Denaldo Coelho, coordenador de engenharia do Porto.
Movimentações
Denaldo Coelho já presidiu uma comissão de criação do museu, que foi desfeita na atual gestão do diretor presidente Delmiro Gouveia para uma fase de reorganização financeira. No último biênio, a instituição assistiu a um crescimento de 50% em movimentação de cargas.
A iniciativa do museu continua viva, com expectativa de inauguração para este ano. "É um esforço conjunto, de vários presidentes e personagens. Plantamos ideias em gestões passadas e elas foram sendo aceitas. Nesta gestão, vamos concluir", diz Denaldo.
Para retomar esse museu, o Porto contou com ajuda de uma equipe do Museu da Cidade do Recife, localizado no Forte das Cinco Pontas. O projeto expográfico foi pago com verba do Porto e realizado pelo fotógrafo Josivan Rodrigues.
Em 2022, o então governador Paulo Câmara assinou uma Ordem de Serviço que autorizou a construção do museu, destinando também R$ 171 mil para requalificação do espaço e do entorno.
"A verba foi utilizada na reforma estrutural, envolvendo piso, forro, ar condicionado e rampa de acessibilidade. Desde a entrada do Porto até o museu, refizemos calçadas", diz Beatriz Jeronymo, assessora técnica da Coordenadoria de Projetos da Porto do Recife.
Acervo do Museu
O acervo para esse museu envolve antigas peças de escritório, ferramentas usadas na construção dos trilhos e plantas antigas do porto, da ilha do Recife e das reformas.
Como muitas peças do antigo museu sumiram, o novo museu do Porto vai focar em um acervo iconográfico, com diversas informações e dados da história da instituição.
Existem muitas fotos feitas por Francisco Du Bocage, que foi contratado pela empresa "Societé de Construction du Port de Pernambuco", responsável pelas reformas do Porto e do Bairro do Recife entre 1909 e 1926.
Ao final, estarão disponíveis informações sobre o Porto atualmente. "Também vamos tentar fazer uma exposição virtual, com um acervo virtual, para quem quiser pesquisar. Temos muitas imagens interessantes", diz Denaldo Coelho.
Breve história do Porto
O Porto do Recife como conhecemos hoje tem quase 107 anos de história, mas o ancoradouro do Recife já existia bem antes, quando a área abrigava uma vila de pescadores.
Ao longo dos séculos, essa área foi foi atacada por piratas ingleses, em 1595, e pelos holandeses, que administraram o Brasil Holândes a partir do Recife, entre 1630 e 1654.
Durante três séculos o Porto do Recife retratou o cotidiano público e privado da sociedade pernambucana em diferentes esferas, desde os mais ricos até os escravizados.
Apesar de tentativas de reforma desde o século 19, as obras de construção do atual porto do Recife só tiveram início em 1909, com inauguração em setembro de 1918.
Em 1985, um acidente com um navio que carregava gás liquefeito, próximo de um armazém de combustíveis, quase causou uma explosão que alcançaria um raio de 5 km na capital.
Neste mesmo período, o Porto de Suape passou a operar, ficando responsável por muitas cargas que antes eram do Recife - inclusive as inflamáveis.
Hoje, com a memória do passado e a visão no futuro, o Porto do Recife busca restabelecer o elo histórico entre a cidade e seu berço.