Tensão

"Vamos caçá-los e fazê-los pagar", diz Biden sobre atentado em Cabul, Afeganistão

Duas explosões deixaram nesta quinta pelo menos 13 mortos e 52 feridos às portas do aeroporto de Cabul, provocando cenas de pânico

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AFP

Publicado em 26/08/2021 às 19:53
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A crise afegã deu uma reviravolta dramática nesta quinta-feira (26), após um duplo atentado reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI) que deixou dezenas de mortos, entre eles 12 americanos, no aeroporto de Cabul, onde prosseguiam as retiradas de estrangeiros e afegãos que fogem do novo regime talibã.

Duas explosões deixaram nesta quinta pelo menos 13 mortos e 52 feridos às portas do aeroporto de Cabul, provocando cenas de pânico.

Outra forte explosão sacudiu Cabul na madrugada de sexta (fim de tarde no Brasil). Funcionários da AFP ouviram a explosão, sem que nenhuma fonte oficial pudesse determinar sua origem.

Mais tarde, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahadid, informou em um tuíte que tratou-se de uma explosão controlada pelas forças americanas para destruir equipamentos no aeroporto e que os moradores de Cabul não precisavam se preocupar.

A informação ainda não foi confirmada de forma independente.

O presidente americano, Joe Biden, discursou agora há pouco à nação na Casa Branca sobre o "ataque terrorista" no Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul.

"Não vamos perdoar. Não vamos esquecer. Vamos caçá-los e fazê-los pagar", disse Biden em alusão aos autores do ataque, em suas primeiras palavras sobre o atentado, durante o qual chamou os militares mortos de "heróis".

O presidente também garantiu que os Estados Unidos não serão "dissuadidos por terroristas" e que vão manter a retirada de milhares de civis do país apesar do atentado.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, convocou uma reunião dos membros permanentes do Conselho de Segurança para discutir a caótica situação no Afeganistão após o atentado em Cabul, informaram diplomatas.

Guterres enviou cartas para convidar formalmente os Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China a se reunirem na segunda-feira, informaram diplomatas à AFP. Um porta-voz de Guterres confirmou a reunião.

No terreno, homens com roupas ensopadas de sangue e mulheres soluçando tentavam deixar o local, enquanto alguns feridos eram transportados em carrinhos de mão. Um menino se agarrava ao braço de um homem com um ferimento na cabeça, segundo imagens que circulavam pelas redes sociais.

"Nossas primeiras informações falam de 13 a 20 mortos e 52 feridos nas explosões no aeroporto de Cabul", declarou Zabihullah Mujahid, porta-voz dos talibãs, que tomaram o poder no Afeganistão em 14 de agosto.

Mujahid lembrou que a área está "sob responsabilidade das forças dos Estados Unidos".

"Corpos e pedaços de carne foram jogados em um canal próximo", descreveu Milad, uma testemunha ocular à AFP.

"Quando as pessoas ouviram a explosão, o pânico foi total. Os talibãs começaram a atirar para o alto para dispersar as pessoas", acrescentou outra testemunha.

Entre as vítimas, há 12 militares americanos mortos e 15 feridos, informou o Pentágono.

"Ainda estamos calculando as perdas totais", disse o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos Estados Unidos, a cargo do Afeganistão, por videoconferência.

 

 

Horas antes, os serviços de Inteligência dos Estados Unidos e outros países tinham alertado para um ataque "iminente" e pediam a seus cidadãos que se afastassem do aeroporto.

Quando o sol começava a se por, uma primeira explosão ocorreu em Abbey Gate, um dos portões de acesso ao aeroporto.

Pouco depois, outra carga explosiva era detonada "em ou perto do hotel Baron", perto dali, explicou o Pentágono.

Desde a conquista fulminante de Cabul pelos talibãs, há menos de duas semanas, o medo e o caos foram crescendo dentro e fora do aeroporto, única saída do país.

Milhares de afegãos se aglomeravam dia e noite para tentar partir em um voo. Os Estados Unidos e seus aliados tiveram que organizar às pressas o que Biden qualificou da maior ponte aérea da história.

O governo Biden, duramente criticado dentro e fora do país por sua forma de organizar a missão, insistia em que 31 de agosto será a data limite para sair.

Desde 14 de agosto, mais de 100.000 pessoas conseguiram escapar da ratoeira, enquanto os talibãs começavam a controlar lentamente o poder.

A ameaça de um ataque terrorista era onipresente porque grupos extremistas com o EI são adversários dos talibãs, que por sua vez exigiam dos ocidentais para acabar o quanto antes com as operações de retirada e deixar o país, seu objetivo durante 20 anos de guerra.

Sunitas radicais como os talibãs, mas ainda assim adversários deles, os membros do EI massacraram civis em mesquitas, santuários, praças e até hospitais, e fizeram como alvo muçulmanos de facções que consideram hereges.

Quando os Estados Unidos e os talibãs concluíram em 2020 o acordo que traçava as linhas da retirada das tropas estrangeiras, o EI os acusou de abandonar a causa jihadista.

 

 

Após ser informado da situação, o presidente Biden teve que cancelar um encontro com o primeiro-ministro israelense, em visita a Washington.

A chanceler alemã, Angela Merkel, denunciou o atentado como "absolutamente desprezível".

"Nossa prioridade continua sendo evacuar a maior quantidade de pessoas a um local seguro o mais rapidamente possível", explicou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

O presidente francês, Emmanuel Macron, condenou "com a maior firmeza os ataques terroristas" no aeroporto de Cabul.

Em um comunicado, ele expressou "suas condolências às famílias das vítimas americanas e afegãs, dirigiu seu apoio aos feridos e saudou o heroísmo daqueles que estão no terreno para conduzir as operações de retirada".

Vários países tinham pedido em vão o adiamento da retirada do Afeganistão até terminar a retirada de todos os estrangeiros e afegãos sob sua proteção.

Mas o governo americano queria repatriar todo o seu dispositivo militar que está protegendo o aeroporto.

O presidente iraniano, Ebrahim Raisi, pediu cooperação internacional, em particular em conjunto com o Paquistão, para promover "segurança e calma" no Afeganistão, um país devastado por décadas de uma violência ininterrupta.

 

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