Com pandemia da covid-19, Black Friday tem cenário diferente no comércio dos shoppings e Centro do Recife

Atualizada às 17h30

Com informações de Edilson Vieira

A tradicional Black Friday, dia de descontos no comércio por todo o País, teve cenário diferente nesta sexta-feira (27) no Recife. Por conta da pandemia da covid-19, o que era visto nos outros anos, imensas filas no comércio do centro e nos shoppings, não se repetiu. Mas isso não quer dizer que não estão sendo esperadas boas vendas. Estima-se que esta Black Friday seja a de maior volume de negociações do Brasil.

No RioMar Recife, na Zona Sul, que abriu as lojas âncoras às 6h, o movimento era tranquilo, com respeito aos protocolos. Lojas satélites e quiosques do mall abriram a partir das 8h. Praça de alimentação, restaurantes e boulevards começaram às 10h. Todas as operações do RioMar só serão encerradas às 23h. À reportagem do JC, a gerente de marketing do mall, Denielly Halinski, afirmou que o fluxo de pessoas este ano está dentro do esperado. "A nossa Black Friday foi antecipada e diluída. Ou seja, as lojas já estavam praticando descontos atraentes durante esta semana e a maioria delas devem manter as ofertas até o próximo domingo. Isto contribuiu para a tranquilidade desta sexta-feira, com lojas cheias mas, sem aglomeração. Melhor para os vendedores, que podem dar mais atenção aos clientes", afirmou Halinski.

O gerente da Magazine Luiza do RioMar Shopping, Paulo Ezequiel, confirmou que a população aproveitou a semana para fazer as compras, já que as promoções antecederam a sexta-feira culminando na Black Friday. Como a loja vem batendo as metas de venda, ele acredita que as vendas serão fechadas este ano com crescimento de 20%. “Reforçamos nossos estoques e estamos divulgando os descontos desde o início do mês. Temos mercadoria para o Natal e Ano Novo sem perigo de faltar”, garantiu Ezequiel.  

Quem compareceu à Magazine para fazer compras nesta sexta foi o casal Josenilda Almeida e Gabriel Junqueira. Para eles, a tranquilidade tem proporcionado um momento de melhor de compras. O casal, que disse estar satisfeito, comprou uma geladeira e uma máquina de lavar, em que acreditam ter economizado cerca de R$ 1,5 mil. “Valeu muito a pena. A gente vinha pesquisando preços há algumas semanas e hoje o valor estava realmente mais baixo”, disse Josenilda que, junto com o marido, quase desistiram de comprar na Black Friday deste ano. “Vimos muito tumulto e até confusão em um hipermercado no ano passado. Achamos que seria a mesma coisa, tanto que decidimos vir só no RioMar. Mas isso aqui está uma tranquilidade”, exclamou Gabriel. 

Segundo o gerente da Império localizada no RioMar, João Paulo Souza, um dos fatores que promovem a tranquilidade deste ano é o cliente já comparecer à loja com foco no que vai comprar, ou seja, ele pesquisa os produtos em casa e chega no centro de vendas sabendo o que vai adquirir. O gerente projeta que a loja fechará a Black Friday com crescimento de 10%. “Percebemos que o cliente está mais objetivo este ano. Ele chega na loja já decidido a comprar porque pesquisou os preços antes na internet. As vendas ficaram mais rápidas, o que é bom porque não chega a formar aglomeração”, explicou João Paulo.

A gerente da loja Camicado, Amanda Crysler, definiu o movimento de clientes nesta sexta-feira como “intenso, mas tranquilo”. A loja de utilidades domésticas aplicou um desconto único de 30% sobre os produtos. "Temos um fluxo menor de pessoas nesta Black Friday mas quem saiu de casa hoje saiu disposto a comprar. Na verdade, o movimento de vendas do mês todo está muito bom", disse Amanda que pretende manter as promoções da Black Friday até domingo.

O Shopping Recife, também na Zona Sul da cidade, teve o mesmo cenário: movimento tranquilo, se comparado a anos anteriores. Durante toda esta semana o mall já apresentou 90% do fluxo diário de clientes que tinha antes da pandemia. A gerente da Hering do Shopping Recife, Viviane Altoé, revelou que a antecipação das ofertas fez com que o faturamento da loja tivesse um incremento de 45% até ontem (26). "Era tudo o que a gente precisava depois de um ano tão difícil". Viviane disse que os preços vão se manter baixos depois desta sexta-feira.

Na loja Arezzo, também no Shopping Recife, a gerente Mércia Freitas afirmou que o movimento da sexta-feira estava 70% superior a um dia comum. "Estávamos apreensivos de como seria esse ano, mas o movimento está praticamente igual ao ano passado. Devemos crescer 5% em vendas, o que é muito bom", afirmou Mércia

No Centro do Recife, onde muita gente passava a madrugada aguardando nas lojas em outros anos, desta vez teve movimento bastante tranquilo. A expectativa é de que as pessoas consumam ao longo do dia, incluindo o fim de semana, e pela internet. E as compras também foram feitas previamente, pois muitas lojas anteciparam os descontos.

