Mercado

Com foco em Brasília, Bolsa emenda terceiro ganho, em alta de 1,26%

O Ibovespa, a exemplo de ontem, refletiu o otimismo em torno da retomada de "agenda liberal" no Congresso, após a vitória governista para as presidências da Câmara e do Senado

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Estadão Conteúdo

Publicado em 03/02/2021 às 19:11
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Com foco em Brasília, o Ibovespa retomou a linha dos 120 mil pontos durante a sessão desta quarta-feira, 3, mas não conseguiu sustentá-la no fechamento, o terceiro consecutivo em alta. Hoje, o índice da B3 avançou 1,26%, aos 119.724,72 pontos, beneficiado em especial por recuperação nas ações de Vale ON (+3,16%) e de siderurgia (CSN +1,90%, Gerdau PN +2,44%), enquanto os bancos operaram sem direção única no dia do balanço do Santander (Unit -0,39%). O giro totalizou R$ 35,2 bilhões na sessão, em que o Ibovespa saiu de abertura a 118.234,99 pontos para chegar na máxima aos 120.210,38 pontos, maior nível desde 21 de janeiro. No ano, o índice passa a acumular leve ganho de 0,59%, com avanço de 4,05% nesta primeira semana de fevereiro.
Em dia volátil, de ganhos tímidos ao final em Nova York, o Ibovespa, a exemplo de ontem, refletiu o otimismo em torno da retomada de "agenda liberal" no Congresso, após a vitória governista para as presidências da Câmara e do Senado. A prioridade indicada pelo Planalto à definição do Orçamento para 2021, bem como ao prosseguimento da tramitação das reformas e da privatização da Eletrobras na agenda encaminhada ao Congresso, e a reafirmação do compromisso dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), com extensão de auxílios dentro do teto de gastos, deram o tom positivo para os negócios.
"O presidente Bolsonaro pediu aos novos presidentes do Legislativo prioridade para 35 proposições que já tramitam no Congresso, como reformulações de marcos setoriais, a autonomia do Banco Central, as reformas administrativa e tributária e as três Propostas de Emenda à Constituição (PECs) da chamada 'Agenda Mais Brasil': Emergencial, Pacto Federativo e Fundos", enumera Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos.
Para Fernando Siqueira, gestor da Infinity Asset, uma combinação de fatores positivos ampara a recuperação observada no Ibovespa neste começo de mês. "A greve dos caminhoneiros não se materializou; os dados da economia americana mostram força, como a geração de vagas de trabalho no setor privado em janeiro, acima do esperado; o bom desempenho de commodities como o petróleo; nova flexibilização de restrições em São Paulo; e, em Brasília, o alinhamento que se espera entre Executivo e Legislativo, o que faz lembrar o início do governo em janeiro de 2019, quando também havia grande expectativa", aponta o gestor, destacando ainda o nível do Ibovespa, após a recente correção de 10 mil pontos em relação ao topo de 125 mil do último dia 8.
Depois de o índice da B3 renovar pico histórico logo no começo do mês, "o Brasil apanhou bem em janeiro, foi o pior mercado e também a pior moeda, mas agora o mercado está comprando de novo as reformas, a ideia de que algo poderá ser feito, a começar pelo orçamento, até março", diz Roberto Attuch, CEO da Ohmresearch. "Depois, será preciso ver mesmo se as reformas serão aprovadas", acrescenta Attuch, que prevê uma trégua de até seis meses, dos investidores, para que os novos comandantes do Legislativo mostrem serviço.
Após queda de 4,63% no preço do minério de ferro ontem na China (Qingdao), a recuperação parcial da cotação hoje (alta de 1,90%) e a perspectiva de acordo entre a empresa e o governo de Minas Gerais colocaram a Vale como blue chip do dia, em alta de 3,16% no fechamento. Os investidores se mantêm atentos à possibilidade de acordo entre as partes que encerre ação judicial sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019. Mineradora e governo estadual confirmaram audiência, amanhã, para entendimentos finais e possível assinatura do termo de reparação.
Assim, Bradespar, principal acionista da mineradora, chegou a acentuar ganhos nesta sessão, mas ao fim os limitou a 2,19%, após ter ficado com a própria Vale na ponta negativa do dia anterior, quando prevaleciam temores sobre o montante das reparações. Destaque também nesta quarta-feira para alta de 7,73% para BTG, de 6,22% para Braskem e de 5,63% para Multiplan, enquanto, na face oposta do Ibovespa, Totvs cedeu 2,31%, CVC, 2,25%, e BR Distribuidora, 1,50%.

