Orla de Boa Viagem comemora 100 anos em 2024 com promessa de revitalização
Em 2024, a construção da Avenida Boa Viagem completa 100 anos, justo no momento em que passa por um processo de requalificação, com investimento de R$ 112,6 milhões
Era uma segunda-feira, 20 de outubro de 1924, quando o então governador de Pernambuco, Sergio Loreto, chegou em Boa Viagem na limousine oficial do governo do Estado. Vinha acompanhado de uma carreata com 80 carros para inaugurar parte da Avenida Beira-Mar, hoje Avenida Boa Viagem.
Naquela época, talvez ele não soubesse que a orla se transformaria em um dos principais cartões postais de Pernambuco, mas entendia que a estrada estimularia o desenvolvimento local. A obra, que ficaria completamente pronta em 1926, transformou a vida do bairro de Boa Viagem.
Em 2024, a construção da Avenida Boa Viagem completa 100 anos, justo no momento em que passa por um processo de requalificação. O prefeito do Recife, João Campos (PSB), anunciou um investimento de R$ 112,6 milhões, com recursos próprios, para requalificar os 11 quilômetros de toda a orla recifense, passando por Brasília Teimosa, Pina e Boa Viagem. A expectativa é concluir as obras até 2025.
Intitulado Projeto Orla Parque, a proposta é transformar os 11 quilômetros em um espaço contínuo, onde a população poderá percorrer toda a extensão das praias, encontrando infraestrutura adequada e espaços de convivência. Este será o maior investimento integrado na orla, desde 2008, quando foi trocado todo o piso do calçadão e outras obras ao custo de R$ 18 milhões. Corrigido, o valor chega próximo ao que será aplicado pela gestão atual.
Ao longo de um século de história, a orla de Boa Viagem recebeu intervenções pontuais. A diferença, agora, é que passará por uma requalificação completa, com obras de infraestrutura, segurança, iluminação, paisagismo e espaços de lazer.
O projeto começou com um investimento de R$ 10,2 milhões na reforma dos 60 quiosques das praias de Boa Viagem e Pina. Após anos de arrombamentos, furtos e degradações, os novos equipamentos foram entregues em março aos comerciantes e à população.
Agora vão começar as reformas da estrutura física do calçadão e aumento da área verde, além da construção de novos banheiros, melhorias na segurança e na iluminação. No projeto, a quantidade de banheiros vai dobrar. Os dez existentes serão reformados e outros onze serão construídos. Para garantir a durabilidade e facilitar a manutenção, a aposta será em paredes de concreto de alto desempenho, além de pias e vasos de metal para evitar ações furtos ou depredações.
A Secretária do Gabinete de Projetos Especiais, Cinthia Mello, conta que a elaboração do projeto levou dois anos, fazendo levantamentos na orla e ouvindo a população. “Hoje só temos 49% da orla sendo utilizada, isso porque as pessoas se concentram onde estão as árvores. Para potencializar os 51% restantes, catalogamos todas as árvores e vamos ampliar a área verde. Com isso, esperamos desconcentrar a ocupação da população", acredita.
A meta da Prefeitura do Recife é, em até seis anos, plantar mais 730 árvores ao longo de toda extensão da orla. Somando com as 582 já existentes, serão 1.320 árvores no total, representando um incremento de 126% de área verde.
No Projeto Orla Parque, iluminação e segurança vão caminhar juntas para garantir mais tranquilidade à população. O prefeito João Campos explica que a iluminação vai se adequar às necessidades locais. "Percebemos que só a iluminação nos postes não é suficiente, porque a sombra das árvores escurece os locais. Por isso vamos colocar iluminação debaixo da copa das árvores", adianta.
A ideia é melhorar a iluminação pública, tanto na parte da pista dos carros quanto no calçadão e embaixo de todas as árvores, transformando a orla em um local mais seguro também à noite. O número de postes vai subir de 130 para 510 postes, um incremento de 400%. Isso significa que a cada 14 metros haverá um aparelho de iluminação.
Será feito um reforço no videomonitoramento com 20 câmeras 360 graus e outras 120 fixas. Isso significa 140 equipamentos a mais para monitorar os 11 quilômetros de extensão da orla. "Também fechamos parceria com o 19º Batalhão da PM para atuar em tempo real. Além disso, serão implantados cinco pontos fixos para policiamento em Setúbal, na Pracinha de Boa Viagem, no Segundo Jardim, no Pina e no Buraco da Véia", detalha a secretária.
As obras de infraestrutura também vão beneficiar o comércio, por meio do saneameno e da orla. Hoje, a maioria dos usuários dos quiosques não têm acesso à água potável e pecisam recorrer a garrafões de 20 litros de água mineral para manter os quiosques funcionando.
HISTÓRIA DE BOA VIAGEM
O professor do Departamento de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Rômulo Xavier, lembra que durante muito tempo, desde os documentos coloniais, a área que hoje vai do Pina até Candeias era chamada de Candelária. "Antigamente, a vida social existia muito em função do banho de rio. No Recife, o banho de mar veio depois, no final do século XIX e início do século XX", observa.
Boa Viagem era lugar de veraneio e vila de pescadores com suas palhoças. Na Pracinha de Boa Viagem, a a igreja em invocação de Nossa Senhora da Boa Viagem tem data na fachada de 1707, mas as informações históricas são de que a primeira missa teria sido rezada em 1730.
Rômulo Xavier diz que a imagem do governador Sergio Loreto estava ligada à modernidade e à tentativa de ampliar a cobertura do saneamento básico. "A Avenida Boa Viagem, na década de 1920, foi um desses marcos na modernidade. O lugar passou a ser um atrativo muito grande, sendo visto como um local de especulação imobiliária. Assim como aconteceu com o Paiva, que não existia, e agora tem a nova Barra de Jangada", compara.
No seu centenário, Boa Viagem se prepara para viver um novo ciclo histórico e de revitalização. Dessa vez, já presente na memória afetiva de moradores, turistas e de estudiosos. A orla de todos os pernambucanos.