GOLPE

Crise econômica e desejo de dinheiro fácil trazem de volta as pirâmides financeiras; não se iluda, é furada!

Tem aumentado o número de empresas oferecendo pirâmides financeiras que dão lucro maior do que os existentes no mercado. Elas funcionam, enquanto vai aumentando o número de participantes. Depois disso, fecham e é difícil reaver o dinheiro que foi investido

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Angela Fernanda Belfort

Publicado em 19/09/2021 às 6:30
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Em época de crise, aperto financeiro e desemprego em alta, a sedução por ganhar um dinheiro de uma forma mais fácil e rápida parece que ficou maior. Um dos indicadores disso foi a quantidade de denúncias que a Comissão de Valores Imobiliários (CVM) enviou aos Ministérios Públicos Federal e Estaduais que totalizaram 325 notificações de indícios de crimes financeiros no ano passado. Isso significou um aumento de 75% sobre o ano anterior. Dos 325 casos encaminhados à Justiça, 175 apresentavam indícios de serem pirâmides financeiras. Somente o Procon-Pernambuco interditou, este ano, 13 empresas que faziam este tipo de crime tendo como público alvo aposentados, pensionistas e funcionários públicos que tiveram um prejuízo de cerca de R$ 40 milhões.

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Mas o que é uma pirâmide financeira? Geralmente é um negócio que promete uma rentabilidade maior do que as existentes no mercado, de forma fácil, rápida e sem ser sustentável. A maioria delas vai se mantendo, enquanto vão entrando novos investidores que remuneram os que já estão fazendo este tipo de transação. E aí quando param de entrar novos sócios, todo o esquema desmorona e os investidores perdem tudo o que colocaram. Este tipo de iniciativa vai inchando porque as primeiras pessoas chegam a receber o prometido, o que vai estimulando novas pessoas a entrarem nos esquemas, acreditando que também vão receber a remuneração prometida.

"No caso das financeiras, os golpistas ligaram para as pessoas dizendo que elas ainda tinham uma margem de um X de empréstimos que poderiam fazer, mostrando as vantagens de fazer esse dinheiro render. As pessoas pegaram o empréstimo e assinaram um contrato cedendo este crédito às financeiras, que aplicariam o dinheiro e se comprometeriam a depositar, mensalmente, as parcelas do empréstimos mais a rentabilidade. Estas empresas chegaram a pagar as primeiras parcelas dos empréstimos com a rentabilidade prometida. Depois disso, as pessoas que tinham feito essa transação chamaram um irmão, um tio e aí foi aumentando a quantidade de pessoas. Consideramos uma pirâmide financeira, porque os primeiros foram remunerados, foi aumentando o número de participantes e depois estas empresas fecharam e sumiram. E os prejudicados vão ter que bancar as parcelas dos financiamentos", explica a gerente geral do Procon Pernambuco, Danyelle Sena.

Segundo ela, o maior problema é reaver o dinheiro das pessoas que acreditaram no golpe das financeiras que, numa estimativa da Polícia Civil de Pernambuco, chegaram a receber R$ 40 milhões dos prejudicados. O Procon-PE não sabe ao certo quantas pessoas foram lesadas, mas recebeu mais de 2040 reclamações de consumidores que participaram deste tipo de transação. "A maioria das pessoas fez parcelas de empréstimos que serão descontadas por 48 a 90 meses. Encontramos um caso de uma única pessoa que transferiu R$ 260 mil com a promessa de que o dinheiro ia render", comenta Danyelle.

Outro fator que chamou a atenção do Procon-PE é que essas financeiras tinham os dados dos aposentados, como nome, salário, margem de comprometimento de financiamentos na aposentadoria e telefone, entre outros. Até agora, o Procon não sabe como essas dados foram adquiridos pelas empresas golpistas. E a Polícia Civil está investigando isso.

Este tipo de pirâmide das financeiras aumentou porque o Procon interditou apenas uma empresa oferecendo este tipo de serviço no ano passado. Em 2021, já foram 13, incluindo 10 fechadas durante a Operação Summit, em agosto último, realizada simultaneamente no Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia. "A maioria destas empresas tinha sede no Rio de Janeiro e atuava como correspondente bancário. Como o mercado lá saturou, elas entraram com força principalmente em Pernambuco e na Bahia", revela Danyelle.

PERFIL

As pirâmides financeiras são destinadas a todo tipo de público e envolvem vários setores. A CVM também fez uma pesquisa com pessoas que já participaram de pirâmides financeiras e outros golpes em todo o Brasil. O perfil dos que acreditaram neste tipo de "negócio" foi o seguinte: 91% eram homens, 71% concluíram a graduação ou eram pós-graduados, 23% tinham renda familiar de dois a cinco salários mínimos e 36,5% tinham de de 30 a 39 anos.

Este mesmo estudo também constatou que na maioria dos casos o investimento seria em criptomoedas, sendo que somente o bitocoin (moeda digital) correspondia a 43% deste total. Neste tipo de golpe, o meio de divulgação mais comum para atrair os novos investidores é o WhatsApp com 27,5% logo em seguida vem o boca a boca com 19,7%, ainda de acordo com o levantamento feito pela CVM.

Também é muito comum o esquema de pirâmide funciona com um vendedor no topo das negociações. "Ele vai atraindo membros para expandirem os seus negócios, onde cada pessoa é responsável por conquistar novos integrantes. Em cadeia de níveis, cada novo membro faz investimentos iniciais e os que estão mais abaixo vão fomentando investimentos de maneira que eles subam e alimentem quem está no topo", conta o advogado Daniel Lima. Ele diz também que “o foco deste tipo de aplicação não está na comercialização de produtos ou serviços, mas na adesão com a apresentação de aportes financeiros em massa”.  

DICAS

O consumidor/investidor pode ficar atento e seguir algumas dicas. A primeira é investigar bem antes de investir. A informação é a primeira arma contra golpes financeiros e o consumidor também deve desconfiar de promessas de retornos elevados com baixo risco. "O consumidor não deve se iludir com promessas de lucros que geralmente não existem no mercado", lembra Danyelle. Geralmente, os papéis ou atividades mais rentáveis são os que apresentam maior risco. Somente as instituições autorizadas podem oferecer operações no mercado de valores mobiliários. Ou seja, essas instituições tem que estarem cadastradas na CVM.

A outra dica é ligar o desconfiômetro. Se é bom demais para ser verdade, é difícil que essa proposta seja real. Antes de decidir empregar dinheiro, responda questões objetivas, como quem é essa empresa, há quanto tempo existe, consulte informações nos sites de notícias sérios. E faça um teste: Se você não consegue explicar a alguém pelo menos as principais características do negócio escolhido é mais um motivo para desconfiar.

Também chama a atenção o fato de que os golpistas são, geralmente, pessoas simpáticas e que estão habituadas a mentir. Às vezes, até uma consulta na internet é suficiente pra desmascarar uma mentira. E, por último, "as pessoas não devem fornecer os seus dados para desconhecidos", aconselha Danyelle, acrescentando que as pessoas podem procurar ver quem é a empresa também no Procon-PE.

A instituição aconselha a pessoa prejudicada a procurar a Delegacia de Estelionato, fazendo um boletim de ocorrência para que seja aberto um inquérito, pois se trata de uma fraude.

E ainda sobre os empréstimos, o Procon diz que o consumidor também deve acessar o site do Banco Central Brasil que disponibiliza a relação de todas as instituições financeiras autorizadas a proceder com empréstimos consignados.

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