INTENÇÃO DE COMPRAS

Segundo uma pesquisa da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), 61% dos entrevistados afirmam que pretendem fazer compras na Black Friday esse ano, um crescimento de 24% em relação ao ano passado. Entre os que vão aproveitar a sexta-feira de descontos, 63% justificaram dizendo que este é um momento oportuno para comprar produtos que estão precisando com preços mais baixos. Um terço dos consumidores disseram que pretendem adquirir mais produtos do que em 2019 (34%), ao passo em que 29% querem comprar um número menor de itens e 23% a mesma quantidade.

O presidente da CNDL, José César da Costa, destacou que apesar da Black Friday 2020 acontecer em um cenário adverso, o consumidor permanece atento às promoções. “A Black Friday é a oportunidade para a população aproveitar as ofertas e garantir os presentes de fim de ano num período tão difícil para a economia”, afirmou Costa.

A expectativa de aumento das vendas também aparece na pesquisa feita com consumidores pernambucanos. A sondagem inédita, realizada pela Fecomércio-PE e Sebrae, entre os dias 18 e 19 deste mês, com 918 entrevistados, apontou que 49,7% dos consumidores no estado pretendem comprar na Black Friday deste ano. O economista da Fecomércio, Rafael Ramos, fala da evolução da importância da data para o comércio. “Comparada com outras datas como Dia dos Pais e Dia das Mães, um índice de quase 50% de intenção de compras ainda não é alto. Mas a Black Friday é a data do varejo que mais cresceu na última década. Ele já aparece aqui em Pernambuco à frente do Dia das Crianças que, este ano, teve um índice de intenção de compras de 38,5%”.

Ramos observou ainda que a Black Friday tem características próprias, como a grande demanda pelas compras on line que inda não “pegou” por aqui. “Em Pernambuco, a população ainda não tem uma educação digital ampla, o que faz com que a tradição de ir às lojas físicas ainda seja muito forte”, afirmou. Com quase metade dos pernambucanos disposta a comprar, o cenário é positivo para o comércio, em comparação aos meses anteriores, com possibilidades de reversão da queda do varejo em 2020, resumiu Rafael Ramos.

Assim espera a empresária Kaline Alcântara. À frente da loja de moda infantil Bitsy, com lojas no Shopping Recife e no Bairro do Parnamirim, ela está aplicando descontos que podem chegar a 60%. “O shopping diluiu a campanha de Black Friday por toda a semana, uma decisão acertada. Em cinco dias o incremento nas minhas vendas já é de 90% do que eu consegui na Black do ano passado. Para um ano de pandemia, está dentro da minha expectativa”, diz a comerciante.

A designer de acessórios de moda, Juana Moura, afirma que não dá para ficar fora da Black Friday. “Comecei com os descontos desde o início do mês e já percebi um aumento gigante no movimento, em torno de 40%. Tem clientes que só compram neste período do ano para aproveitar os descontos de até 70%. A Black, no meu segmento, só perde como data para o Dia das Mães”, afirmou.

DIREITOS

A advogada especializada em direito do consumidor, Flávia Presgrave Bruzdzensky, rebate a ideia que alguns consumidores têm de que produtos oferecidos na Black Friday não tem a mesma garantia de quando são vendidos fora de promoção. “A garantia é a mesma. O que acontece no Brasil é que alguns fornecedores dizem que você não pode fazer a troca de produtos em promoção. Mas, claro, se a mercadoria vier com defeito, com peças faltando, ele pode ser sim substituído por outro ou ter o valor de compra devolvido”.

Flavia menciona ainda o “direito de arrependimento” para compras feita pela internet. “Para uma compra feita sem visualização da mercadoria, o consumidor pode desistir em até 7 dias depois do produto recebido, e pedir ressarcimento”. Flávia Presgrave aconselha ainda que, em caso de problemas, o comprador deve buscar inicialmente a solução administrativa, tentar resolver com a própria loja ou plataforma de vendas on line, antes de partir para a judicialização.

Os órgãos de defesa do consumidor também montaram esquemas especiais para esta sexta-feira. O Procon Recife vai funcionar em horário ampliado, das 8h às 17h. As reclamações devem ser enviadas por e-mail (procon@recife.pe.gov.br) ou pelas redes sociais do órgão de defesa do consumidor (Instagram e Facebook). Já o Procon estadual vai realizar pesquisas no comércio comparando o preço atual aos levantados no início do mês, para constatar se os descontos praticados são reais ou não. No ano passado, o Procon autuou duas lojas no Recife. Reclamações podem ser feitas através do 0800.282.1512.