CAMISA SELEÇÃO BRASILEIRA 2022

CAMISA DO BRASIL: técnico da seleção brasileira revela posicionamento sobre partidarismo do uniforme

O técnico da seleção brasileira, Tite, comentou sobre as polêmicas envolvendo a camisa da seleção brasileira

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Julianna Valença

Publicado em 25/08/2022 às 7:25
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De Agência Estado
Desde antes do seu lançamento oficial, a camisa do Brasil tem levantado polêmicas, principalmente no âmbito da política partidária. O técnico da seleção brasileira, Adenor Bachi, o Tite, falou ao Estadão o que achava da relação do uniforme com partidos.
O Técnico disse ainda que que não irá a Brasília depois das eleições para presidente, seja quem for o novo comandante da nação, e do torneio no Catar caso o Brasil conquiste o hexa. 
"O direito que eu me dou é dar o melhor no trabalho e a seleção brasileira é um patrimônio cultural e educacional, não é partidário", afirma.
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O Estadão conversou com Tite e com o auxiliar Cléber Xavier, durante uma hora em São Paulo nesta semana. Eles estão juntos há 21 anos e dividem tudo, inclusive as respostas. Tite tem sempre a última palavra, mas ouve seu parceiro com muita atenção.

Confira a entrevista: 

Vivemos em um País no qual a política está em efervescência, sobretudo agora, às vésperas da eleição para presidente. Por que a comunidade do futebol não se envolve em política?
Tite: Democraticamente, a gente deve respeitar as posições de cada um. E, democraticamente, a gente tem de respeitar as opiniões de não emitir opiniões. O que eu entendo de futebol? Que cada pessoa, individualmente, tem todo o direito de se manifestar no seu particular.
Se eu externar as minhas preferências ou aquilo que eu entendo no aspecto político, vou estar expondo o meu cargo ainda estando técnico da seleção brasileira e daqui a pouco ele reverbera mais e eu não me dou esse direito. O direito que me dou é dar o melhor no trabalho e a seleção brasileira é um patrimônio cultural e educacional, não é partidário.
Então, devo ter essas percepções educacionais de que forma ética o técnico se comporta e de que forma que nós, enquanto comissão técnica, nos conduzimos. E não fazer do cargo que ocupo alguma coisa que possa ecoar mais. Eu tenho noção exata de que o técnico da seleção ecoa mais do que o Adenor.
O Adenor tem a sua voz e o seu voto, mas na seleção ele vai ter de ter a grandeza de fazer o melhor trabalho possível em cima da responsabilidade de trazer uma Copa de volta. Essa é a essência. Faço das minhas as palavras do Marquinhos (zagueiro): que cada um se manifeste. Essa é a minha opinião.
Manifeste-se no seu particular e vamos colocar na seleção a vontade, o ânimo, a dedicação, a competência e o amor para chegar na final como o primeiro objetivo e para sermos campeão depois. Talvez o nosso comportamental fale mais do que qualquer palavra.
Cléber: Eu não sei por que os atletas de futebol não se manifestam, não posso falar pelos outros. Eu posso falar por mim, tenho as minhas posições e elas sempre foram claras. Quem é meu amigo e me acompanha, sabe como me posiciono.
Mas a partir do momento em que a gente chega à seleção, parei porque a gente chega num momento muito difícil e o foco foi essa busca pelo trabalho. O Brasil entra numa turbulência política e a gente resolve ficar trabalhando em cima do nosso objetivo, fazendo futebol, esse grande caminho para a educação, que é o que a gente entende, mas não nos manifestamos para não criar mais burburinho e uma saída de foco.
Continuo me posicionando no meu íntimo, dando o meu voto àquelas pessoas que acredito que vão me representar no quesito político, mas não me posiciono abertamente.
Vocês ficariam desconfortáveis de desfilar em Brasília, caso o Brasil ganhe o hexa após as eleições para presidente, como aconteceu em 2002, depois do penta?
Tite: Eu dei uma resposta em 2017 e ela continua a mesma. Quando o presidente era o (Michel) Temer, disse que não iria nem na ida nem na volta, se perdesse ou ganhasse. Às vezes, com o tempo, a gente a gente modifica, reformata algumas posições, mas essa resposta continua a mesma.
Um dos maiores símbolos da seleção sempre foi a camisa amarelinha. Hoje, existe a impressão de que ela foi apropriada por um grupo político (do presidente Jair Bolsonaro). É comum ver nas ruas pessoas falando que não vão usar a camisa do Brasil. Não te incomoda ver um símbolo tão importante da seleção ser politizado dessa maneira?
Tite: Eu tenho visto que, por parte de uma geração mais jovem, de crianças e adolescentes, essa situação não vinga. Ela é do amor pela seleção, verdadeiramente da torcida. Quando o cara está mais cascudo, já com a cabeça feita, ele está com os seus caminhos, está preestabelecido e fica de boa.
Eu quero ficar voltado a esse simbolismo da criança de ser um exemplo educacional, de ser exemplo do esporte como uma ferramenta em que tu possas ser melhor que o adversário, mais competente, como uma série de valores porque fui educado no esporte dessa forma, de ter essas percepções e entender que para essa garotada mais jovem esse simbolismo não existe.

Cléber: A camisa da seleção tem uma representatividade no mundo inteiro. A camisa da seleção é da seleção e é de todos os brasileiros. Ela não representa um grupo A ou B. Eu penso dessa maneira.
A Copa do Catar, ao contrário de todas as outras anteriores, começa em novembro. O fato de a seleção não ser usada politicamente porque a Copa só vai acontecer depois da eleição te tranquiliza?
Tite: Esse assunto não me pertence, enquanto o foco é o Mundial. Eu tenho duas coisas paralelas extraordinárias. Então imagina se eu vou gastar energia, se eu vou gastar o meu foco de atenção a não acompanhar devidamente os atletas, a não falar sobre o esporte?
Eu sei, sim, da responsabilidade social, sei o quanto politicamente é importante, tenho noção exata, não sou alienado do quanto nós podemos ter um Brasil com oportunidades e uma equidade maior. Tenho consciência exata, mas sei colocar isso no seu plano e sei da responsabilidade em cima do foco no futebol que é a minha essência.

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