Morre Guitinho da Xambá, vocalista do grupo Bongar
Músico estava internado após ter sofrido um acidente vascular cerebral hemorrágico
Faleceu, na noite desta quarta-feira (17), Guitinho da Xambá, vocalista e um dos fundadores do Grupo Bongar. O músico tinha 38 anos e estava internado na UTI do Hospital Esperança desde o último dia 10 de fevereiro, quando sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).
O AVC aconteceu enquanto Guitinho passava por exames preparatórios para uma cirurgia ligada à Síndrome de Cushing, descoberta em dezembro, e que vinha causando problemas de saúde, como a oscilação da glicose e inchaços pelo corpo, há cerca de cinco anos.
"O quadro dele evoluiu para um AVC hemorrágico e de grande proporção. Foi uma hemorragia grande, os médicos fizeram cirurgia de urgência, estancaram, mas o cérebro inchou muito, ficou bastante danificado", explica Marileide Alves, esposa do músico, produtora e assessora do Bongar.
Marileide conta que Guitinho entrou em coma logo após o procedimento cirúrgico. A equipe médica aguardava a recuperação do artista mas, na noite de ontem, informou à família sobre a possibilidade de morte cerebral. O falecimento de Guitinho da Xambá foi confirmado no início da noite de hoje.
Durante a internação, o Grupo Bongar usou as redes sociais para atualizar o público sobre a saúde do músico e também para pedir doações de sangue, quando o caso se agravou.
DESPEDIDA
Guitinho será sepultado no Cemitério de Beberibe, em Olinda, como era seu desejo. "Ele queria estar junto das pessoas da Xambá que já faleceram e estão enterradas lá", diz Marileide. O velório está previsto para acontecer amanhã (18), a princípio, no Centro Cultural Grupo Bongar - Nação Xambá, como também queria o artista.
VIDA NO BONGAR
A história de Cleyton José da Silva, nome de registro de Guitinho, é também a do Bongar, grupo que ajudou a criar ainda adolescente, há 20 anos. Junto a ele estavam outros cinco ogãs do Terreiro da Xambá, do Quilombo do Portão do Gelo, em Olinda.
Com a vontade de preservar e difundir a cultura do Coco da Xambá, festa realizada há mais de 40 anos, nos dias 29 de junho, o Bongar se tornou um dos grupos mais importantes na perpetuação da cultura popular e religiosa de matriz africana de Pernambuco.
Trabalhos de formação, entre eles aulas e oficinas, também são realizados, principalmente no Centro Cultural Grupo Bongar - Nação Xambá, aberto em 2016.
A trajetória do desenvolvimento do grupo foi contada no documentário Festa de Terreiro (ver abaixo), gravado em junho de 2012. Nele, integrantes, familiares e demais membros da Nação Xambá compartilham memórias sobre a atuação do Bongar junto à comunidade e detalhes sobre a formação artística do grupo desde sua gênese, no contato com o Terreiro Xambá e com a Festa do Coco de Mãe Biu.
O filme se encerra com uma fala de Guitinho, que sintetiza bem a ligação do artista e do Bongar com a Nação Xambá:
"Só nos manteremos vivos e continuaremos Nação, enquanto alimentarmos e compreendermos a extensão física e espiritual de nós mesmos, como a de um Baobá ancestral, e mantermos vivas as memórias e práticas dos nossos avós, enraizadas e ressignificadas no cotidiano dos mais jovens, raízes mais profundas da comunidade de um povo".