Tecnologia

Em Pernambuco, 908 mil casas não têm acesso à internet por falta de dinheiro ou porque as pessoas não sabem usá-la

No momento em que mais precisam do acesso à internet, sobretudo pelo celular, para recebimento do auxílio emergencial, 9% dos domicílios pernambucanos não têm sequer aparelho telefônico em casa

Lucas Moraes
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Lucas Moraes
Publicado em 29/04/2020 às 17:10 | Atualizado em 30/04/2020 às 14:03
Foto: Bruno Fortuna/Fotos Públicas
Falta de acesso à internet expõe desigualdade digital em Pernambuco e reforça dificuldades em meio à pandemia da covid-19 - FOTO: Foto: Bruno Fortuna/Fotos Públicas

O acesso à internet tem avançado no Brasil e em Pernambuco, segundo mostram os dados levantados pela pesquisa voltada para o acesso dos brasileiros à Tecnologia da Informação e Comunicação - PNAD TIC, realizada pelo IBGE. Conforme números do fim de 2018, divulgados nesta quarta-feira (29), do total de 3,17 milhões de domicílios pernambucanos, 2,27 milhões (71,4%) deles têm acesso à rede. O resultado, embora demonstre o avanço da cobertura, expõe também o tamanho da desigualdade digital que atinge o Estado. Pelo menos 908 mil lares ainda não têm acesso à rede, e os principais motivos são a falta de dinheiro e a falta de habilidade para uso. 

Tendo como referência os últimos três meses do quarto trimestre de 2018, em Pernambuco, 5,57 milhões (68,1%) das pessoas de 10 anos ou mais utilizaram a internet. Um índice acima da média nordestina, que é de 64%, mas abaixo da média nacional, de 74,7%. Já na Região Metropolitana do Recife, 79,9% dos 3,5 milhões de habitantes, à época, acessaram a internet no mesmo período.

Dessa conta, excluem-se 2,6 milhões de pernambucanos. Eles não tiveram acesso à rede no período de referência utilizado pela Pnad TIC. O motivo, para  1,27 milhão, ou seja, 48,8% deles, era não saberem usar a ferramenta, seguido pela falta de interesse alegada por 26,3% da população, o equivalente a 688 mil pessoas. 

Esses também são os principais motivo alegados por aqueles que sequer têm acesso, independente do período de referência. Dos 908 mil lares sem internet (28% do total de lares de Pernambuco), mais de 35% não tinham condições de bancar o alto preço para acessar a internet,  seguido pelo grupo de 27,8% que apontou falta de interesse em usar a ferramenta e, em terceiro lugar, com 24,8%, aqueles que não tinham dentro de casa havia da família que soubesse fazer uso da internet. 

Os números, embora sejam de 2018, escancaram uma realidade que bate à porta das agências da Caixa Econômica Federal durante a pandemia da covid-19. Com a necessidade do isolamento social, o governo federal optou por fazer o pagamento de uma auxílio emergencial através de transferências diretas para clientes da Caixa e do Banco do Brasil, além da criação de uma poupança digital. Essa, por sua vez, não tem mostrado efeito quanto ao acesso de forma remota por parte da população, que tem colocado em risco a própria vida diariamente em filas sem fim nas unidades bancárias.

Esta semana foi inciado o saque em espécie da renda emergencial e, diferente do que o governo e a Caixa esperavam, o volume de pessoas em busca do dinheiro tem sido ainda maior. A explicação dada por muitos dos beneficiários a este JC é, além dos problemas de desenvolvimento do aplicativo da Caixa - criado para o serviço, a falta de informação e habilidade quanto ao uso da ferramenta. 

Os número da Pnad TIC evidenciam isso até mesmo entre aqueles que fazem uso da internet. Das pessoas que usaram a internet em Pernambuco, 60% delas utilizaram a rede para receber e enviar e-mails, 94,8% enviaram ou receber mensagens de texto, voz ou imagens por meio de aplicativos diferentes do e-mail, 91,5% realizaram conversas por chamadas de voz ou vídeo e 91,3% assistiram a vídeos, incluindo programas, séries e filmes. Nem de longe, os número apontam alguma familiaridade com uso de serviços financeiros e de pagamentos. 

Uso de celular

No Estado, 9% dos domicílios, ou seja, 285 mil lares, não têm aparelho telefônico, bem acima da média brasileira, de 5,1%. Já na RMR, a porcentagem é de 4%. O funcionamento do serviço de rede móvel celular, por sua vez, se estende a 82,7% dos domicílios do Estado, abaixo da média nacional e também da nordestina.

O Grande Recife ostenta o pior funcionamento desse tipo de serviço de todas as regiões metropolitanas do Nordeste, chegando a 86,7% dos domicílios. Isso é um problema grave para a população, já que o equipamento mais usado para acessar a internet foi o telefone celular, 99,2% dos lares pernambucanos e da RMR, quando acessaram a rede, o fizeram pelo celular. 

O rendimento de quem tem banda larga móvel é de R$ 1.674 mil, no Estado. Por sua vez, quem tem banda larga fixa em casa tem rendimento de R$ 1.271 mil. Em Pernambuco, 1,09 milhão de domicílios, ou 34,4% deles, tinham em suas dependências ao menos um microcomputador ou tablet, abaixo da média nacional, de 41,7%. O rendimento médio de quem não tem computador nem tablet em Pernambuco é de R$ 668. A renda mensal para receber o auxílio emergencial, pago majoritariamente através dos canais digitais, é de até meio salário mínimo por pessoa (R$ 522,50).  

 

 

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