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Caso Pegasus de espionagem de jornalistas e opositores gera indignação

O aplicativo permite recuperar mensagens de texto, fotos, contatos e até ouvir as conversas do seu proprietári

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AFP

Publicado em 19/07/2021 às 20:43 | Atualizado em 19/07/2021 às 23:27
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A mídia, governos, a União Europeia e organizações de direitos humanos expressaram sua indignação, nesta segunda-feira (19), com a espionagem mundial de ativistas, jornalistas e políticos através do software Pegasus da empresa israelense NSO Group.

Instalado no celular, este programa permite recuperar mensagens de texto, fotos, contatos e até ouvir as conversas do seu proprietário.

A investigação jornalística, divulgada no domingo por 17 meios de comunicação internacionais, reforça as suspeitas sobre a empresa israelense e se baseia em uma lista obtida pelo grupo de jornalistas France Forbidden Stories e a ONG Anistia Internacional.

Nela aparecem 50.000 números de telefone selecionados por clientes da NSO desde 2016 para possível espionagem.

A lista inclui 180 jornalistas, 600 políticos, 85 militantes defensores dos direitos humanos e 65 empresários, segundo a investigação realizada pelo jornal francês "Le Monde", o britânico "The Guardian", o americano "The Washington Post" e os mexicanos "Proceso" e "Aristegui Noticias", entre outros.

Esses veículos localizaram boa parte dos números espionados no Marrocos, Arábia Saudita ou México.

"Não estamos apenas falando sobre alguns Estados desonestos, mas sobre o uso massivo de um programa de espionagem por pelo menos vinte países", disse a secretária-geral da Anistia Internacional, Agnès Callamard, à BBC nesta segunda-feira.

"Este é um grande ataque contra o jornalismo crítico", afirmou.

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu hoje uma melhor "regulamentação" das tecnologias de vigilância.

As revelações "confirmam a necessidade urgente de regulamentar melhor a venda, transferência e uso" dessas tecnologias de vigilância, disse em um comunicado.

"Sem uma estrutura regulatória que respeite os direitos humanos, há muitos riscos de que essas ferramentas sejam mal utilizadas para intimidar os críticos e silenciar aqueles que discordam", acrescentou Bachelet, que pediu "garantia de controle e autorização estritos".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que este escândalo "tem de ser verificado, mas se assim for, é totalmente inaceitável".

"A liberdade de imprensa é um dos valores fundamentais da União Europeia", acrescentou Von der Leyen sobre um escândalo que supostamente afeta países da UE, como a Hungria.

Gabriel Attal, porta-voz do governo francês, também denunciou que "são acontecimentos muito chocantes e que, se forem verdadeiros, são extremamente graves".

 

A NSO, criada em 2011, recebeu múltiplas denúncias de colaboração com regimes autoritários. Em 2016, Ahmed Mansoor, opositor dos Emirados Árabes Unidos, alertou sobre esse tipo de prática no país.

No entanto, a empresa israelense sempre negou essas acusações e, desta vez, reagiu garantindo que se tratava de "suposições errôneas e teorias infundadas".

Entre os números de jornalistas afetados está o do mexicano Cecilio Pineda Birto, morto poucas semanas depois de ser listado neste documento.

Outros números pertenciam a mulheres do ciclo do jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado em 2018 no consulado de seu país em Istambul por um comando formado por agentes da Arábia Saudita.

Também constam números de vários políticos, incluindo dois chefes de governo europeus, cujos nomes serão divulgados nos próximos dias, segundo os jornalistas que revelaram o caso.

O Marrocos, um dos países que supostamente mais usou o Pegasus de acordo com esta investigação, negou categoricamente o uso do software israelense por seus serviços de segurança.

O governo marroquino classificou como "falsos" as informações que sugerem que seus serviços de segurança "se infiltraram nos telefones de várias figuras públicas nacionais e estrangeiras e de funcionários de organizações internacionais por meio de um software".

O Executivo húngaro também negou qualquer envolvimento, depois que a Hungria foi o único país da União Europeia apontado pela recente revelação jornalística.

Os jornalistas do "projeto Pegasus" localizaram uma parte dos detentores destes números e recuperaram 67 telefones, cujo hackeamento com o programa do Grupo NSO foi confirmado através de um estudo técnico em um laboratório da Anistia Internacional.

Antes da NSO, outras empresas israelenses, como a Candiru, foram acusadas de fornecer spyware a governos que violam os direitos humanos.

 


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