COVID-19

Veja o drama de comerciantes e microempreendedores de um Recife deserto por causa do coronavírus

Nesta sexta o governo de Pernambuco determinou a suspensão das atividades de todo o comércio, serviços e construção civil no Estado a partir do próximo domingo (22)

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 20/03/2020 às 13:00 | Atualizado em 20/03/2020 às 16:39
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Os setores de serviços e turismo já sentem os prejuízos financeiros por conta da pandemia do coronavírus - FOTO: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Bares, restaurantes, salões de beleza e as praias do Recife amanheceram vazios nesta sexta-feira (20), um dia após o Governo de Pernambuco determinar o fechamento de comércios não essenciais para tentar conter o avanço do novo coronavírus (Covid-19) no Estado. A ordem, válida a partir do sábado (21) foi anunciada durante um pronunciamento do governador Paulo Câmara (PSB), que nesta sexta endureceu as medidas e determinou a suspensão das atividades de todo o comércio, serviços e construção civil em Pernambuco a partir do próximo domingo (22).

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Com, isso, apenas supermercados, padarias, mercadinhos, farmácias, postos de gasolina, casas de ração animal, depósitos de água mineral e gás ficam abertos. Além desses estabelecimentos, continuam a funcionar obras e serviços essenciais, como hospital, abastecimento de água, gás, energia e internet.

O Recife já começava a mostrar sinais de esvaziamento desde os primeiros dias da semana, mas nesta sexta o fenômeno se intensificou. Em uma rua marcada pela grande quantidade de estabelecimentos comerciais no bairro de Boa Viagem, na Zona do Sul da cidade, Ângelo Nunes, dono do restaurante Galpão 490, recebeu a reportagem do Jornal do Commercio em um salão cheio de mesas e cadeiras vazias enquanto ele fazia os últimos ajustes para, pela primeira vez, adotar a entrega em domicílio.

"Do início da semana para cá, houve uma queda de aproximadamente 40% de faturamento diário e isso para um pequeno negócio é bem devastador e deixa qualquer micro e pequeno empreendedor desesperado. Veio essa crise toda em função do coronavírus e para terminar com qualquer possibilidade de esperança, o governo manda fechar tudo", falou Nunes.

"Aqui eu nunca trabalhei com Delivery, mas de ontem para hoje, precisei pegar o telefone de alguns clientes para entrar em contato com eles por WhatsApp e oferecer um serviço de entrega personalizado. Tive que me adequar a isso para passar por essa crise", completou.

A poucos metros dali, o salão de beleza da cabeleireira Jackeline Silva, 42 anos, viu o número de fraquentadores diários cair de, em média, 30 pessoas para seis, o que tem causado desesperança no futuro. "O movimento caiu muito além do esperado. A gente abre as portas, mas não temos clientes para atender. As pessoas estão com medo por causa do coronavírus", contou.

"Nós não estávamos preparados para isso. O Brasil já estava passando por uma crise econômica, agora vem mais isso. Ficamos a mercê. O jeito agora é pedir a Deus que nos ajude, porque se não houver clientes, não teremos dinheiro, visto que todas nós trabalhamos por comissão. Precisamos de clientes e nem podemos atender nas casas das pessoas, porque elas estão receosas com esse vírus.

Na praia de Boa Viagem, um dos principais pontos turísticos do Recife, ambulantes admitem não saber o que fazer diante das novas medidas do governo estadual e se dizem surpresos com a ausência de banhistas no local. Para vários deles, a comercialização de alimentos e bebidas na beira do mar é a única fonte de renda familiar, como é o caso do vendedor Carlos Humberto da Silva, que trabalha na praia há mais de 10 anos.

“Eu nunca vi a praia assim. Para se ter uma ideia, no inverno, quando chove muito, a praia fica melhor do que está agora. Agora, não sabemos nem o que fazer. Fomos pegos de surpresa com tudo isso”, falou. “Eu, realmente, não sei o que fazer, porque na minha casa só eu que trabalho e ainda tenho que pagar meus quatro funcionários. Vou ter mexer em algumas pequenas reservas para não deixar eles sem nada também.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Os setores de serviços e turismo já sentem os prejuízos financeiros por conta da pandemia do coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os setores de serviços e turismo já sentem os prejuízos financeiros por conta da pandemia do coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os setores de serviços e turismo já sentem os prejuízos financeiros por conta da pandemia do coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
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Os setores de serviços e turismo já sentem os prejuízos financeiros por conta da pandemia do coronavírus. - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

Movimento inverso nos supermercados

Pouco depois das novas medidas para contenção da pandemia da Covid-19 serem anunciadas, consumidores correram para comprar alimentos e produtos de necessidade básica nos supermercados da capital pernambucana. Em Boa Viagem, uma rede de atacado registrou grandes filas e a corrida dos clientes para estocar alimento com medo de escassez, apesar de as determinações do governo de Pernambuco não afetarem o setor.

Funcionários do estabelecimento relataram à reportagem do Jornal do Commercio que desde o início das atividades do supermercado nesta sexta-feira (20), o número de clientes que passa pelo local é superior ao registrado em outros dias. A dona de casa Maria Helena Teodósio, de 52 anos, foi uma das pessoas que correram para o supermercado com medo de não ter alimento nos próximos dias.

“Eu cheguei aqui por volta das 7h e só estou saindo agora (10h29 desta sexta, 20). Eu ouvi que tudo iria fechar e decidir me precaver. Não podemos ficar sem alimento em casa, pois minha mãe é idosa e precisa de uma alimentação balanceada para viver bem”, disse. “Acho que muitas pessoas estão em uma situação parecida com a minha, porque o supermercado está lotado, as filas estão grandes e a espera causa exaustão”, concluiu a dona de casa.

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Prevenção

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (máscara cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

  • Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1. 

Pandemia

Na quarta-feira (11), a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o novo coronavírus (covid-19) como uma pandemia. Uma doença infecciosa é considerada uma pandemia quando sua disseminação sai do controle e se espalha por uma região geográfica ou mesmo por todo o planeta, afetando uma grande quantidade de pessoas. Mais de 118 mil pessoas foram infectadas em 114 países. Ao todo, mais de 4.300 mortes foram registradas.

Coronavírus pelo mundo

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