PROGRAMA SOCIAL

'Pai' de programa precursor do Bolsa Família, Cristovam Buarque diz que Renda Cidadã de Bolsonaro tem 'conceito errado'

Em entrevista à Rádio Jornal, o ex-senador criticou a fonte de financiamento para o programa, que deve usar dinheiro reservado para pagamento de precatórios e do Fundeb

Marcelo Aprígio
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Marcelo Aprígio
Publicado em 29/09/2020 às 11:15 | Atualizado em 29/09/2020 às 11:17
FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Ex-senador criou Bolsa Escola, que antecedeu o Bolsa Família, quando foi governador do Distrito Federal - FOTO: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Em entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta terça-feira (29), o ex-senador Cristovam Buarque (Cidadania) afirmou que o programa social Renda Cidadã, idealizado pelo governo Federal para substituir o Bolsa Família, é uma ideia boa, porém com conceito e financiamento errados. Isso porque, o dinheiro para o programa virá do que está reservado no Orçamento para o pagamento de precatórios e de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o principal mecanismo de financiamento da educação no País.

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“Tirar do Fundeb para esse programa, é levar para os pobres tirando dos pobres, porque vai tirar a educação das crianças. Sobre os precatórios, é um equívoco. É uma boa ideia para retirar da penúria a população pobre, mas com conceito errado, de pura transferência, e financiamento equivocado”, pontuou Buarque.

Cristovam já foi governador do Distrito Federal, onde criou, na década de 1990, o Bolsa Escola. “Eu tenho uma crítica conceitual à ideia da transferência de renda sem condicionamento. Desde de que eu criei, há 25 anos ou mais, a ideia da Bolsa Escola, era uma transferência vinculada. A mãe recebia se o filho fosse à escola. O que tira a pessoa da pobreza não é essa renda mínima. Essa renda mínima tira a pessoa da penúria. O que tira da pobreza é a educação”, explicou o ex-senador.

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O programa foi anunciado na segunda (28), após mudança de nome e muitas idas e vindas, durante reunião do presidente Jair Bolsonaro, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e de líderes do governo e partidos. A ideia, porém, não foi bem recebida nem pelo meio político nem pelo mercado. A Bolsa caiu 2,41%, com o Ibovespa registrando o menor índice desde 10 de junho, em função da recepção negativa. A polêmica gira em torno de como o programa social será financiado.

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“Se a gente deixa de pagar os precatórios, a economia quebra. Porque uma das coisas mais importantes, hoje em dia, para economia se chama confiança. Acho até que algumas dívidas são injustas, mas a Lei determinou. Se quebramos isso, quebramos a confiança”, argumentou Cristovam Buarque, questionando o motivo do atual e ex-presidentes não terem feito propostas para reduzir os custos do Congresso Nacional e Judiciário. “Temos o Parlamento e a Justiça mais caros do mundo”, declarou.

De acordo com o ex-senador, é preciso a quantidade de privilégios, subsídios, vantagens e aquilo que chamou de prioridades equivocadas, citando o aumento de verba para os militares durante o governo Bolsonaro. “É preciso, hoje, aumentar recursos para o Exército? É preciso aumentar para os invisíveis, para fazer com que saiam da invisibilidade e não apenas receberem uma ajuda para continuar invisíveis”, disse.

“A única maneira de não aumentar os invisíveis é dar educação de qualidade para seus filhos. Enquanto não entendermos isso, não vamos resolver. Alguns dizem que a porta de saída é o emprego, mas é difícil arrumar emprego para quem é analfabeto”, completou Buarque.

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