TENSÃO

Reino Unido, isolado do mundo por vírus, teme ficar sem suprimentos

As autoridades garantiram que os estoques podem durar vários dias, mas existe o temor de uma corrida dos consumidores, vítimas do pânico, a quatro dias das festas de Natal

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Publicado em 21/12/2020 às 10:40 | Atualizado em 21/12/2020 às 10:43
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Painel de exibição em aeroporto mostra o status "Cancelado" dos voos com destino a Amsterdã, Munique e Buenos Aires em 21 de dezembro de 2020 - FOTO: NIKLAS HALLE'N / AFP

O primeiro-ministro Boris Johnson reúne seu gabinete em caráter de emergência nesta segunda-feira (21), depois que vários países suspenderam as conexões com o Reino Unido devido a uma mutação do novo coronavírus que agrava o caos a dez dias do Brexit.

Faixas nas rodovias do sul da Inglaterra alertam os viajantes e motoristas que transportam mercadorias sobre o fechamento da fronteira com a França, que anunciou no domingo à noite a suspensão das ligações terrestres, marítimas e aéreas com o país durante 48 horas.

Muitos produtos importados pelos britânicos chegam ao país a partir da França. Uma importante rede de supermercados, Sainsbury's, advertiu que se as perturbações persistirem, o país pode registrar falta de alimentos frescos como alface, couve-flor, brócolis ou frutas cítricas.

As autoridades garantiram que os estoques podem durar vários dias, mas existe o temor de uma corrida dos consumidores, vítimas do pânico, a quatro dias das festas de Natal, que em cidades como Londres foram prejudicadas pela detecção da nova cepa do vírus.

Embora não pareça mais letal que as anteriores, esta variante é até 70% mais contagiosa, afirmou no fim de semana o ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, que admitiu uma propagação "fora de controle".

Por este motivo, em uma contradição com todas as suas promessas, o governo de Boris Johnson voltou a determinar, no domingo, o confinamento dos nove milhões de londrinos e de outras sete milhões de pessoas no sul do país, onde as famílias não poderão se reunir para o Natal.

Em outras regiões do Reino Unido, os cinco dias previstos de flexibilização das restrições foram reduzidos apenas ao 25 de dezembro.

O porto britânico de Dover, o principal no Canal da Mancha, por onde passam diariamente quase 10.000 caminhões, interrompeu o tráfego de saída "até nova ordem".

Ao destacar a necessidade de desbloquear a situação o mais rápido possível, o ministro dos Transportes, Grant Shapps, afirmou ao canal Sky News que está em contato direto com o colega francês, Jean-Baptiste Djebbari.

Este último anunciou no Twitter a preparação, "nas próximas horas", pelos países europeus de um "protocolo de saúde para que os fluxos de mercadorias a partir do Reino Unido possam ser retomados".

O caos nas cadeias de abastecimento pode ser interpretado como uma mostra do que aconteceria no caso de uma separação entre Londres e a UE dentro de 10 dias sem um acordo comercial que evite barreiras alfandegárias.

O Reino Unido, que abandonou oficialmente a União Europeia em 31 de janeiro, cortará definitivamente os laços com bloco no fim do mês.

Apesar do pouco tempo restante, britânicos e europeus continuam negociando um acordo comercial, com o objetivo de suavizar as consequências da ruptura a partir de 1º de janeiro.

Diante da falta de resultados, as empresas no Reino Unido começaram, há algumas semanas, a estocar produtos e peças industriais, o que já havia provocado um grande congestionamento em portos e estradas.

Com a nova situação, a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, grande crítica do Brexit, e o prefeito de Londres, o trabalhista Sadiq Khan, pediram a Johnson que prologue o período de transição pós-Brexit além do fim do ano.

O Reino Unido, um dos países mais afetados da Europa pela covid-19, com mais de 67.000 mortes confirmadas e o recorde de quase 36.000 novos casos no domingo, informou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a descoberta da nova mutação e seu maior índice de contágio.

Hancock admitiu no domingo que, neste contexto, será "difícil" conter a pandemia, até que a campanha de vacinação alcance grande parte da população.

O Reino Unido foi o primeiro país do mundo a aprovar a vacina Pfizer/BioNTech e o primeiro país ocidental a iniciar a vacinação, em 8 de dezembro.

Até o momento quase 400.000 pessoas - idosos, cuidadores e profissionais da saúde - receberam a primeira das duas doses necessárias.

Para acelerar a campanha, o país precisa receber novas doses dos laboratórios de produção da Pfizer/BioNTech na Bélgica, um dos muitos países que decidiram, no domingo, fechar as fronteiras ao Reino Unido.

Sem dar detalhes, Shapps afirmou nesta segunda-feira, porém, que a entrega da vacina não será afetada pela interrupção dos transportes.

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