CONEXÕES

Periferia Invenção: a arte de vanguarda que se move ao centro das narrativas

O jornalista e pesquisador pernambucano GG Albuquerque atua como curador em mostra na capital paulista que pretende aprofundar o tema

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 09/03/2020 às 21:19 | Atualizado em 12/03/2020 às 19:06
JOSÉ DE HOLANDA/DIVULGAÇÃO
Para GG, as periferias brasileiras têm produzido um tipo de arte de vanguarda que não se limita às demarcações de gênero musical - FOTO: JOSÉ DE HOLANDA/DIVULGAÇÃO

As tradicionais listas sobre quais músicas ditaram o ritmo do Carnaval não deixam dúvida: a folia de Momo 2020 foi embalada majoritariamente por um brega-funk: Tudo Ok, cantada por Thiaguinho MT e Mila com a chancela do DJ e produtor JS Mão de Ouro. O pernambucano é um dos artistas presentes na programação da Periferia Invenção, mostra de música periférica que ocupa o Sesc Santo Amaro, em São Paulo, entre os dias 17 e 21 março. O evento conta com shows, oficinas, cursos e vivências que dão corpo à proposta de aprofundar o público nas questões estéticas e na invenção de procedimentos artísticos inovadores desenvolvidos continuamente pelos artistas das periferias brasileiras. A curadoria é do também pernambucano GG Albuquerque, jornalista e pesquisador ávido sobre o assunto.

“Meu interesse por música das periferias tem vários começos, mas o principal foi perceber como esse tipo de música era tratado tanto nos jornais e na televisão quanto nas coisas mais densas, achar que essa música mais popular e periférica era colocada sempre nesse mesmo lugar e nunca vista de modo mais profundo ou menos viciado”, analisa GG Albuquerque.

“Eu olho para o funk e para esses artistas todos do line up e os vejo como pessoas que estão produzindo um tipo de arte de vanguarda e que não se limita às demarcações de gênero musical. Elas são inscritas de uma subjetividade e criam novos procedimentos artísticos, além de reativar a energia primordial da arte que muitas vezes é represada por todo histórico dessa grande instituição que é a arte”, destrincha.

Mestre em Estéticas e Culturas da Imagem e do Som pela Universidade Federal de Pernambuco, GG conta que sua produção vai além do academicismo e do jornalismo propriamente dito, estando muito mais ligada à necessidade de compreender as entrelinhas do que é feito fora do meios de produção e políticas públicas hegemônicas.

“Estes são só métodos e ferramentas para se pensar e principalmente se perceber, sentir, experenciar e criar uma relação diferente com essa produção estigmatizada – e não só no sentido de ser vista com preconceito, mas de ser colocada numa determinada caixinha que limita o seu potencial. E isso acontece historicamente. Por exemplo, o samba dos anos 30, quase contemporâneo da Semana de Arte Moderna de 1922, surgiu de um salto inventivo enorme, só que nunca foi visto como vanguarda. Ou seja, a arte popular é colocada ou pela via do folclore, ou da tradição ou mesmo como uma coisa abjeta, que não é artística. Toda minha experiência e pesquisa me mostrou que essas músicas se associam também a referenciais, ideias e projetos artísticos que são inusitados. O festival nasce disso: proliferar conexões inauditas entre a produção das periferias nacionais e a vanguarda do cenário mundial”.

Além de JS Mão de Ouro, que participa da vivência “Como nasce um hit: tecnologia e criatividade na produção musical periférica”, Periferia Invenção recebe nomes como os de Riquelme Batera (CE), Jotaerre (BA) e Iasmin Turbininha (RJ), em atividades totalmente gratuitas. O show de encerramento, única com ingresso pago, será da MC Carol com sets de Iasmin Turbininha, A Travestis e Saskia.

“As pessoas (da imprensa) demoram a conhecer, conhecem muito pouco, desconhecem coisas que são da própria cidade. Mas existe uma nova geração de jornalistas mais desprovida de preconceito que está vendo e ouvindo essas coisas. Mas a grande questão além dessa é perceber pessoas e sua arte não só do ponto de vista do que é vilipendiado, mas como arte com potencial criativo vasto; entender os processos criativos e não só o valor social disso – porque embora arte seja uma prática social, ela extravasa isso e tem a ver com a liberdade imaginativa – e é isso que esses artistas inventores promovem”, encerra GG.

PROGRAMAÇÃO:

Como nasce um hit: tecnologia e criatividade na produção musical periférica

Vivência com JS, O Mão de Ouro (PE)

Mediação: GG Albuquerque

Dia 17/3, terça, das 15h às 17h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrições

Quando meu Riquelme toca: a bateria do forró eletrônico

Vivência com Riquelme Batera (CE)

Mediação: Igor Marques

Dia 18/3, quarta, das 11h às 14h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrição

Estéticas e Escutas Periféricas

Curso com GG Albuquerque

Dias 18 e 19/3, quarta e quinta, das 15h às 17h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrição

Da ostentação ao mandelão: uma história do funk paulista através de beats

Vivência com Mano DJ (SP)

Mediação: Jeferson Delgado

Dia 19/3, quinta, das 12h às 14h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrição

Do samba de roda ao pagodão baiano

Vivência com Jotaerre (BA)

Mediação Igor Marques

Dia 20/3, sexta, das 12h às 14h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrição

A arte do DJ: gravando um podcast de funk com Iasmin Turbininha

Com Iasmin Turbininha (RJ)

Mediação: GG Albuquerque

Dia 20/3, sexta, das 15h às 17h

Espaço das Artes

Grátis – Inscrição

Show: Jotaerre apresenta: “Choraviolla”

Dia 20, sexta, das 19h às 20h

Praça Coberta

Livre

Grátis

Novos Rumos da Música Eletrônica Popular

Bate papo com Iasmin Turbininha (RJ), Saskia e A Travestis (BA/PI)

Dia 21/3, sábado, das 14h às 16h

Espaço das artes

Grátis – Inscrição

Passinhos do Brasil

Oficina com Favelinha Dance (BH)

Dia 21/3, sábado, das 16h às 18h

Praça Coberta

Grátis

Show: MC Carol (RJ) + DJ sets Iasmin Turbininha (RJ) e A Travestis (PI/BA)

Dia 21/3, sábado, das 19h às 21h

Praça Coberta

18 anos

Ingresso – R$30,00 / R$15,00 / R$9,00

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