Automobilismo

Rio encaminha acordo com a Fórmula 1 e pode ultrapassar São Paulo no GP

Candidatura do Rio oferece pacote de US$ 65 milhões (cerca de R$ 339 milhões na cotação atual) anuais para a categoria, mas falta licença ambiental para construir o autódromo

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Publicado em 01/07/2020 às 8:56 | Atualizado em 01/07/2020 às 9:27
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Rio Motosports terá que correr contra o tempo caso vença a concorrência para sediar o GP do Brasil, pois o autódromo só existe no papel - FOTO: Divulgação



O consórcio Rio Motorsports encaminhou nos últimos dias o acordo com a Fórmula 1 para a realização do GP do Brasil por dez edições a partir de 2021. O Estadão apurou que as conversas estão concluídas. A tendência é que o anúncio oficial seja realizado nas próximas semanas e possa, assim, estar confirmado que a prova deixará Interlagos para ser disputada em um autódromo previsto para ser construído no bairro de Deodoro. As obras ainda não começaram por falta de licenças ambientais. Os organizadores terão, portanto, de correr contra o tempo.

As negociações entre o consórcio e a cúpula da Fórmula 1 se intensificaram nos últimos meses. Reuniões por teleconferência e a troca de versões atualizadas do contrato marcaram as conversas entre os envolvidos. Na semana passada, as duas partes conseguiram chegar a um acordo sobre um complexo pacote de contrapartidas, que vai desde os valores da taxa de promoção até a venda de ingressos VIPs e a indicação de patrocinadores.

Pacote milionário

Para atrair a Liberty Media, que detém os direitos da Fórmula 1, a candidatura do Rio oferece pacote de US$ 65 milhões (cerca de R$ 339 milhões na cotação atual) anuais para a categoria. Desse valor, US$ 35 milhões (183 milhões) são para a taxa de promoção, valor cobrado pela F-1 para organizar as provas, e mais US$ 30 milhões (R$ 156 milhões) de receita garantida para a Fórmula 1 pela venda de ingressos VIPs.

Para viabilizar os primeiros anos de pagamento da taxa de promoção, a candidatura carioca conta com a liberação feita ano passado pelo governo estadual de um valor de R$ 302,4 milhões. O valor foi aprovado em novembro pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude do Rio de Janeiro e virá de renúncia fiscal a partir de empresas interessadas em repassar até 3% do ICMS para recolhimento para o projeto intitulado "Fórmula 1 Rio de Janeiro de 2021-2030". O repasse ao consórcio será feito em parcelas anuais até 2022.

Foram justamente as garantias financeiras maiores que pesaram para o Rio despontar no momento como favorito para desbancar São Paulo, sede do GP do Brasil de forma ininterrupta desde 1990. A prova paulistana tem contrato para receber a etapa somente até este ano e sinalizou meses atrás com uma proposta de US$ 20 milhões (R$ 104 milhões) pela taxa de promoção para renovar o acordo. Junto com Mônaco, o GP do Brasil é o único do calendário atual da Fórmula 1 que não paga essa taxa aos donos da categoria A corrida deste ano em São Paulo ainda não foi confirmada por causa da pandemia.

A decisão da Fórmula 1 sobre o destino da prova brasileira não deve demorar porque até julho a entidade pretende montar um rascunho de como será o calendário do próximo ano. Essa versão prévia é necessária porque no próximo mês a entidade vai realizar uma reunião com o Federação Internacional do Automobilismo (FIA) para escolher quais provas vão fazer parte do campeonato em 2021, um procedimento comum todos os anos.

O consórcio interessado em construir o autódromo pretende investir R$ 700 milhões para viabilizar a obra em um terreno na zona oeste do Rio, área que pertence ao Exército. O Rio Motorsports promete contar apenas com recursos privados para erguer o empreendimento. Além da negociação com a Fórmula 1, já assinou contrato com a MotoGP. A categoria de motociclismo tem acordado de realizar provas no Rio a partir de 2022.

Sem licença ambiental para o autódromo

Apesar da negociação com a Fórmula 1, a obra ainda não tem data para começar. Há apenas o terreno no local. O consórcio precisa da emissão de licenças e estudos de impactos ambientais para iniciar a construção. Uma audiência pública destinada para essa finalidade foi cancelada em março por causa da pandemia e remarcada meses depois para realização por videoconferência. No entanto, o compromisso acabou desmarcado por decisão da Justiça.

O tempo necessário para se construir o autódromo é de aproximadamente 14 meses. A Rio Motorsports foi procurada e disse que não se pronunciará sobre o assunto. Da mesma forma, a Liberty Media, que organiza o Mundial junto à Federação Internacional de Automobilismo (FIA), ainda não respondeu pedido de entrevista do Estadão. Os promotores do GP de São Paulo, também procurados, ainda sem sucesso, costumam dizer que a capital paulista ainda tem contrato em vigência.

Procurada pelo Estadão, a organização do GP do Brasil garantiu que continua com negociações abertas com a categoria. "A organização do GP Brasil está segura de que as negociações para a renovação do contrato da Fórmula 1 com a cidade de São Paulo estão bem encaminhadas e serão retomadas assim que se resolva a questão imediata - a definição do novo calendário de 2020, afetado por conta da covid-19. Por questões contratuais e solicitação de sigilo por parte da Liberty Media, não podemos fornecer mais detalhes", disse em nota.

O Governo de São Paulo afirmou que também mantém as negociações para renovar contrato. "O Grande Prêmio do Brasil é realizado em São Paulo desde 1990. É reconhecido pelo público, pelos pilotos e organizadores do campeonato como um dos melhores e mais tradicionais de toda a Fórmula 1. O Governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo seguem em negociação com os organizadores para manter a corrida na cidade", disse ao Estadão.

Negócio rentável

O GP do Brasil de Fórmula 1 movimenta perto de R$ 300 milhões no turismo da cidade de São Paulo, segundo estimativa da Secretaria Municipal de Turismo da Prefeitura. Na edição de 2018, por exemplo, o evento movimentou cerca de R$ 280 milhões. Anualmente, a prova em São Paulo vinha registrando um aumento nesse quesito de 5% a 8%. Ainda de acordo com a Secretaria Municipal de Turismo, a ocupação hoteleira na cidade chega a 97% no fim de semana da corrida, cujo evento começa na sexta-feira com os primeiros treinos livres.

 

 

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