COBERTURA

Chico César e Geraldo Azevedo cantam contra fascistas em show de estreia no Recife

Músicos reabriram a programação do Teatro Guararapes com a turnê 'Violivoz', adiada em 2020 por causa da pandemia

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Nathália Pereira

Publicado em 30/10/2021 às 20:14 | Atualizado em 30/10/2021 às 23:41
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Foi de arrepiar a entrada de Chico César e Geraldo Azevedo no palco do agora oficialmente reaberto Teatro Guararapes, na noite da última sexta-feira (29). Bastaram os primeiros passos em direção aos microfones para que a plateia em peso os aplaudisse de pé por bons minutos. Pudera. A ocasião trouxe consigo pelo menos três grandes marcos, já que além da grandeza dos dois nomes, houve o fato de Recife ter sido escolhida para sediar a estreia da adiada turnê Violivoz, em que os gigantes da música nacional derramam-se no fazer arte lado a lado, e de este ter sido o primeiro show realizado na casa desde o início da pandemia.

E houve tempo para um pouco de tudo ao longo de quase duas horas de espetáculo, com acompanhamento ladeado apenas pelo revezamento de violões. A começar por Chico César puxando uma sequência de Caicó (Cantiga), de Heitor Villa-lobos, e Taxi Lunar. Dia Branco, Deus Me Proteja - cuja popularidade ganhou novos ares ao ser cantada repetidas vezes pela vencedora do BBB21, Juliette Freire, durante o programa - e Mama África também apareceram na lista dos grandes sucessos.

Aqui vale a observação de que a plateia pareceu seguir em um transe emotivo, o que se materializou na pouquíssima quantidade de celulares para o alto, a registrar fotos e vídeos. Deixou a impressão de ter havido um consenso inconsciente de que gravar cada instante da noite valeria mais se feito somente na memória humana.

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AMIGOS

Nas poltronas estavam admiradores, parceiros e amigos, a exemplo de Alceu Valença, Silvério Pessoa e Flaira Ferro. A geração dos mais jovens da música pernambucana, aliás, foi saudada por Chico, ao citar a mostra Reverbo, projeto que reúne nomes representativos do que se faz por aqui além da capital. Por lá, estiveram também PC Silva e Martins, como um reencontro bonito e significativo para essa nova fase de retomada da cultura. À vontade, Chico César brincou enquanto Geraldo e ele tentavam afinar os violões: ''se o cara não afina pelo menos uma vez, não é um show de MPB, né?''.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Chico César e Geraldo Azevedo apresentam Violivoz no Recife no Teatro Guararapes - FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

FASCISTAS

A metade da apresentação foi reservada para composições de tom mais explicitamente político, como as mais recentes Pedrada, do álbum O Amor é Um Ato Revolucionário, 2019 [''Cães danados do fascismo / Babam e arreganham os dentes''], e Reis do Agronegócio, gravada em Estado de Poesia (2015), ambas de Chico, que nesta última entoou um grito de ''abaixo ao capitalismo!''. ''Terminamos virando parceiros'', relembrou Geraldo Azevedo sobre a gênese de Violivoz, fruto direto da admiração mútua entre eles

BIS

O sempre aguardado bis ficou por conta de Dona da Minha Cabeça. Antes, Geraldo Azevedo fez uma auto releitura de Cadê Meu Carnaval, trocando a sentença que declara a morte do festejo de Momo por mais um anseio de volta à tradicional riqueza cultural brasileira: ''Carnaval está chegando / Cadê Meu Carnaval?'', puxou acapella.

PROTOCOLOS

O Teatro Guararapes esteve lotado na noite da grande reestreia, reunindo de experientes cabelos brancos a rostos bem jovens. Todos seguindo a orientação do uso de máscaras, apesar da proximidade entre as cadeiras, praticamente todas ocupadas. No acesso à área interna, houve medição de temperatura na altura do pulso. Não foi pedida apresentação de comprovante de vacinação. 

 

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