Carlos Gomes estava interessado em pesquisar sobre as relações entre estética e política na música pernambucana, quando esbarrou, no mesmo período da submissão do projeto a editais, com o lançamento de alguns dos mais importantes discos da última década. A Mulher do Fim do Mundo (2015), da carioca Elza Soares, além de trabalhos assinados por Ava Rocha, também do Rio de Janeiro, Maria Beraldo, catarinense, e Negro Leo, nascido no Maranhão, entre eles.
Orientado ao longo de oito meses pelo pesquisador e curador de artes visuais Moacir dos Anjos, o editor da revista Outros Críticos entendeu que deveria ultrapassar a fronteira do Estado e ampliar as possibilidades de diálogo, por isso, o estudo Devir música e política: cartografias do contemporâneo deu origem a três principais questionamentos, enviados como proposta de troca e provocação, a onze artistas convidados.
"Não fazia muito sentido, já que a gente estava falando sobre estética e política, fixar o ponto em apenas um lugar. Uma vez ampliado o espaço dos artistas com quem a gente poderia trabalhar, passamos a nos reunir mensalmente, discutindo temas ligados ao assunto. Lemos (Jacques) Rancière, em estética e política; (Giorgio) Agamben, sobre o contemporâneo; outras coisas que eu trouxe da minha experiência do mestrado e do doutorado. A orientação de Moacir foi (de articular) um diálogo entre as leituras", detalha Carlos ao JC.
Aishá Lourenço, Gean Ramos Pankararu, Jonatas Onofre,Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Makely Ka, Maria Beraldo, Negro Leo, Paula Rebellato, Rodrigo Caçapa e Saskia, requisitados propositalmente por ainda não terem sido, até então, entrevistados tão diretamente pelo editor, devolveram respostas para perguntas amparadas por ganchos como “contemporâneo”, “tradição e invenção” e “processos de criação” - agora reveladas no livro O corpo em escuta: conversas sobre música-e-política, que Carlos lança hoje, às 20h, ao vivo no canal da Outros Críticos no YouTube. Moacir, Caçapa e Dinucci participam do evento, que terá tradução em Libras.
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Mais um estímulo ao pensamento do que uma entrevista - por escapar dos formatos, prazos e formalidades exigidos por esta dinâmica - a ideia de Carlos Gomes entregava uma "pergunta" mais semelhante a um ensaio, contendo mais de uma página de conteúdo, que seria maturada por cerca de 30 dias por cada destinatário.
“Passado esse mês, eu retornava e dizia: ‘E aí? Tá andando? Não tá? Quer conversar? Precisa de mais tempo? Acabou que o processo todo levou três meses”, detalha Gomes.
“Alguns dos músicos escreveram quatro, seis páginas. Outros responderam em um bloco, mas de forma muito intensa. Soube de artistas que entraram em contato com outros para conversar sobre aquelas questões, então foi uma coisa que não ficou só entre nós, foi levada para outros lugares, o que fez com que houvesse outro retorno. Foi uma experiência muito rica”, explica ele sobre a proposta que destrincha na apresentação do livro:
“Do mesmo modo que a criação artística pode estabelecer um ambiente de invenção para existir, espero conseguir que a crítica também - apesar das diferenças mais óbvias - possa ser contaminada por esse desejo de invenção”.
PARA LER:
O livro com capa e projeto gráfico de Fernanda Maia e fotografias por Camila Van Der Linden chega em formato digital e fica disponível a partir de hoje para acesso gratuito em outroscriticos.com e carlosgomes.art.br.
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