Pelé conta que quando o Uruguai marcou o gol da vitória na Copa do Mundo de 1950 contra o Brasil, seu pai chorou e o menino, com apenas 9 anos de idade, prometeu que um dia conquistaria um Mundial.Em 16 de julho de 1950, o Uruguai venceu sua segunda copa ao derrotar o Brasil de virada por 2x1, com gols na reta final de Schiaffino e Ghiggia, no Maracanã, o gigantesco estádio construído no Rio de Janeiro especialmente para o torneio.
#OnThisDay in 1950, @Uruguay won the #WorldCup by beating Brazil 2-1 at the Maracana pic.twitter.com/YlGs1o6tAE
— FIFA World Cup (@FIFAWorldCup) July 16, 2018
O 'Maracanazo' teve um impacto muito maior do que outras decepções do futebol, como a derrota do Brasil na final da Copa do Mundo de 1998 contra a França ou o 7 a 1 que a Alemanha lhe aplicou em pleno Mineirão, em Belo Horizonte, na semifinal da Copa de 2014. Para o sociólogo Fernando George Helal, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o "trauma" é explicado em grande parte porque o Brasil era, em 1950, um país que procurava se posicionar no mundo, numa época de consolidação do Estado-nação.
Next up on our stadium tour is the one and only Estádio do Maracanã ????????????
— FIFA Museum (@FIFAMuseum) June 26, 2020
This photo from our archive shows the stadium being built ahead of the 1950 @FIFAWorldCup, and today it is one of just two stadiums to have hosted two @FIFAWorldCup Finals??????
Can you name the other one?????? pic.twitter.com/Tak58PWyyT
O resultado dessa partida era vivido então como "a vitória ou derrota de um projeto da nação brasileira", baseado na história de um país de harmonia racial, unido em torno da bola, disse Helal em entrevista à AFP.
"Até a década de 1930 não tínhamos aqui no Brasil uma ideia do que era a nação brasileira", e esta noção foi elaborada em grande medida pelo sociólogo Gilberto Freyre, que em sua obra "Casa Grande e Senzala", de 1933, "traz a miscigenação como um atributo de valor positivo para o brasileiro" e que segundo autores que surgiram depois encontrou um claro expoente nas chuteiras do futebol.
Here's a #Throwback snap from 1950 of the Uruguayan delegation at the 27th FIFA congress in Rio De Janeiro ????????
— FIFA Museum (@FIFAMuseum) December 12, 2019
Little did they know that, in just a few short weeks, @Uruguay would lift the @FIFAWorldCup trophy once again ???????????????? #TBT @AUFOficial pic.twitter.com/e6OsGaf0nk
Essa idealização já havia sido questionada em 1950 pelo Projeto Unesco, que pretendia entender como funcionava uma "democracia racial, porque aqui não tinha segregação sistemática das raças como tinha nos Estados Unidos ou na África do Sul". Mas "descobrimos que havia sim racismo, um racismo velado, com a questão do empobrecimento".
#OnThisDay in 2015, legendary @Uruguay forward Alcides Ghiggia, who scored the winning goal against Brazil in the 1950 #WorldCup Final, died at the age of 88. #RIP pic.twitter.com/Pwxutnhaq3
— FIFA World Cup (@FIFAWorldCup) July 16, 2018
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BARBOSA E A 'PENA ETERNA'
O coração do Brasil, para...
— Club Plaza Colonia (@PlazaColonia) May 30, 2019
En el histórico Estadio Pacaembu (Sao Paulo), se encuentra el Museo do Futebol.
En él se encuentra mucho de la rica historia del fútbol brasilero.
Compartimos con Ustedes, lo que más nos gustó...#Maracanazo #Uruguay #Brasil #1950@AUFOficial pic.twitter.com/1MklBmtI8F
Para a opinião pública nacional, o grande culpado do 'Maracanazo' foi o goleiro negro Moacir Barbosa. Essa cruel 'condenação' cresceu ao longo dos anos e pesou sobre o próprio jogador, apesar de ele continuar atuando em grandes clubes. "A pena máxima no Brasil é de 30 anos, e eu estou há 40 anos pagando" por essa derrota, disse Barbosa nos anos 90. Para Helal, o trauma se arrastou até a conquista do tricampeonato, na Copa do México-1970, que foi vivida "como uma vitória da nação brasileira".
Falleció Alcides Ghiggia, la CONMEBOL se adhiere al dolor del pueblo uruguayo https://t.co/QuztYe4Z5P pic.twitter.com/tqID7hJEyB
— CONMEBOL.com (@CONMEBOL) July 16, 2015
E com o passar do tempo, a sociedade brasileira entendeu que "os jogos da seleção são vitórias ou derrotas esportivas", incluindo o 7 a 1 de 2014 em casa. "Em 1950 foi uma tragédia, em 2014 um vexame, que virou meme, porque as pessoas não deram tanta importância", disse Helal, acrescentando que isso mostra "uma maior maturidade da sociedade".
Remembering a Uruguay legend, who passed away 1?7? years ago today.
— FIFA World Cup (@FIFAWorldCup) November 13, 2019
Juan Alberto Schiaffino starred in the 1950 #WorldCup final, scoring one of the goals that broke Brazilian hearts in the fabled Maracanazo ???????????? @Uruguay | #OnThisDay pic.twitter.com/nGfdnlb0RT
Além disso, os torcedores tendem a se identificar mais com seus clubes do que com a seleção, segundo ele. "Eu sou Flamengo, e se me perguntam se prefiro que o Flamengo ganhe a Libertadores ou a seleção conquiste a Copa do Mundo, respondo sem hesitar: prefiro que o Flamengo ganhe a Libertadores", confessa. Quanto a Pelé, ele conseguiu cumprir rapidamente a promessa que para seu pai. Apenas oito anos depois, o jovem prodígio conquistou a Copa do Mundo na Suécia em 1958, a primeira das cinco erguidas até hoje.
PODCAST
Ouça um podcast especial sobre a Copa do Mundo de 1950, com destaque para as atuações de Ademir Menezes, o primeiro pernambucano a jogar um Mundial; e também todos os detalhes da grande final entre Brasil x Uruguai, com direito ao segundo gol do Uruguai narrado pela Rádio Nacional.
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