Dólar

O dólar teve novo dia de volatilidade. Caiu pela manhã para a mínima de R$ 5,32 e firmou alta nos negócios da tarde, batendo em R$ 5,38. O foco no mercado doméstico seguiu no Congresso e o cenário para as reformas a partir de agora, com os novos presidentes dando início ao ano legislativo. A visão que predomina nas mesas de câmbio é que haverá avanços na agenda, mas não sem dificuldades e necessidade de articulação. Pela tarde, o cenário externo teve peso importante e o real acabou seguindo ao longo do pregão pares como os pesos da Colômbia, México e Chile, que perderam força ante o dólar em meio a dúvidas sobre o tamanho do pacote fiscal que Joe Biden conseguirá aprovar.
No fechamento, o dólar à vista terminou o dia com ganho de 0,29%, a R$ 5,3702. No mercado futuro, o dólar para março fechou em baixa de 0,38%, a R$ 5,3500.
Após a euforia de ontem, o governo listar suas prioridades na agenda e a abertura do ano legislativo no Congresso, os comentários nas mesas de câmbio hoje eram de que o clima é de "esperar para ver", conforme resumiu um diretor de Tesouraria. O cenário para o real está bem mais positivo agora do que no início de janeiro, disse ele, destacando que a perspectiva de avanço de reformas e a possibilidade de o Banco Central voltar a subir juros já em março apontam para chance de valorização da moeda, que está muito descolada de seu preço justo por causa do crescente risco fiscal.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF) calcula que o preço justo da moeda brasileira é de R$ 4,50, levando em conta os fundamentos. O Bank of America calcula em R$ 4,80 e afirma estar otimista para as reformas, mas alerta que a janela para aprovação é relativamente curta, considerando as eleições em 2022.
Para os analistas da consultoria internacional TS Lombard, Elizabeth Johnson e Wilson Ferrarezi, o real tende a se beneficiar da elevação dos juros pelo BC. Eles acreditam que o aumento virá na reunião de março, em 0,50 ponto porcentual. A redução do diferencial de juros do Brasil com o resto do mundo deve ajudar a reduzir a volatilidade no câmbio. Além disso, o avanço das reformas deve ajudar a moeda brasileira a ganhar força, ficando mais alinhada a seus pares.
A TS Lombard acredita em chance de avanços nos próximos dois meses na agenda de reformas, embora o cenário ainda seja "desafiador", sobretudo quando se considera que alguns parlamentares do Centrão não compartilham muito as ideias liberais do ministro Paulo Guedes. "A menos que o próprio Bolsonaro se envolva em apoiar esta agenda impopular, mas necessária, achamos que a chance de progresso significativo na agenda de reformas será limitada." Medidas mais microeconômicas, como a Lei do Gás e a independência do Banco Central têm chance de rápida aprovação, o que deve ajudar a melhorar o sentimento dos investidores no mercado, ressalta a TS.

Juros

Os juros terminaram a quarta-feira de lado, após terem passado boa parte da sessão em baixa, ainda sustentada pela repercussão positiva da vitória do governo na eleição para o comando do Congresso, que traz otimismo sobre o andamento das reformas. O recuo das taxas foi perdendo força ao longo da tarde, na medida em que a curva já devolveu bastante prêmio em função deste evento e, agora, uma nova rodada firme de queda depende da concretização das intenções demonstradas pelos novos presidentes da Câmara e Senado. A suspensão das restrições ao funcionamento de comércio e serviços em São Paulo nos fins de semana também contribuiu para a melhora da percepção de risco fiscal, ao sugerir menor pressão para retomada do pagamento do auxilio emergencial.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 3,345% (regular) e 3,340% (estendida), de 3,336% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 passou de 4,821% para 4,785% (regular e estendida). O DI para janeiro de 2025 terminou com taxas de 6,20% (regular) e 6,19% (estendida), de 6,22% ontem, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 6,88% (regular) e 6,90% (estendida), de 6,89%.
Logo pela manhã, os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (MDB-MG), esticaram o fôlego positivo dos mercados ao entregarem uma carta conjunta de intenções ao Planalto, na qual defendem como prioridade vacinação contra covid-19, agenda de reformas e uma alternativa ao fim do auxílio emergencial dentro do teto de gastos. Na reunião, Bolsonaro também citou prioridades do Executivo para o Congresso, entre elas a reforma tributária e o envio de uma "Medida Provisória para privatização da Eletrobras", sem, contudo, mencionar retomada do auxílio emergencial.
Com o alinhamento entre os Poderes, o mercado passa a olhar o fiscal de outra maneira, mas para que o fechamento da curva tenha ainda mais consistência "é preciso entregar", diz Lima. Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria, afirma que os desafios são grandes para o encaminhamento das questões fiscais, "o que limita qualquer otimismo".
Na medida em que houver evolução no cronograma de vacinação, as tensões fiscais devem ser amenizadas pela normalização parcial do comércio e serviços. Hoje São Paulo anunciou suspensão das restrições impostas na fase vermelha, que limitava o funcionamento de lojas, bares e restaurantes nos fins de semana, a partir de sábado. "Isso reduz a pressão pela volta do auxilio", opinou Lima, da Western Asset. A medida se dá em função da queda no número de internações por covid. O governador João Doria (PSDB) anunciou ainda pacote financeiro de apoio ao comércio e que deve chegar hoje ao País um lote de insumos para a produção de 8,6 milhões de doses da vacina produzida pelo Instituto Butantan.
 

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