O cenário de desemprego apontado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), e divulgada ontem (30) pelo IBGE, vai demorar até ser revertido, dizem os economistas ouvidos pela reportagem do Jornal do Commercio. O número de pessoas ocupadas na população brasileira em idade de trabalhar chegou a 49,5% no trimestre encerrado em maio, queda de cinco pontos percentuais em relação ao trimestre até fevereiro. É o mais baixo nível da ocupação desde 2012, quando teve início a série histórica da PNAD Contínua. Foi a primeira vez nos últimos oito anos que o nível da ocupação ficou abaixo de 50%. O que significa que menos da metade da população em idade de trabalhar está trabalhando. São 85,9 milhões de pessoas ocupadas.
Para o economista Jorge Jatobá, sócio da Ceplan Consultoria, a volta da atividade econômica vai demorar a provocar os efeitos esperados na geração de empregos por conta do medo da contaminação, que vai inicialmente inibir o consumo, e pelos estragos já feitos na Economia, como a falência de empresas. “Os negócios estão reabrindo lentamente e gradualmente, com alguns retrocessos já observados em algumas cidades, com o comércio tendo que fechar as portas novamente devido ao aumento da contaminação. E como o vírus continua circulando por aí os consumidores estão voltando com muita cautela. Então a retomada do emprego será mais lenta do que numa situação normal de recessão”, diz Jatobá.
Segundo o IBGE, durante o período de março a abril deste ano, a população desocupada (que era de 12,3 milhões de pessoas no trimestre anterior) teve aumento de 3,0% (368 mil pessoas a mais) chegando a 12,7 milhões de pessoas. Na retomada, segundo o economista Jorge Jatobá, a criação de novas vagas de emprego acontecerá em um segundo momento. Ele afirma que quem vai voltar primeiramente são aqueles trabalhadores que estavam afastados. “São funcionários especializados, que as empresas já investiram neles com treinamento. Mas, mesmo assim, nem todos irão retornar porque muitas empresas quebraram sobretudo pela perda de crédito, porque o crédito não chegou na ponta”, observa Jatobá. O segundo momento, diz o economista, será a absorção pelo mercado de trabalho de quem estava desempregado. E, por último, será a vez dos inativos e desalentados que, vendo a situação melhorar, vão em busca de trabalho.
POLÍTICA
Mas para essa “situação melhor” acontecer, será necessário expandir a Economia. É onde entra o papel do governo central. “Para retomar a economia de forma significativa é preciso ter uma política econômica centrada no investimento, sobretudo no investimento em infraestrutura”. Energia, rodovia, portos, saúde e educação são alguns setores citados por Jatobá. Para ele, o marco regulatório do saneamento aprovado pelo Senado esta semana foi uma boa notícia e um exemplo de política agressiva de investimento. ”O investimento tem que vir, seja público, apesar da crise fiscal, seja privado através da PPP (Parcerias Público Privadas)”. Mas o economista admite que o cenário para que isto aconteça ainda não existe no Brasil. “É preciso ter um ambiente de negócios favorável e um ambiente político mais sereno. Infelizmente, não temos nenhum dos dois”, afirmou Jorge Jatobá.
O economista Edgard Leonardo, professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), concorda que o papel das instituições e do poder público é decisivo para a velocidade e qualidade da retomada econômica que o país precisa. “Os investidores existem e continuarão existindo e precisamos nos colocar como um destino interessante. As taxas de juros estão baixas então o capital tende a ir para o investimento produtivo, que é justamente o que gera empregos”, diz Edgar. Para ele governo precisa avançar nas reformas tributárias e fiscal para que o investidor tenha confiança e segurança em colocar seu capital na atividade produtiva. “Nós temos um país gigante que carece de infraestrutura e isso é importante para investidores internacionais”. Edgar Leonardo pontua que o emprego cresce se o PIB (Produto Interno Bruto) do País, crescer. Para o professor, o desafio é grande e a reabertura do comércio é um alento e uma boa sinalização de que a vida está voltando, mas é a vontade política que vai fazer a diferença para levantar o País, conclui.
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