DESLIGAMENTO

Reportagem do JC conta os bastidores da demissão de Dal Pozzo do Náutico e mostra vídeo de despedida

Diretoria alvirrubra pretende utilizar o treinador no time sub-23, que não aceita e cobra multa de R$ 500 mil do clube

Filipe Farias
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Filipe Farias
Publicado em 14/08/2020 às 17:16 | Atualizado em 14/08/2020 às 20:52
Léo Lemos/Náutico
Vice-presidente do Náutico defendeu o trabalho do técnico Gilmar Dal Pozzo - FOTO: Léo Lemos/Náutico

Atualizada às 20h52

O desligamento de Gilmar Dal Pozzo do Náutico está longe de ser dos mais simples. Até seria, caso o clube tivesse com dinheiro em caixa e, simplesmente, pagasse o valor de R$ 500 mil referentes à multa rescisória do contrato do treinador, além de todos os direitos trabalhistas no ato de sua demissão. Como o Timbu não dispõe desse montante, ainda não oficializou a saída do técnico, apenas do auxiliar Lucianinho e do preparador físico Walter Grassmann.

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Após antecipar, na última quarta-feira (12), a saída de Dal Pozzo do comando do Náutico, a reportagem do Jornal do Commercio traz alguns detalhes apurados nos bastidores envolvendo toda a negociação de distrato contratual, desde o início. Depois de empatar com o Operário-PR em 0x0, na terça-feira (11), nos Aflitos, Gilmar e sua comissão chegaram a ir ao CT Wilson Campos na reapresentação do elenco (na quarta pela manhã), mas antes mesmo iniciar o treinamento, foram chamados pela diretoria alvirrubra para conversar na sala, no Hotel do Centro de Treinamento. Mas a conversa não a de praxe para se falar sobre o jogar anterior, mas, sim, para informar sobre a decisão de trocar a comissão para o restante da Série B.

Seguros da boa relação com os três profissionais, a direção timbu acreditava que o desligamento seria algo amistoso, sem ressentimentos. O que até de certa maneira foi aceito com naturalidade por parte do auxiliar-técnico Luciano e pelo preparador físico Walter Grassmann (chegou a postar em suas redes sociais um agradecimento ao clube). Entretanto, no caso de Gilmar Dal Pozzo, ainda existiria um imbróglio para resolver: pendências contratuais. O treinador não se opôs à decisão do Náutico de tirá-lo do cargo. Entretanto, não abriu mão da multa contratual a que tinha direito, algo que surpreendeu aos dirigentes alvirrubros.

Diante desse impasse, segundo apurou a reportagem do JC, o departamento de futebol do Náutico levou o caso para o jurídico analisar o caso e encontrar uma solução. E, de cara, foi constatada no documento firmado entre as partes a existência da multa na quantia de R$ 500 mil em caso de rescisão. Ao analisar o contrato, o jurídico alvirrubro teria encontrado uma 'suposta brecha' para resolver o problema sem o pagamento do montante previsto. E qual seria? No acordo assinado pelo Náutico e por Dal Pozzo teria escrito que o cargo que ele estava sendo contratado era o de treinador, mas sem especificar se era, obrigatoriamente, do time profissional. Apostando nessa estratégia jurídica, a direção Timbu alegou que se Gilmar não aceitasse uma rescisão amigável, ele iria treinar o time sub-23, chegando a emitir uma nota oficial sobre o assunto nesta sexta-feira (ver abaixo). Uma maneira de pressioná-lo a abrir mão da multa, já que uma proposta dessa, de ser rebaixado de posto, dificilmente seria aceita pelo treinador, mesmo ele recebendo o seu salário na íntegra (mesmo ele recebendo até o término de contrato, seria menor que o valor da multa).

Procurada pelo JC, a representante jurídica de Dal Pozzo, Dra. Mariju Maciel, descartou qualquer possibilidade quanto a esse acordo e afirmou que o contrato foi encerrado por iniciativa do Náutico. "É muito triste ver uma diretoria tomando este tipo de atitude não só com o Gilmar, mas também com toda a torcida do Náutico, que espera lealdade e transparência de uma diretoria. Gilmar foi despedido perante todos os atletas e não há como voltar atrás!!! Talvez por uma desorganização entre o departamento jurídico e o departamento de futebol, não foi avaliado a existência da multa contratual e depois disso o Náutico tenta, vergonhosamente, alterar a verdade dos fatos. Por toda a história do Gilmar no clube ele não merecia tamanha falta de respeito.", declarou a advogada do treinador.

