Gal Costa traz ao Recife "um show sobre a voz", com hits para emocionar a plateia; leia entrevista
Cantora apresenta neste sábado (19) o show "As Várias Pontas de uma Estrela" no Teatro Guararapes
Quando der as 21h deste sábado (19), Gal Costa vai entrar em cena no palco do Teatro Guararapes cantando a cappella uns versos de "Ponta de Areia". O público — pelos ouvidos, olhos e sentimentos — poderá então se reconectar a uma das vozes mais singulares deste País. (E, quem sabe, também sentirá aquela noite apontando para a retomada de um tempo em que ver e ouvir grandes intérpretes e músicos ao vivo, com o charme da noite e a mise en scène do bis, era rotineiro.)
A volta de Gal à cena é envolta pelo brilho do show "As Várias Pontas de uma Estrela", nome emprestado de uma composição de dois grandes criadores da música brasileira, Caetano Veloso e Milton Nascimento. Milton, pelo menos em forma de música, está na turnê de Gal para muito além do título — canções dele já gravadas por ela costuram o repertório, alinhavando algumas faixas "lado b" da discografia da cantora e uns bons hits lançados por ela nos anos 80. Para todo mundo cantar, reconectando-se pela voz. "Esse é um show sobre a voz", escreveu Gal Costa na entrevista que nos concedeu por e-mail, e que segue abaixo.
No palco, Gal Costa estará acompanhada pelos músicos Fábio Sá (baixo elétrico e acústico), André Lima (teclados) e Victor Cabral (bateria e percussão). Ainda há ingresso à venda, que custa R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia-entrada), na bilheteria do teatro ou no site Ingresso Digital. A propósito, associados ao JC Clube têm 50% de desconto.
Gal, essa turnê marca seus 56 anos de carreira e, pelo repertório, a comemoração se dá rememorando canções, a maioria delas grandes obras suas, eternizadas pela sua interpretação. E, ao mesmo tempo em que olha para esse seu próprio rastro de luz, você faz a gentileza de dividir o brilho da turnê com Milton Nascimento e várias pontas da obra dele. Como apareceu a vontade de fazer esse show?
Esse é um show sobre a voz. E muita coisa foi pensada para criar o repertório. Estamos falando de Milton, que tem uma voz deslumbrante, mas também estamos falando da minha voz. Além disso, tem a voz do Brasil, do público que canta comigo os hits que gravei nos anos 80 e que são apresentados mais para o fim do show. Além das músicas de Milton Nascimento que eu já gravei na minha carreira, o roteiro inclui também composições de Tom Jobim, Chico Buarque, Caetano e Caymmi. A ideia é conectar as músicas do repertório de Milton com a minha obra.
Que lugar ocupa Milton Nascimento na música de Gal Costa, a ouvinte e a cantora?
A obra de Milton Nascimento é linda, maravilhosa, me emociona demais e ele é um cantor espetacular. Gosto de Milton tanto como cantor quanto compositor. Ele é um gênio e suas músicas me emocionam demais desde o tempo dos festivais, nos anos 60. Acho que a emoção é o maior dos sentimentos que a música dele provoca nas pessoas. Suas letras, suas melodias, impossível destacar só uma coisa.
Quando você mexe no seu baú, rola saudosismo do que viveu, das músicas feitas nas décadas passadas, ou você é uma pessoa inteiramente com os pés no agora
Eu sou uma cantora que gosta de ousar, de mudar, criar novos caminhos e dar saltos dentro da minha carreira gravando coisas novas. Mas também gosto de revisitar músicas que me marcaram e marcaram meu público. Meus shows são sempre uma mistura disso, e eu gosto de ver a emoção da plateia.
Li que você comentou, ao cantar "Um Dia de Domingo", que, quando gravou essa música, escutou certa patrulha incomodada por ela ser de Michael Sullivan e Paulo Massadas. Há poucos anos, você gravou com Marília Mendonça, uma artista de um círculo musical diferente do seu, e que infelizmente partiu tão precocemente. Me parece que o público agora reagiu ao contrário daquele dos anos 1980, acolhendo a música e a parceria. Como foi a recepção desse trabalho?
A recepção tem sido incrível e a energia do público também tem sido maravilhosa. Algumas pessoas podem não gostar da mudança, como aconteceu quando eu lancei "Cantar" [disco lançado em 1974], que foi uma ruptura, mas isso acontece ao longo da carreira às vezes. Hoje soa tudo mais tranquilo.
"Brasil", de Cazuza, é a música que encerra o show. A sensação de atualidade dela faz parecer que a gente não sai do lugar. O que Gal Costa, cidadã brasileira e artista, quer dizer com essa canção hoje?
A música é sempre uma inspiração e Brasil é realmente atemporal. A arte é uma coisa importante demais, é a identidade de um povo. É fundamental. E o atual governo ataca e quer banalizar a arte. Eu tenho esperança de que dias melhores virão em breve, a esperança move a humanidade.
"As Várias Pontas de uma Estrela" começa com o show e depois vai virar álbum. Já sabe o que vai gravar e quando será lançado?
Ainda não sei como será, mas já estamos vendo tudo e em breve espero ter novidades.
A pandemia marcou, e continua marcando, a gente de várias maneiras. Como foi esse período pra você, que vinha mergulhada em trabalhos, no contato com outros artistas e com o público?
Durante a pandemia, gravei o álbum "Nenhuma Dor" [com regravações em duetos com cantores] e foi um momento de alívio poder ir ao estúdio. Normalmente, eu sou muito caseira. Claro que não me isolo e não me afasto das pessoas, mas o momento exigiu o isolamento e foi difícil para mim, como foi para todo mundo. Fiquei em casa, não saí pra nada. Senti muita falta da energia do público e de estar no palco e estou muito feliz em poder voltar, vacinada, protegida e com muita vontade de cantar.
É estranho subir ao palco e reencontrar a plateia ainda de máscara?
Acho que aconteceu uma mudança de pensamento com muitas pessoas durante esse período e que se estende para esse momento. Ainda é necessário que a gente tenha alguns cuidados e acho ótimo que o público entenda isso.
Há um filme sendo produzido sobre a sua vida e obra, "Meu Nome É Gal". Tem acompanhado o projeto? Chegou a trocar ideia com as diretoras e com Sophie Charlotte, que vai lhe interpretar?
Não tenho uma ligação direta com a produção do filme. Embora eu conheça a Dandara [Ferreira, diretora do longa junto com Lô Politi] e ela tenha me mostrado antes toda a ideia, eu não sei os detalhes. Mas confio demais no trabalho dela e das pessoas que estão ao lado dela. Acho que vai ser lindo e estou muito feliz e lisonjeada com essa homenagem.