EXU DO BLUES

Baco Exu do Blues quer saber 'Quantas Vezes Você Já Foi Amado?' e expõe vulnerabilidades em novo álbum

O disco entrou no top mundial dos 10 maiores lançamentos da semana do Spotify, no fim de janeiro, ocupando a posição de 5º mais ouvido do planeta.

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Gustavo Henrique

Publicado em 22/02/2022 às 21:04 | Atualizado em 07/11/2023 às 15:28
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Assim que foi lançado nas plataformas digitais, o novo álbum de Baco Exu do Blues, "Quantas Vezes Você Já Foi Amado?", causou impacto. O disco entrou no top mundial dos 10 maiores lançamentos da semana do Spotify, no fim de janeiro, ocupando a posição de 5º mais ouvido do planeta. A reportagem avaliou o novo trabalho do rapper, que é referência nacional.

Dividida em 12 faixas, a obra tem participações especiais de Gloria Groove e Muse Maya, além de utilizar samples de Gal Costa e Vinícius de Moraes. Em sua maioria, os versos soam como reflexões de lutas pessoais do próprio artista. QVVJFA? explora as vulnerabilidades humanas: há melancolia, crises existenciais e conflitos internos. É estabelecida uma ligação entre o território íntimo do baiano com o do próprio ouvinte.

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Com rimas quase que faladas, "Sinto Tanta Raiva" introduz o disco e coloca em xeque temas que serão tratados no LP: autoestima, dores, angústias, medos, racismo e, claro, o amor. Vale ressaltar também as referências à umbanda e ao candomblé, que ficam evidentes, por exemplo, na canção "Dois Amores", que faz releitura do ponto de pombagira"Dói, Dói, Dói, Dói, Dói".

Diferente de "Bluesman" (2018), onde o rapper retrata o orgulho de ser negro em um país racista de forma provocativa, QVVJFA? diverge da agressividade e desemboca na emoção. "Eu só tô tentando achar a autoestima que roubaram de mim (...) Sempre tive o mesmo rosto/ A moda que mudou de gosto/ E agora querem que eu entenda/ Seu afeto repentino", reflete Baco, lentamente, em "Autoestima", tocando em questões próprias do povo preto, mas que têm origem no racismo estrutural.

O lírico romântico ganha espaço na faixa 6, "Samba in Paris", que traz um diálogo incisivo entre Baco e Gloria Groove. Ambos versam apaixonados, por mais de quatro minutos, mesclando português e francês.

Com um arranjo envolvente, "20 Ligações" foi a faixa mais ouvida até o momento no Spotify. Nela, a voz de Exu do Blues consegue ser firme e, ao mesmo tempo, reflexiva, ao questionar um amor do passado que agora não faz mais sentido.

Os samples de Gal e Vinícius garantem pluralidade ao álbum. Em "Lágrimas", o baiano externa a dificuldade de confiar e amar, com base em suas vivências. A cantora entra com fragmentos de "Lágrimas Negras" (1974), música de Jorge Mautner, gravada por ela nos anos 1970, gerando boa sincronia. "O perigo mora em minha memória/ Cássia, eu sou poeta, mas não aprendi a amar", pondera o cantor na mesma faixa, deixando em evidência a falta de amor e afeto por si próprio e a desconfiança nas relações, como marcas que se arrastam por uma vida.

"Onde sua religião estava na escravidão?", questiona o rapper, em "Imortais e Fatais 2", direto e claro na mensagem que quer passar. Após breve interlúdio, a tensão é quebrada (sem que haja total desconexão) por Vinícius de Moraes, ao entrar com trechos de "Tempo de Amor", gravada em 1966 pelo Poetinha com Baden Powell.

"QVVJFA?" é um trabalho que soa mais harmônico que os anteriores; conduz o ouvinte da primeira à última faixa sem desconexão. A impressão é de que há um Baco ainda mais humanizado, no sentido de expor suas fragilidades e dores, ao fazer questão de contar mais sobre a sua própria história. Ao final, tudo é sobre amor - ou sobre a falta dele.

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