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Pacientes que superaram coronavírus doam plasma para salvar vidas

O objetivo é coletar plasma suficiente para os pesquisadores realizarem estudos formais

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Publicado em 03/04/2020 às 16:20 | Atualizado em 03/04/2020 às 16:20
PASCAL GUYOT / AFP
O plasma é a parte líquida do sangue que concentra anticorpos após a doença. - FOTO: PASCAL GUYOT / AFP

Diana Berrent deixou para trás sua quarentena pelo coronavírus e agora está ansiosa para se juntar à batalha contra a pandemia e doar seus valiosos anticorpos que, segundo os pesquisadores, poderão ajudar outros doentes com COVID-19.

Em 13 de março, a nova-iorquina acordou com febre de 38,9°C e a sensação de peso no peito, tornando-se uma das primeiras moradoras de Long Island a dar positivo para o coronavírus.

Esta semana, a fotógrafa de 45 anos também foi a primeira sobrevivente do coronavírus em seu estado a ser submetida a uma análise para ajudar a encontrar um tratamento para a infecção que matou mais de 53.000 pessoas em todo mundo.

O plasma é a parte líquida do sangue que concentra anticorpos após a doença. A dos pacientes curados já demonstrou ser eficaz, em estudos de pequena escala, contra doenças infecciosas como ebola, ou Síndrome Respiratória Aguda Severa (SARS).

A agência americana de medicamentos, FDA, aprovou os testes com plasma de convalescentes como tratamento contra o coronavírus, que já infectou mais de 245.000 pessoas nos Estados Unidos.

Os experimentos atuais não têm como objetivo encontrar uma solução milagrosa, esclarece Bruce Sachias, diretor médico do Centro de Coleta de Sangue de Nova York, encarregado de gerenciar as doações de plasma na primeira metrópole americana.

"Devemos estar cientes do fato de que ainda estamos em território desconhecido", afirma.

Eldad Hod e Steven Spitalnik, especialistas em transfusão de sangue que fazem esses testes no Hospital Irving da Universidade de Columbia, também destacam a incerteza em torno desses experimentos.

Pensamos que, "entre sete e 14 dias após o início de uma infecção, as pessoas desenvolvem uma reação imune e acabam criando uma grande quantidade de anticorpos. Mas não sabemos exatamente quando ocorre o pico dessa criação", explica o dr. Spitalnik.

Alguns dados sugerem que o pico ocorre 28 dias após a infecção, mas Spitalnik espera que sua pesquisa forneça uma imagem mais precisa do processo.

Cada doação de plasma poderia "salvar três ou quatro vidas", de acordo com o Dr. Hod.

O objetivo é coletar plasma suficiente para os pesquisadores realizarem estudos formais, nos quais eles compararão a reação de pessoas que recebem anticorpos de pacientes curados de coronavírus com um grupo de controle que terá injetado plasma de pessoas que não sofreram da COVID-19.

Hod observou que os primeiros plasmas vão ser destinados "por compaixão" aos pacientes com COVID-19 que não participam do estudo, mas para os quais outros tratamentos foram ineficazes.

Os pesquisadores querem testar seu método em pacientes hospitalizados e como tratamento preventivo em ambientes vulneráveis, como casas de repouso.

Em tempos normais, realizariam ensaios clínicos mais controlados e com resultados mais sólidos. Mas "estamos em crise", diz Spitalnik para justificar o caminho escolhido.

"Ocasião incrível"

Diana Berrent cruza os dedos e espera que esses testes possam salvar vidas. "Poderíamos ser super-heróis", diz.

"Vivemos tempos sem precedentes e preocupantes, onde não controlamos nada, mas nós, os sobreviventes, podemos ajudar", ressalta. "É uma ocasião incrível".

A fotógrafa possui anticorpos suficientes no plasma para participar dos testes, mas agora está aguardando os resultados de um teste nasal para verificar se não tem traços do coronavírus, uma condição necessária para que o sangue seja usado em pesquisas.

O grupo "Survivor Corps", que já tem 17.000 membros, foi aberto no Facebook para mobilizar os sobreviventes da epidemia que desejam compartilhar sua imunidade.

Centenas de pessoas curadas já ofereceram sua ajuda em Nova York, o epicentro da pandemia nos Estados Unidos, com quase 100.000 casos, segundo o dr. Sachias.

Se o processo for eficaz, será realizado em outros centros de transfusão, explica o pesquisador.

Um hospital de Houston, Texas, já tentou transfundir plasma de um paciente curado para outro gravemente doente, mas ainda é muito cedo para saber sua eficácia.

Para Hod, um dos lados positivos da pandemia é que ela está impulsionando a colaboração entre pesquisadores de todo mundo, que nunca compartilharam seus dados tão abertamente como agora.

"Muitos na comunidade científica tentam deixar de lado o ego (...) e trabalham juntos pelo bem comum. Acho que a ciência vencerá no final", completou.

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O que é coronavírus?

Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.

A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.

Como prevenir o coronavírus?

O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por pelo menos 20 segundos, respeitando os 5 momentos de higienização. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool.
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas.
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes.
  • Ficar em casa quando estiver doente.
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo.
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com freqüência.
  • Profissionais de saúde devem utilizar medidas de precaução padrão, de contato e de gotículas (mascára cirúrgica, luvas, avental não estéril e óculos de proteção).

Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.

Confira o passo a passo de como lavar as mãos de forma adequada

 

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