Relacionado diretamente à vida das pessoas, o Produto Interno Bruto (PIB) carrega em seu somatório a produção de bens e serviços no País. Um resultado negativo (-9,7%) revela, por parte da demanda, a penúria no mercado de trabalho, não evolução da renda das famílias e consequente piora no acesso ao que é produzido. Em recessão técnica, com o menor resultado para a economia no segundo trimestre desde o início da série histórica (1996), o Brasil tem pela frente o desafio de recompor toda essa teia para reter o impacto ainda mais negativo que pode chegar com o resultado do PIB ao fim deste ano.
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Considerados muito ruins, mas relativamente dentro das expectativas - em função de refletir o período mais agudo da pandemia, os números do PIB dimensionam o abatimento econômico do País frente o novo coronavírus e demandam atuação do poder público.
“Do ponto de vista da política, a questão chave é dar incentivo para o crescimento sem destruir as contas públicas, garantindo o apoio às classes mais vulneráveis. O estoque de desemprego ainda está muito elevado, uma situação difícil para a maioria da população. A prorrogação do auxílio é positiva, agora sabemos que custa muito dinheiro. São 100 bilhões, e nossas contas desequilibradas, num rombo fiscal de cerca de R$ 900 bilhões”, disse o economista e professor da FGV, Gesner Oliveira.
No segundo trimestre, a taxa de investimento foi de 15% do PIB, ficando abaixo da observada no mesmo período de 2019 (15,3%). A despesa de consumo das famílias (-12,5%) e a despesa de consumo do governo (-8,8%) caíram em relação ao trimestre imediatamente anterior. Com peso importante na formação do PIB, o consumo das famílias e o investimento contribuíram fortemente para o resultado alcançado.
Renda e PIB
“O que esse resultado significa? Já estamos na primeira metade do ano com uma fortíssima retração da economia brasileira. Há aquela brincadeira sobre ninguém comer PIB, mas o PIB é um retrato do sofrimento das pessoas, daquelas pessoas que perderam seus empregos, que vivem hoje numa situação de desalento e, sem dúvida, um retrato dos 120 mil mortos no Brasil”, avaliou a pesquisadora-sênior do Peterson Institute for International Economics e diretora do Programa de Estudos Latino Americanos da Johns Hopkins University, Monica de Bolle, ao comentar os números numa transmissão ao vivo.
Segundo ela, levando em consideração a formação do PIB pela oferta (atividade nos setores econômicos) e demanda (investimento, consumo, gastos do governo e exportações e importações), a demanda doméstica é representada em cerca de 2/3 pelo consumo das famílias. “Para a frente temos um problema grave: como sair dessa. No segundo trimestre, apesar do problema de execução, o auxílio deu sustentação à economia”, complementa.
Mesmo com a manutenção do auxílio com valor reduzido (anunciada pelo governo ontem), há preocupação ainda sobre um cenário de incertezas sobre os caminhos que serão abertos para dinamizar o crescimento econômico que leve o País às projeções abaixo dos -6% no ano.
“Esses são resultados do 2º trimestre, tivemos agora julho e agosto com indicadores relativamente positivos. A expectativa é que a economia comece a se recuperar, mas há muita incerteza ainda sobre auxílio emergencial e substituição por um programa mais amplo (Renda Brasil), reforma tributária e outras reformas que poderão haver. De qualquer maneira, é razoável supor que o terceiro e quarto trimestre sejam um pouco melhores, com projeção de recuperação para 2021”, aponta Oliveira.
O número de pessoas com renda per capita abaixo de meio salário mínimo caiu 13,1 milhões até julho de 2020 por conta do auxílio emergencial, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em 2019, 31% da população, o equivalente à 65,2 milhões de brasileiros estavam no grupo que vivia com R$ 522,50.
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