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Nuvem de gafanhotos: governo declara emergência fitossanitária

A emergência tem prazo de 1 ano e atinge dois estados do Sul

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Publicado em 25/06/2020 às 7:36 | Atualizado em 26/06/2020 às 9:14
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Nuvem de gafanhotos na América do Sul - FOTO: REPRODUÇÃO/TWITTER

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento declarou estado de emergência fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina devido ao risco de surto da praga Schistocerca cancellata nas áreas produtoras dos dois estados. A portaria com a medida está publicada no Diário Oficial da União desta quinta-feira (25).

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O estado de emergência tem por objetivo permitir a implementação de plano de supressão da praga e adoção de medidas emergenciais. De acordo com o ministério, a emergência fitossanitária é por um prazo de 1 ano.

A nuvem de gafanhotos está a cerca de 250 quilômetros da fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina. A preocupação das autoridades do setor agropecuário e de produtores rurais é o dano que os insetos possam causar às lavouras e pastagens, se houver infestação.

A dieta do inseto varia, conforme a espécie, entre folhas, cereais, capins e outras gramíneas. Segundo informações repassadas à Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, a nuvem é originária do Paraguai, das províncias de Formosa e Chaco, onde há culturas de cana-de-açúcar, mandioca e milho.

Em nota, o minstério informou que está acompanhando o fenômeno em tempo real e que “emitiu alerta para as superintendências federais de Agricultura e aos órgãos estaduais de Defesa Agropecuária para que sejam tomadas medidas cabíveis de monitoramento e orientação aos agricultores da região.

De acordo com a pasta, especialistas argentinos estimam que os insetos sigam em direção ao Uruguai. A ocorrência e o deslocamento da nuvem de gafanhotos são influenciados pela temperatura e circulação dos ventos.

O fenômeno é mais comum com temperatura elevada. Segundo o setor de Meteorologia da secretaria gaúcha, há expectativa de aproximação de uma frente fria pelo sul do estado, que deve intensificar os ventos de norte e noroeste, “potencializando o deslocamento do massivo para a Fronteira Oeste, Missões e Médio e Alto Vale do Rio Uruguai”.

A nota diz ainda que o gafanhoto está presente no Brasil desde o século 19 e que causou grandes perdas às lavouras de arroz na Região Sul no período de 1930 a 1940. "No entanto, desde então, tem permanecido na sua fase ‘isolada’, que não causa danos às lavouras.”

O ministério informa que especialistas estão avaliando “os fatores que levaram ao ressurgimento desta praga em sua fase mais agressiva" e que o fenômeno pode estar relacionado a uma conjunção de fatores climáticos.

A Secretaria de Agricultura do Rio Grande do Sul orienta os produtores rurais gaúchos a informar a Inspetoria de Defesa Agropecuária da sua localidade se identificar a presença de tais insetos em grande quantidade.

"Eles comem tudo"

Em entrevista ao programa Passando a Limpo desta quinta-feira (25), Doraclécio Lins e Silva, que é médico veterinário, comentou sobre a possibilidade da nuvem de gafanhotos, que originou-se no Paraguai, chega ao Brasil. “[A distância de] 130 km para uma nuvem de gafanhoto é como se fosse sair do Recife para Olinda; [é] muito próximo. Para você ter uma ideia, teve uma nuvem de gafanhotos no Mediterrâneo, na Ilha de Chipre. Essa mesma nuvem saiu e invadiu as Ilhas Canárias, na Espanha, e entrou na África. Foi até a Mauritânia, que fica no Norte da África. Eles se deslocam numa velocidade muito grande”, disse Doralécio.

 

De acordo com ele, é possível até que a praga chegue ao Nordeste. “O problema é que na hora que começa a entrar em Minas [Gerais], chegando já no Nordeste, não tem agricultura para eles comerem. A não ser no oeste da Bahia. Se eles chegarem, os plantadores de soja, de feijão, esse pessoal vai ficar muito preocupado. Porque, no Nordeste, na caatinga, eles não vão ter ambiente para isso. Agora lembrem-se que é um animal que sobrevive nos desertos africanos, então ele come absolutamente tudo."

Nuvem Godzilla

Além da nuvem de gafanhotos, há a possibilidade de outro fenômeno da natureza chegar ao Brasil nos próximos dias. A nuvem Godzilla, que trata-se de um nuvem de poeira e ar vinda do Saara. Para especialistas, este tipo de fenômeno é bastante comum, no entanto, não nas proporções observadas agora. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, em inglês), a nuvem, que já provoca efeitos no Caribe, deve mover-se em direção ao oeste pelo Mar do Caribe e para áreas do norte da América do Sul, América Central e da Costa do Golfo dos Estados Unidos. 

A recomendação é que as pessoas usem máscaras e evitem ao máximo realizar atividades ao ar livre. Além disso, os navios foram alertados sobre a baixa visibilidade.

O fenômeno pode afetar a pele e os pulmões porque o ar seco com poeira tem cerca de 50% menos umidade, e também pode ser nocivo às pessoas que têm problemas respiratórios, causando alergias e irritações nos olhos.

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