AUDIOVISUAL

Oliveira lança videoclipe em preto e branco para música 'Cidad', retrato de beleza e caos do Recife

Imagens expõem reflexos de muita identidade e chagas sociais da capital em pontos como a Avenida Dantas Barreto e os armazéns do Cais José Estelita

Nathália Pereira
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Nathália Pereira
Publicado em 05/09/2020 às 12:16 | Atualizado em 13/09/2020 às 10:03
PRISCILLA BUHR/DIVULGAÇÃO
CONSTRUÇÃO Editor da revista Outros Críticos, Carlos Gomes persegue projeto cada vez mais horizontal - FOTO: PRISCILLA BUHR/DIVULGAÇÃO

Chegou hoje (5/9) ao YouTube o videoclipe de Cidad, do recifense Oliveira. A faixa é integrante do álbum Canções não, produzido por Hugo Linns e lançado em 2019 sob o pseudônimo artístico do poeta, músico, pesquisador e editor da revista Outros Críticos Carlos Gomes.

O registro em preto e branco passeia durante quatro minutos e meio por imagens e sobras de imagem do interprograma Ruínas, da série É Por Aí, produzida pela Jacaré Video e exibida pela TV Pernambuco. Nelas aparece um Recife quase totalmente deserto.

O personagem protagonista de Cidad é a capital, impregnada por suas construções marcadas por muita identidade, abandono e reflexos de chagas sociais. Não por acaso, boa parte das poucas pessoas registradas são filmadas do alto, na dispersão de uma confusão generalizada após uma batalha de passinho no Bairro do Recife - no início do ano passado, muito se debateu sobre racismo, violência estrutural e perseguição à culturas periféricas a partir da reposta negativa (e agressiva) de vários setores da sociedade à expansão do bregafunk na cidade - ao fundo, sirenes de viaturas policiais.

A escolha por lances ora lentos e quase estáticos, ora acelerados e confusos, como a visão que se tem de dentro de um transporte, conduz para a tela a sensação de caos e beleza que tão bem conhece quem já andou pelas ruas, principalmente as do centro, do Recife. É possível reconhecer locais como o encontro entre a Avenida Dantas Barreto e a Travessa dos Martyrios, no bairro de Santo Antônio; ou os armazéns do Cais José Estelita, em São José.

Enquanto os quadros se sobrepõem, ouve-se Oliveira cantar, melancólico, o que parece ser resultado da mistura entre celebração e lamento pela complexidade exposta: "a cidade me encantou, amor / avenida me encantou, amor / o passeio me encantou, amor / o que cerca me encantou, amor", diz trecho da música. As imagens de Cidad foram captadas por João Lucas, com direção e montagem a cargo de Hugo Coutinho.

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Canções não

Além de disco, Canções não também inclui um livro homônimo, com o qual conversa em consonância. Ambos são criações de Carlos Gomes Oliveira, músico, poeta, pesquisador e editor da revista Outros Críticos. Em entrevista ao Jornal do Commercio, à época do lançamento das obras, Oliveira  falou sobre o fato de os textos e canções jogarem luz na cidade e nos corpos que a compõem, constroem e destroem, como uma urgência em cantar esses elementos nos tempos de hoje.

"A arte tem essa capacidade fabular de lidar com o tempo de modo muito elástico. O sentido do que é contemporâneo não pode ser definido por datas ou limitações estéticas de qualquer tipo. Mas diante de ataques sucessivos e muito bem direcionados de um presidente da república e o seu consequente governo de extrema-direita a pessoas que trabalham nas áreas da cultura, educação e pesquisa, para ficar apenas em três lugares por onde venho circulando mais diretamente, é claro que há uma vontade muito grande em devolver a estupidez dessa turma com criação e invenção, mas desejo que a ‘arte como arma de combate’ possa ainda ser contemporânea a ‘urgências’ que surgirão daqui a 50, 100 anos", explicou.

Assista ao clipe de Cidad:

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