Todos os dias milhares de flores têm sido descartadas nos sítios de Gravatá, no Agreste de Pernambuco. São lírios, rosas, orquídeas, que foram plantadas há meses para serem vendidas e usadas em eventos como casamento, formaturas e convenções. Na cidade, considerada a maior produtora de flores tropicais do Norte e Nordeste, as cerca de 2 mil pessoas que sobrevivem da produção das plantas amargam uma queda de, em média, 95% nas vendas desde o início das medidas de isolamento social impostas pelo Governo de Pernambuco para tentar conter o avanço do novo coronavírus (covid-19) no Estado.
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A situação se repete em todo o país. De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (Ibraflor), estima-se que o setor pode deixar de vender R$ 1,3 bilhão até 10 de maio, quando é comemorado o Dia das Mães, principal data para esse comércio no ano. Em carta enviada ao Ministério da Agricultura, o presidente da entidade, Kees Schoenmaker, afirma que “se nada for feito agora, teremos um cenário devastador, com a falência de 66% dos produtores”. Ainda segundo Schoenmaker, com encerramento das atividades, o desemprego no setor deve atingir aproximadamente 120 mil pessoas.
Segundo o presidente da Cooperativa dos Produtores de Flores do Agreste de Pernambuco (Floragreste), Lourenço Zarzar, a situação é dramática. “Assim que começou a quarentena nossos pedidos quase zeraram”, conta ele, segundo quem, as flores produzidas em Gravatá são destinadas 100% para eventos, que vêm sendo cancelados após as determinações das autoridades sanitárias. “Nós temos uma produção contínua e programada, que se perdeu após o fechamento de casas de festas e igrejas”, lamenta Zarzar, lembrando que, em média, cada produtor da cidade vendia entre 5 mil e 8 mil pacotes de flores por mês antes da covid-19.
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O produtor disse ainda que em maio, conhecido com o mês das noivas, dado o grande número de casamentos realizado no período, os produtores terão um prejuízo ainda maior, assim como apontou Kees Schoenmaker. Segundo Lourenço, as flores que seriam vendidas no próximo mês já estão plantadas, mas devem ser descartadas em breve. “É dinheiro que vai para o lixo”, desabafa o produtor, que já teve que reduzir salários e jornadas dos seus 11 funcionários, como medida para evitar demissões. “Muita gente já foi mandada embora, porque nossa produção caiu drasticamente, e já não há trabalho para todos”, afirma.
A Floragreste espera do poder público ações que possam socorrê-los neste momento de crise. "A gente espera que os governos municipal, estadual e federal adotem medidas concretas, que fiquem além do discurso", diz Lourenço Zarzar, afirmando que não é possível arcar com as despesas sem que haja lucro, sobretudo por parte dos pequenos produtores. “Se os governos não agirem imediatamente, não vai dar para segurar os negócios com todos os empregos por muito tempo”, sentencia o agricultor.
Apesar do cenário vivido, os produtores de Gravatá tentam manter a esperança. “A gente não sabe quando tudo isso vai passar, mas rezamos para ser logo”, declara Zarzar, contando estar na expectativa de que quando a pandemia acabar as vendas sejam maiores que o período pré-coronavírus.
Campanha nacional
Na tentativa de amenizar o impacto da covid-19 no setor, o Ibraflor criou a campanha “O poder das flores e das plantas – A flor é o alimento para a alma”. De acordo com o instituto, mais do que decorar as residências, escritórios e empresas, as plantas e flores purificam o ar, ajudam a relaxar e a reduzir o estresse, estimulam a criatividade e melhoram o bem-estar e a qualidade de vida.
Além disso, o Ibraflor também pediu o apoio da Associação Brasileira de Supermercadistas (Abras) para manter os espaços nos estabelecimentos representados por ela. A entidade ainda busca outras medidas para equilibrar o mercado em todo o país, mesmo em meio à pandemia.
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