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Componentes de computador, como as placas de vídeo têm alta de preço por causa do processamento de criptomoedas

Este material tem grande poder computacional e está sendo usado para processar as criptomoedas que se valorizaram durante a pandemia. Os produtores independentes de games e os usuários serão impactados pela alta do produto, segundo especialistas

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Angela Fernanda Belfort

Publicado em 11/04/2021 às 8:00 | Atualizado em 16/04/2021 às 17:16
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A pandemia, a valorização do dólar e a ascensão das criptomoedas levaram a alta do preço de um produto muito usado por quem desenvolve jogos ou é usuário de games: as placas de vídeo, que conseguem processar grandes quantidades de dados. Em alguns casos, o aumento foi superior a 100% e atingiu até as placas mais obsoletas que não servem para a fazer a mineração (o processamento de dados) das criptomoedas, moedas digitais criadas de forma descentralizadas usando uma rede chamada blockchain. Essa alta pode impactar a implantação de novas startups ou os pequenos desenvolvedores independentes que usam esses equipamentos para produzir games. E também, pode chegar ao bolso do usuário de games que vai precisar trocar a placa de vídeo do seu equipamento para conseguir jogar as versões mais atualizadas de alguns jogos.

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As placas de vídeo atuam no computador como se fossem motores extras que fazem os aviões andarem mais rápido, por terem uma grande capacidade de processamento, como define o professor do Centro de Informática (CIn) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Geber Ramalho. Ele lembra que a indústria de jogos foi impulsionada pelo desenvolvimento das placas de vídeo, também chamadas de placas gráficas. São elas que contribuíram para tecnologias mais sofisticadas chegarem aos jogos. "Os produtores independentes terão que comprar. A dica é nunca comprar a última placa (que é a mais moderna). A penúltima fica com o preço mais baixo e o custo benefício é melhor",comenta o pesquisador que criou a primeira disciplina de desenvolvimento de jogos da América Latina no ano 2000.

"Uma placa de vídeo obsoleta - que não presta pra minerar dados - como uma XTX 1050 TI era vendida por R$ 680 em janeiro de 2020. Hoje é comercializada por R$ 1.250, uma alta de 83%. Uma RTX 3080, considerada da segunda categoria melhor, custava em setembro do ano passado R$ 5,2 mil e atualmente está em R$ 13 mil. É um aumento de 150%", explica o CEO da Prëxis, Carlos Henrique Campello. A empresa dele é especialista em desenvolvimento de aplicações para Blockchain. Ele cita também que uma placa de vídeo intermediária como a RTX 2060 custava  R$1,6 mil em 20 de fevereiro do ano passado e estava sendo comercializada por R$ 4,3 mil na quinta-feira (08) com um aumento de de 168%. 

Carlos Henrique explica que a alta dos preços chegou a todas as placas de vídeo, inclusive as que não podem ser usadas pra minerar dados. E isso ocorre por vários motivos. Um deles é que estas placas são feitas do mesmo material e como a demanda pelo produto está grande, afeta o preço de todas. Segundo, o material usado nelas é importado e ficou mais caro no Brasil com a valorização do dólar, que vem ocorrendo desde o ano passado. E, por último, a valorização das criptomoedas - como a Ethereum e Bitcoin - que ocorreu diante de uma crise sanitária-econômica que parou uma parte do mundo durante 2020. Em 11 de abril do ano passado, um Ether era comercializado por US$ 159 (cerca de R$ 896). Nesta sexta-feira (09) um Ether está valendo US$ 2.077 (que é aproximadamente R$ 11.714), de acordo com Carlos Henrique Campello. Os valores em reais foram calculados com o dólar a R$5,64.

Segundo os especialistas, mais pessoas também estão "minerando" (processando os dados)  criptomoedas, porque ao fazer isso também recebem neste tipo de moeda. "Fazer esse tipo de atividade virou uma indústria bilionária. Ficou atrativo minerar com as placas de vídeo, porque elas têm um poder computacional grande", explica Marcos Vínicius, especialista em criptoativos.

"Antes da pandemia, a gente pensava que as criptomoedas iam demorar uns 10 anos para impactar o mundo real. Mas com a crise sanitária, chegou um tempo de se reinventar, muita gente ficou desempregada, os bancos começaram a investir nesta área e agora esta é uma tecnologia que está em busca de consolidação", resume o coordenador da CakeRoll Game Lab, Ivaldir de Farias Júnior. Ele tem um laboratório de games incubado no Softex e disse que não foi impactado pela alta dos preços dos equipamentos por "questão de meses". Um dos games desenvolvidos pela startup foi o Ice Cream Company, jogo com foco em Gestão Financeira e Empreendedorismo destinado a um público alvo que vai dos 9 aos 14 anos.

E a alta do preço das placas de vídeos também está chegando a vários dispositivos, como computadores e tablets, segundo o sócio diretor da Manifesto Games, Vicente Vieira. "A alta das placas de vídeos e dos equipamentos não impacta a indústria de games que teve um ano bom em 2020. Em alguns meses do ano passado, as nossas vendas chegaram a aumentar 100%", explica Vicente. Para ele, os mais impactados serão os produtores independentes e as startups que estão começando agora. A indústria global de jogos digitais registrou um crescimento de 20% em 2020, alcançando um faturamento estimado em US$ 174,9 bilhões, segundo pesquisa da Newzoo.

 

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