Conjuntura

PIB de Pernambuco cresceu 1,9% em 2019, mas desafio é fazer essa dinâmica econômica se reverter em emprego

Economia do Estado cresceu acima do Brasil, mas taxa de desemprego e de informalidade são altas

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 12/03/2020 às 20:35 | Atualizado em 12/03/2020 às 20:50
SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM
AUTOMÓVEIS Em Pernambuco, a Jeep instalou uma planta em Goiana, fez parceria com o Porto Digital e planeja investir R$ 7,5 bilhões até 2025 - FOTO: SÉRGIO BERNARDO/ACERVO JC IMAGEM

As grandes indústrias instaladas no Estado e uma constante recuperação da agropecuária contribuíram para que o Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco registrasse crescimento de 1,9% em 2019. O desempenho ficou acima do "pibinho" nacional (1,1%), mas um pouco abaixo da taxa projetada pela Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco (Condepe/Fidem) para o ano, que era de 2,1%.

Diante de um cenário de lenta recuperação no País, de um ambiente local de baixa capacidade de investimento do governo e com uma de suas maiores indústrias (o Estaleiro Atlântico Sul) em recuperação judicial, o resultado moderado é considerado positivo. O desafio do governo é fazer com que esse dinamismo também chegue ao mercado de trabalho. É verdade que durante sete trimestres consecutivos a taxa de desemprego do Estado foi arrefecendo, mas ela ainda é alta (15,5% em 2019) e o índice de informalidade é superior ao do Brasil. Enquanto no País 41,1% da população ocupada está nessa condição, em Pernambuco a situação é mais crítica. O índice de informalidade bateu recorde e está em 48,8%, de acordo com o último dado divulgado pelo IBGE.

O desempenho do PIB pernambucano em 2019 foi ajudado pelo quarto trimestre que cresceu 2,9%, enquanto nos trimestre anteriores as taxas foram de 0,9%, 2,3% e 1,5%. Na dinâmica econômica local, o setor de serviços participa com 75,3% do PIB, a indústria geral com 20,9% e a agropecuária com 3,9%. Apesar da importância dos serviços, o setor apresentou em crescimento de apenas 1% no ano passado. A economia foi puxada pela agropecuária (12,7%) e pela indústria (3,4%).

Dentro da indústria de transformação, a importância de setores recentes na matriz econômica aparece, como o Polo Automotivo Jeep no município de Goiana e a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) em Ipojuca. Os veículos automotores apresentaram crescimento de 21,1% no acumulado, figurando como a maior variação positiva. Em seguida aparecem os derivados de petróleo e biocombustíveis da Rnest, com expansão de 12,7%. Dos setores tradicionais no nosso parque industrial aparecem produtos de limpeza, cosméticos, perfumaria e higiene pessoal (10,8%); bebidas (9,2%), químicos (6,1%) e outros.

Do lado das contribuições negativas, como já era de se esperar, aparece o Polo Naval no topo com queda de 61,9%. Em agosto do ano passado, o Estaleiro Atlântico Sul (considerado o maior e mais moderno do Hemisfério Sul) encerrou suas atividades no Estado e dispensou quase todo o seu quadro de funcionários, ficando apenas com 30 pessoas. Com uma dívida de R$ 1,38 bilhão, no final de janeiro, o Grupo EAS entrou com pedido de recuperação judicial e teve a solicitação aprovada.

Relacionado à construção naval, o segmento de metalurgia também apresentou queda (8,2%). “Além desses, o segmento de produtos alimentícios também apresentou queda (3,5%), mas nesse caso teve influência da indústria sucroalcooleira, que destinou mais cana para produzir álcool ao invés de açúcar”, explica o economista Rodolfo Guimarães da Condepe/Fidem.

A construção civil, que vem enfrentando uma crise dupla graças a diminuição das grandes obras de infraestrutura no Estado e da recessão no País, manteve sua posição de estagnação com uma reação anêmica de 0,5% no ano passado. No último trimestre de 2019 o crescimento foi zerado.

Na agropecuária, após anos consecutivos de seca, a atividade vem apresentando recuperação gradativa. Mesmo com menor participação no PIB, o crescimento expressivo de 12,7% contribuiu para animar o resultado do PIB. As lavouras temporárias avançaram 10,4%, graças a cultura como cana-de-açúcar, milho, mandioca, melão, melancia e batata doce. As lavouras permanentes tiveram um desempenho ainda melhor (22%), incluindo nessa conta laranja, banana, manga, uva, maracujá, coco da baía, goiaba e castanha de caju. A produção pecuária também foi positiva no ano, com aumento de 5,5% e destaque para ovos, suinocultura, bovinos e leite. Na atividade, a única queda foi para o segmento de aves.

Principal motor da economia estadual, o setor de serviços cresceu apenas 1% no ano, refletindo a demora na retomada do crescimento do consumo das famílias. O comércio varejista avançou 2,3%, estimulado por eletrodomésticos (9,3%), veículos e motocicletas (9,1%) e outros. Já os resultados negativos vieram de material de construção (-2,0%), móveis (-8,2%), informática e comunicação (-12,4%). As atividades turísticas praticamente empataram em relação ao ano anterior (0,9%) e foram influenciadas pelo derramamento de óleo nas praias sobretudo do Nordeste.

PROJEÇÕES

Com o resultado abaixo das expectativas para o PIB nacional em 2019 e as constantes revisões das expectativas para 2020, em função dos impactos econômicos do coronavírus e as incertezas políticas, a Condepe/Fidem que costuma projetar o PIB pernambucano preferiu uma postura de cautela. “É muito cedo para fazer qualquer estimativa porque está tudo muito incerto. Vamos aguardar como o primeiro trimestre vai se comportar antes de fazer uma projeção”, observa o Diretor de Estudos, Pesquisas e Estatística da Condepe/Fidem, Maurílio Lima.

Na avaliação da presidente da Condepe/Fidem, Sheila Pincovsky, o resultado do PIB foi significativo para o Estado. “Um crescimento de 1,9% não e o PIB dos sonhos, mas é um resultado bom, melhor do que a média do País e segue um ritmo constante, em cima de uma base constante. Para a atual conjuntura é positivo. Nosso desafio é como conciliar esse crescimento econômico com mais geração de emprego. Por isso é preciso continuar investindo em educação e qualificação profissional, que são requisitos para indústrias modernas e mais intensivas em capital”, diz.

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