FESTIVAL DE MÚSICA

Coquetel Molotov volta para a UFPE

Edição de novembro vai acontecer na Concha Acústica Paulo Feire e numa nova área do campus Recife

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Romero Rafael

Publicado em 22/06/2022 às 14:34 | Atualizado em 22/06/2022 às 18:15
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Como nos seus primórdios, o festival No Ar Coquetel Molotov ocupará o campus Recife da UFPE, dia 19 de novembro. A 19ª edição terá 12 horas de programação e já anunciou a primeira atração, a rapper Flora Matos. Ana Garcia, uma das idealizadoras e atual diretora do festival, refletindo sobre esse tempo de desconexões e reconexões, conta que a volta "faz todo sentido". Ela mesma voltou a morar com a mãe, a pianista Ana Lúcia Altino, após a morte do pai, o maestro Rafael Garcia. "É o ano das voltas, achei super significativo."

O Coquetel Molotov fez edições no Teatro da UFPE de 2004 a 2013 (exceto em 2009, quando se transferiu para o Teatro Guararapes e recebeu Milton Nascimento). Shows ali tornaram-se memoráveis, como o de Racionais MC's. O retorno agora é para o espaço do campus da Universidade Federal de Pernambuco, mas não precisamente para o teatro onde fez história, que segue fechado para reforma. Desta vez, a Concha Acústica Paulo Freire, reinaugurada em agosto do ano passado, e um estacionamento novo são os espaços que vão acomodar o público e três palcos (incluindo um de música eletrônica, com curadoria de Idlibra).

"A volta vai ser de uma forma diferente, agora ocupando a Concha, que nunca tínhamos ocupado, e a área externa. Mas não deixa de ser um retorno a uma área já conhecida do nosso público, tem uma conexão."

De toda forma, ainda que volte às origens, o Coquetel Molotov continuará cumprindo aquilo que Ana Garcia tomou como uma das propostas do festival de música: "A gente começou a entender que o Coquetel funciona também como um festival que explora lugares inusitados da cidade". Por exemplo: a Coudelaria Souza Leão, na Várzea, para onde se mudou depois do Teatro da UFPE, e onde ficou de 2014 a 2017, é um haras reversível em recepção para casamentos da alta sociedade.

O Caxangá Golf & Country Club, na Iputinga, local do Coquetel Molotov em 2018 e 2019, também sempre foi um local restrito aos sócios e às práticas esportivas de hipismo, golfe e tiro. "A maioria do público nunca tinha ido ao Caxangá. Eu mesma não conhecia. Mas na última edição lá eu já 'tava' pensando se deveria ir pra outro local."

Em 2020, com a pandemia se impondo, o Coquetel Molotov existiu só digitalmente, e em 2021 optou pela estrutura do Teatro Guararapes para dar conta dos protocolos do Governo do Estado no Plano de Convivência com a Covid-19.

Os novos desafios de um festival independente

Os dois anos de isolamento social deixaram o público reprimido, os artistas represados e os produtores de festivais ouriçados. Esse movimento eufórico é desafiado por uma inflação que salta e destrói o poder aquisitivo da gente, que precisa escolher onde gastar o pouco dinheiro. Em paralelo, os cachês estão altos e proliferam-se pelo País os festivais, inclusive porque o modelo parece compensar a falta de shows e de contato com muitas pessoas durante o período mais duro da pandemia.

"A passagem aérea de hoje, comparada com 2019, está quase três vezes mais cara", comenta Ana Garcia, sobre a subida no custo de produção. As agendas dos artistas estão lotadas, porque há nesse movimento eufórico uma corrida por garantir atrações. Nisso, os line-ups se repetem.

No caso dos festivais independentes, como é o Coquetel Molotov, há mais uma questão: são eles que abrem espaço para novas bandas e artistas. "Então, não pode ter aquele line-up que vai garantir a venda de ingressos. Ele vai garantir a novidade, e isso traz outros riscos". Duda Beat, Baiana System e Boogarins, por exemplo, se apresentaram no festival recifense bem antes do sucesso que fazem agora.

"Um tipo de festival apresenta a cena e o outro ganha a grana. Eu quero ganhar a grana também, mas toda vez em que eu me pego discutindo com a equipe se 'esse ano a gente vai colocar o artista tal', penso que não foi pra isso que criei o Coquetel".

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