A última tentativa do presidente americano, Donald Trump, de bloquear a publicação do livro de seu ex-assessor John Bolton chega aos tribunais nesta sexta-feira (19), apesar de grande parte do conteúdo da obra, que descreve Trump como corrupto e incompetente, já ter sido divulgada.
Um tribunal federal de Washington ouve, desde as 13h locais, os argumentos do governo de que o livro "The Room Where it Happened" contém informações confidenciais que afetam a segurança nacional.
A defesa de Bolton irá argumentar em favor da liberdade de expressão e assinalar que o livro foi submetido a uma avaliação exaustiva da Casa Branca, que apenas não gosta de seu conteúdo. Não ficou claro quando sairá o veredito.
A publicação, que deverá estar nas livrarias na próxima terça-feira, reúne as impressões que Bolton teve de Trump ao longo dos 17 meses em que trabalhou como assessor de Segurança Nacional, até ser demitido, em setembro passado.
Trump afirmou que se trata de uma obra "de pura ficção". Segundo Bolton, republicano ainda mais direitista do que Trump, o presidente "não está apto" a ocupar o cargo.
O ex-assessor diz que Trump "suplicou" ao presidente chinês, Xi Jinping, durante negociações comerciais bilaterais, que o ajudasse a ser reeleito em novembro aumentando as compras de produtos agrícolas americanos. Bolton afirma que Trump, um magnata do ramo imobiliário que não havia ocupado nenhum cargo eletivo antes de chegar à Casa Branca, é tão ignorante que achou que a Finlândia fizesse parte da Rússia.
O ex-assessor também apoia as denúncias de que o presidente americano pressionou a Ucrânia a investigar seu rival democrata, Joe Biden, acusação que, no ano passado, esteve no centro do julgamento político de Trump, do qual ele se saiu vitorioso.
Bolton alega que o presidente cometeu outras "transgressões semelhantes às da Ucrânia" em sua condução da política externa em benefício pessoal.
Muito tarde para parar
A manobra legal do governo chega tarde, uma vez que o livro já foi impresso, enviado para todo o mundo e está pronto para ser distribuído. Foram entregues cópias antecipadas à imprensa, o que deu lugar à publicação de muitos trechos da obra. O próprio Bolton participa de uma série de programas de TV para divulgar o livro.
As afirmações do ex-funcionário, que tinha um nível de acesso privilegiado à Casa Branca, somam um novo problema para Trump, que está sob fogo cruzado por sua condução da pandemia do novo coronavírus e da tensão racial. Mas Bolton é rejeitado tanto pelos republicanos, que o veem como um sabotador, quanto pelos democratas, que o culpam por não ter testemunhado no Congresso na época do julgamento político de Trump.
As reações dos apoiadores de Trump e do próprio presidente foram agressivas. "Disse tudo de bom sobre mim, até o dia em que o demiti", tuitou o presidente americano esta semana. Já o secretário de Estado, Mike Pompeo, classificou Bolton como "traidor". "Está divulgando uma série de mentiras, meias verdades completamente falsas e mentiras absolutas", afirmou, em comunicado.
Comentários