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Longe do 'jogo bonito', Brasil de Neymar luta para defender o legado de Pelé

Uma nova geração luta para estar no nível das equipes nas quais o aniversariante Pelé imortalizou há meio século

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Publicado em 21/10/2020 às 8:46 | Atualizado em 21/10/2020 às 8:46
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PRIMEIRA FASE Atual campeão, o Brasil terá Colômbia, Equador, Peru e Venezuela como adversários na etapa inicial da Copa América - FOTO: DANIEL APUY/AFP

Para ser rei é preciso ter a coroa, e a seleção brasileira da qual Neymar é sua maior estrela ainda não tem alguém à altura para usar um ornamento desses. Longe do 'jogo bonito' que transformou o Brasil em potência mundial, uma nova geração luta para estar no nível das equipes nas quais o aniversariante Pelé imortalizou há meio século.

A seleção de Neymar e companhia iniciou um caminho de reconstrução após aquele escandaloso 7 a 1 diante da Alemanha na Copa do Mundo de 2014, que envergonhou Pelé, o melhor jogador do século XX segundo a Fifa e que completa 80 anos na sexta-feira.

A vergonha sentida pelo Rei do futebol não foi pequena, pois ele a considerou mais profunda que a provocada pelo Maracanazo. Palavras de um homem que disse que a derrota para o Uruguai, na final da Copa de 1950, no Rio de Janeiro, fez seu pai chorar e o motivou a conquistar um Mundial como consolo para ele. No fim das contas, Pelé deu ao povo brasileiro três dos cinco títulos em Copas que o país tem.

"O Brasil sempre vai ter uma seleção protagonista, uma seleção forte. E Neymar para mim é um craque", disse à AFP Jorge Barraza, colunista de vários veículos latino-americanas e autor do livro "Futebol, ontem e hoje".

"Mas o futebol brasileiro é muito diferente do que foi no passado, na época de Pelé (...) O 'jogo bonito' se perdeu", acrescentou.

A marca registrada do futebol no Brasil foi patenteada quando o Rei jogava pelo Santos e pela Seleção Brasileira nos anos 60. Era posse de bola, como o Barcelona de Guardiola, com uma força letal, parecida com o Liverpool de Klopp.

"Era um jogo de preciosismo, mas com contundência. Te conquistava. Toque e toque e chegada, futebol ofensivo. Era uma coisa espetacular", lembra Barraza.

Pelé regeu aquela orquestra em que prodígios como Vavá, Zagallo, Didi, Rivelino, Tostão, Gilmar, Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho e Carlos Alberto solavam em momentos diferentes.

Como resultado, três Copas do Mundo: 1958, 1962 e 1970, sendo que esta última foi conquistada por aquela que é considerada por muitos a melhor seleção da história da competição mundial.

"Todos os clubes nessa época tinham cinco ou seis craques. Nas seleções brasileiras você não sabia quem convocar", disse Barraza.

"Agora não há essa abundância de bons jogadores que havia antes no Brasil. Hoje há bons jogadores, mas não como antes".

Perda da essência 

O futebol da atual seleção não enche os olhos, mas garantiu o domínio sul-americano ao vencer a Copa América de 2019, o primeiro título do combinado nacional desde a Copa das Confederações de 2013, sendo ambas competições disputadas no Brasil.

Alguns brasileiros definem o estilo de jogo da equipe atual como "chato", sem graça, mas que está um ou dois degraus acima de seus vizinhos regionais, que não a derrotam em partidas oficiais desde junho de 2016 (Peru 1 a 0).

No entanto, reúne talentos como Neymar, Roberto Firmino, Casemiro, Philippe Coutinho, Thiago Silva ou Richarlison com a liderança de Tite, o homem encarregado de comandar a reconstrução após o desastre de Belo Horizonte em 2014 e na Copa América de 2016, na qual a seleção foi eliminada na fase de grupos.

Um combinado bem diferente daquele que conquistou a Copa do Mundo de 2002, a última verde-amarela, com figuras como Ronaldo, Ronaldinho, Cafu, Roberto Carlos ou Rivaldo.

"Tite está atento aos novos tempos. O treinador vai precisar de sabedoria e ajuda", escreveu Tostão, hoje cronista esportivo, no jornal Folha de S. Paulo. "Não basta saber, é preciso saber fazer e observar bem". A seleção de Tite possui um poder ofensivo e uma força defensiva que lhe permitem lutar sem complexos com as seleções europeias, em um momento em que as equipes do Velho Continente dominam o futebol.

Mas faz isso com uma fórmula mais próxima da Europa do que das raízes sul-americanas da malandragem, do jogo de cintura e do drible: laterais rápidos, jogo agudo, pressão na saída de bola, o coletivo acima do individual.

Ao contrário da época de Pelé, em que os jogadores de futebol da região se consagraram em seus países de origem, agora eles cruzam o Atlântico na adolescência, adaptando os ensinamentos e as necessidades de um futebol tradicionalmente oposto ao sul-americano.

"Essa garotada não viu o 'jogo bonito' em ação, não viu o verdadeiro 'jogo bonito' que o Brasil apresentava, e ninguém consegue imitar o que não viu", finaliza Barraza. "Esse é o problema". O caminho em busca do Mundial do Catar vai servir para mostrar como Neymar e seus companheiros entrarão para a história. Aconteça o que acontecer, Pelé os observa do alto de seu trono.

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