Como o couro de bode e de carneiro está gerando emprego e renda no Sertão de Pernambuco
Curtume e fábrica localizados na cidade Floresta (PE) transforma o couro de bode em vestimenta e calçados e abastece mercado nacional
O Polo de Confecções do Agreste pernambucano é bastante conhecido pela sua importância econômica. Englobando cerca de dez municípios, destacando Santa Cruz do Capibaribe, Toritama e Caruaru, os principais produtores. O polo de confecções de Pernambuco gera centenas de milhares de empregos, formais e informais, e começou a se formar na década de 60.
Bem mais recente, como números proporcionalmente não tão grandiosos, mas fortes o suficiente para também modificar a realidade da população de sua região, o Sertão do São Francisco, e mais especificamente a cidade de Floresta, a 434 km do Recife, a atividade de curtimento de peles de bode e de carneiro gera sua riqueza própria.
EMPREGOS
É na empresa Cabritos da Floresta, fundada há 15 anos, que o setor está ancorado, gerando cerca 400 empregos, sendo cerca de 260 empregos diretos e mais 140 em parceria com trabalhadores da Associação dos Agropecuaristas Cabritos da Floresta, composta por mão de obra local, que recebem da empresa os materiais necessários ao processo produtivo, gerando assim as suas remunerações de forma independente. “Esse suporte via a associação é fundamental para dar agilidade aos nossos serviços, além de gerar transformação social e dar oportunidade de trabalho. Algumas mulheres deste grupo desenvolvem as suas funções sem sair de casa, costurando as luvas que fabricamos e assim, tendo mais qualidade de vida”, detalha o diretor executivo da Cabritos, Adriano Ferraz.
A Cabritos da Floresta funciona como curtume, um dos maiores de Pernambuco, comprando peles de bode e de carneiro de todo o Nordeste para processamento e transformação no couro que abastece empresas dos setores de moda, vestuário, calçados, móveis e artesanato. A Cabritos faz o curtimento de cerca de 150 mil peles por mês. Com esse mesmo couro, a Cabritos também fabrica mensalmente em sua unidade própria 60 mil unidades de botas, luvas, perneiras e aventais, que servem como equipamentos de proteção individual (EPI’s) também repassadas para revendedoras do Nordeste e parte de São Paulo e de Minas Gerais.
Somente com o couro produzido pela empresa localizada no Sertão pernambucano e enviado para o Sul e Sudeste do Brasil, são produzidos 500 mil pares de sapatos sociais por mês por grandes marcas da indústria nacional de calçados. O faturamento anual da Cabritos chega a R$50 milhões.
As atividades de curtimento no País ainda são pequenas diante da grande demanda para o produto couro, afirma o diretor Adriano Ferraz. “Vendemos a matéria-prima para o mundo todo, pois esse couro uma vez trabalhado, pode ser transformado em peças de vestuário como bolsas, sapatos, cintos e roupas, artigos dos mais simples aos mais luxuosos, e tantas outras destinações. Entretanto, no Brasil, somente no Nordeste há esse tipo de atividade concentrada em três ou quatro empresas”, explica Ferraz.
De acordo com o diretor, os incentivos fiscais via Governo do Estado, através do Programa de Desenvolvimento de Pernambuco, o Prodepe, foram importantes para estruturar a empresa, mas, entre os gargalos para seguir competitivos nesse mercado, estão a distância das grandes capitais que tornam a logística de distribuição e de comercialização mais difíceis, a qualificação da mão de obra e, até mesmo, a cultura da região que, muitas vezes, impede que as pessoas se desenvolvam por não terem acesso à educação e formação profissionalizante.
A gerente comercial da Cabritos, Daynise Torres diz que um grande desafio é a capacitação da mão de obra. "Hoje eu não tenho, por exemplo, pessoal qualificado para produzir uma jaqueta em couro, que exige uma mão de obra mais diferenciada. O Sebrae nos dá um suporte interessante, mas a mão de obra mais específica é formada com gente de fora, que correspondem a, digamos, 2% do nosso pessoal", explica. Daynise reitera que a maior parte dos funcionários está no curtume e na fábrica, mas a empresa permitiu que pessoas de diferentes realidades participem do processo de produção. "Hoje nós temos mulheres que moram nas fazendas. Nós levamos o couro até elas, na Zona Rural, para que elas possam, de suas casas, produzir as peças para a fábrica".
“Mais da metade do nosso corpo de trabalho é composto por mulheres que viviam situações bem precárias e histórias complicadas de vida e de família. Mulheres sertanejas que não tinham nenhuma experiência profissional e que através dos nossos programas de capacitação tiveram a oportunidade de mudar suas trajetórias de forma digna e hoje conseguem vislumbrar um futuro melhor”, comenta Adriano Ferraz.
FUTURO
Segundo a gerente Daynise de 2020 para cá a demanda pelos produtos de couro tem crescido. A empresa agora está focada em agregar valor a cadeia da caprinocultura, diz ela. "Nosso desejo é potencializar o uso do couro, para isso estamos lançando uma linha premium voltada para o varejo. São as botas de vaqueiro, que são culturalmente aceitas e muito solicitadas na nossa região", explicou.
A coleção é batizada de "Bioma Sertanejo" e traz nomes de elementos representativos do bioma da Caatinga. São eles: xique-xique, mandacaru, tamarindo e cacto. Com o novo lançamento, a empresa estima gerar até o final deste ano, mais 100 empregos. Segundo o diretor Adriano, a ideia é ampliar a capacidade de produção da fábrica, agregando valor ao couro com melhor acabamento e criando novos produtos para todo o mercado consumidor. “Nosso lema é produzir local e vender global, e assim, vamos fortalecendo a nossa região trazendo desenvolvimento e elevando o nosso Estado para todo o mundo”, conclui.