Logística

Greve dos Correios expõe dependência das empresas de comércio eletrônico

Mais de 150 mil lojas virtuais foram abertas durante a pandemia segundo a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico. Como não há e-commerce sem logística de entregas, empresas buscam alternativas

Edilson Vieira
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Edilson Vieira
Publicado em 18/08/2020 às 21:19 | Atualizado em 18/08/2020 às 21:53
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Adriana Souza e Caetano Dias montaram uma loja virtual para venda de sapatos e já estudam oferecer outras opções de remessa além dos Correios - FOTO: Divulgação

A greve dos funcionários dos Correios iniciada na segunda-feira (17), põe em xeque o comércio eletrônico, que vem apresentando um bom desempenho desde o início da quarentena. Segundo dados da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico, ABComm, foram abertas mais de 150 mil lojas virtuais desde o início do isolamento social, por conta da pandemia do coronavírus. Ainda de acordo com a associação, seis milhões de brasileiros fizeram sua primeira compra online durante o confinamento. E como não existe comércio eletrônico sem logística de entrega, as empresas vão encontrando soluções alternativas para substituir a grande capilaridade dos Correios.

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O casal Caetano Dias e Adriana Souza Melo montou há menos de um mês a Juventus Calçados, uma loja virtual para vender sapatos masculinos pelas redes sociais. O produto vem direto da fábrica, em São Paulo, para a casa do casal, em Olinda, que serve de depósito. As vendas já começaram e são para todo o País, mas a logística de entrega ainda representa um calo para a empresa. “Vimos que não dá para depender apenas dos Correios. Agora mesmo, segundo o rastreio, estou com uma mercadoria parada, provavelmente por conta da greve”, disse Caetano.

A saída para que a empresa não morra no nascedouro é buscar alternativas. “Teremos que fazer um contrato com os Correios para baratear os custos e, talvez, já incluir um seguro que cubra possíveis extravios”. Outro caminho, diz o empresário, é oferecer ao cliente vários tipos de remessa. “O cliente vai decidir se quer receber pelos Correios, transportadora, ou até empresa aérea. Ele escolhe e paga o frete”, pensa Caetano.

ESTRUTURA

Stefan Rehm, CEO da Intelipost, empresa de gestão de fretes que atua na América Latina, estima que 30% do comércio eletrônico nacional dependa unicamente dos Correios para entrega de mercadorias. “Quanto menor o lojista, menos alternativas ele tem”, diz Stefan. Ele reconhece que os Correios são a única organização que tem abrangência em todos os mais de cinco mil municípios do Brasil, coisa que nenhuma transportadora tem. “Na Europa e nos Estados Unidos um e-commerce grande trabalha com duas ou três transportadoras para entregar no País inteiro. No Brasil, uma empresa de mesmo porte precisa trabalhar com 20 transportadoras para prestar o mesmo tipo de serviço”. As dimensões continentais do Brasil e a infra-estrutura precária, faz com que aqui tudo seja mais complexo, analisou Stefan Rehm. O executivo fala que outros players locais e nacionais estão surgindo e já são cerca de 100 transportadoras trabalhando diretamente com e-commerce no Brasil.

O Mercado Livre, um dos maiores market places da América Latina, informou através de nota que vem investindo na ampliação de sua malha logística própria. “No período de abril a junho deste ano, a penetração na rede gerenciada pelo Mercado Livre ultrapassou pela primeira vez os 50%, atingindo 51,6%”, informou a nota. A empresa afirmou ainda que, através do Mercado Envios, conseguiu entregar 157,5 milhões de itens durante o trimestre (abril a junho de 2020), representando um crescimento de 124,2% em relação ao ano anterior. No site da empresa, há um aviso para o consumidor para alertar quando a entrega não é feita pela rede própria: " O envio deste produto é pelos Correios e, no momento, eles estão em greve. Por isso, a data de entrega é mais longa do que de costume. Desculpe", diz o aviso.

ENTREGAS

Já os Correios informaram através de nota que a paralisação de seus empregados é parcial e não vem afetando os serviços de atendimento da estatal. “Levantamento parcial, realizado na manhã desta terça-feira (18), mostra que 83% do efetivo total dos Correios no Brasil está trabalhando regularmente”, cita a nota. A empresa diz ainda que já colocou em prática medidas para minimizar os impactos à população como o deslocamento de empregados administrativos para auxiliar na operação; remanejamento de veículos e a realização de mutirões. “A rede de atendimento dos Correios está aberta em todo o país e os serviços, inclusive SEDEX e PAC [de entrega de produtos], continuam sendo postados e entregues em todos os municípios”, informou a empresa.

 

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Divulgação/Renata Mosaner
Stefan Rohm, CEO da Intelipost, diz que é um desafio substituir a capilaridade dos Correios - FOTO:Divulgação/Renata Mosaner

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