SEM ADEUS

Na turnê de despedida de Milton Nascimento, o Recife (e todo o Nordeste) não consta no roteiro

Cantor e compositor anunciou "A Última Sessão de Música" com shows no Rio de Janeiro, em São Paulo, Belo Horizonte e cidades da Europa e dos Estados Unidos

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Romero Rafael

Publicado em 20/05/2022 às 14:26 | Atualizado em 16/06/2022 às 20:52
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Não é justo (e eu amo Milton Nascimento) que a turnê de despedida dele dos palcos não chegue ao Recife, nem sequer na vizinhança. Não é justo (e eu tentei entender) que ele vá a Torino, Londres, Lisboa, Castelo Branco, Porto, Braga, Veneza, na Europa. (respirei) E a Fort Lauderdale, Nova York, Boston e Berkeley, nos Estados Unidos, e não chegue ao Recife, nem sequer na vizinhança.

Não é justo (e eu viajaria para vê-lo, se pudesse ou se ganhasse o sorteio no Instagram) que a turnê já tenha triplicado a quantidade de apresentações em São Paulo (de duas para seis) e também aberto uma terceira noite no Rio de Janeiro, e não chegue ao Recife, nem sequer na vizinhança.

Também não sei se é justo ter de se despedir de Milton no Mineirão, onde será o show em BH — o estádio tem capacidade total para 62 mil pessoas (embora o espaço não seja todo usado, insira aqui o emoji de olhos arregalados). Ou na Jeunesse Arena, no Rio, para até 18 mil pessoas. O Espaço Unimed, ex-das Américas, em SP, vá lá: cabem no máximo oito mil.

Mas, sim, despedida é despedida, não importa o lugar. Porém, sim, importaria demais "A Última Sessão de Música" de Milton no Teatro Guararapes. Foi lá onde ele cantou por aqui pela última vez (e, ao que estão nos levando a acreditar, pela última-última vez). Era fim de agosto de 2019. Quem o trouxe naquela vez não tem nada a dizer sobre show dele aqui agora ou breve. Mas a mensagem no WhatsApp trazia o advérbio de tempo "ainda" quando empregado no sentido de dar ou ter esperança. Ai, ai.

O Teatro Guararapes dá lugar a cerca de 2,3 mil pessoas. Parece pequeno para a dimensão da turnê, cuja venda de ingressos se vestiu com o frisson de quando é show de artista internacional (embora, sim, Milton seja internacional). O fato é que logo depois da abertura da bilheteria, formaram-se filas virtuais que chegaram a mais de 18 mil pessoas — e quando chegasse sua vez, teria apenas 10 minutos para finalizar. Os ingressos disponibilizados, 35 mil, acabaram em duas horas; shows esgotaram-se. Um dia depois, no entanto, saiu um lote extra para o Mineirão, que é grandão.

Não está sendo fácil pra gente daqui se despedir de Milton. Haja provas a dar — como se já não chorássemos ouvindo "Um Gosto de Sol", "Tudo que Você Podia Ser", "A Lua Girou", "Para eu Parar de me Doer"...

Rumino tudo isso, embora eu ame Milton, embora eu tente entender a ausência, embora eu fosse capaz de ir, se desse.

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