Em contato com o repórter Antônio Gabriel, da Rádio Jornal, o presidente do Náutico, Edno Melo, segue reforçando que Dal Pozzo não foi demitido e segue como funcionário do clube. Algo que foi negado pela Dra. Mariju. "A dispensa foi efetivada. Gilmar não é mais treinador do Náutico em nenhuma situação. O Náutico pediu que a gente abrisse mão da multa, o que não vai ocorrer porque isso foi negociado. Gilmar quando renovou com o Náutico tinha uma proposta com valor mais alto de um outro clube. E a força utilizada pelo Náutico para que a gente firmasse o contrato era de dar garantia de cumprimento integral do seu contrato. O Náutico deixou claro que ele (Dal Pozzo) ficaria pelo contrato inteiro e, se não ficasse, pagaria a multa. E essa multa foi negociada. Foi trabalhada. Fez parte da negociação. Agora, depois que o Náutico resolve mandar Gilmar ir embora, no meio de uma pandemia, sem sequer ter a chance de a equipe voltar a pegar ritmo. Então, se no contrato tem uma multa, essa multa tem de ser paga", frisou.

Caso o clube não honre com as cláusulas contratuais, o treinador está decidido a não vai abrir mão dos seus direitos. "A gente acredita que o Náutico é um clube sério e vai honrar com o que compactuou. Se o Náutico não honrar com o que compactuou, em um segundo momento, nós, do departamento jurídico do Gilmar, vamos avaliar a situação e aí sim tomarmos as atitudes que entendamos necessárias" declarou Dra. Mariju Maciel, dando a entender que não irá se furtar de buscar os direitos do seu cliente na Justiça do Trabalho. "Além da multa, também tem todos os direitos recorrentes do contrato... Férias, 13º salário e todas as garantias e direitos que estão previstos em qualquer vínculo", acrescentou.

Esse, por sinal, não é o primeiro entrave jurídico que o Náutico tem com Dal Pozzo. O clube perdeu uma ação na Justiça do Trabalho e já deve ao treinador uma quantia aproximada de R$ 600 mil. "A outra ação já é judicial e já tem acordo descumprido pelo Náutico. Ainda não pagou a anterior. Isso mostra que se fosse por conta da dívida anterior, Gilmar não voltaria. Mesmo assim, por todo amor que tem pela torcida, ele voltou ao clube sem nem receber o contrato anterior, pois tinha certeza que colocaria o Náutico no lugar que merecia. Então, ele sai com o dever cumprido e só lamenta que o Náutico não tenha agido da mesma forma que ele agiu com o clube", declarou a representante jurídico do técnico.

Apesar da maneira que foi conduzido o desligamento de Dal Pozzo, Dra. Mariju Maciel garante que o seu cliente está totalmente aberto a negociação, mas sem abrir mão do que tem direito. "Estamos sempre abertos a qualquer tipo de conversa. Gilmar tem um carinho grande pelo time, pela torcida e está aberto a parcelamentos (da dívida), pagamentos facultados. Agora volto a dizer: vivemos num País que parece que o contrato não serve para nada. Essa não é a realidade. Tem contrato e tem de se cumprir. Se existia uma multa contratual para a dispensa e ela ocorreu, a multa precisa ser paga. A única coisa que Gilmar está fazendo é buscar os seus direitos", assegurou.

NOTA DO NÁUTICO

O Clube Náutico Capibaribe, através da sua diretoria e em conjunto com o departamento de futebol, informa a torcida que o técnico Gilmar Dal Pozzo passará a ter novos desafios dentro do clube, não mais ficando à frente da equipe principal nesta temporada, tudo obedecendo a previsão contratual.

Caberá a Dal Pozzo exercer suas mesmas atribuições de treinador, atendendo ao anseio maior do nosso clube, na formação e profissionalização de talentos. O técnico, peça importante na exitosa campanha do título nacional de 2019, e que tem a boa prática de valorizar os jogadores oriundos da base, a partir da próxima segunda-feira (17/8), ficará responsável por treinar a categoria Sub-23 do Náutico.

Assim, potencializamos a vocação do nosso Clube como formador de atletas, valorizando a instituição em termos de competitividade e sustentabilidade. Para isso, contamos com a vasta experiência do nosso treinador, que tem toda a confiança da diretoria. Desejamos a Dal Pozzo todo o sucesso na nova empreitada.

Atenciosamente,
A Diretoria

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