Chegada ao mar da lava de vulcão Cumbre Vieja, nas Canárias, gera gases tóxicos de baixo risco
O momento do impacto era temido há dias, devido à possibilidade de explosões, ondas de água fervente e gases tóxicos
Os gases potencialmente tóxicos produzidos pelo encontro da lava do vulcão de La Palma com o mar representam um baixo risco para a população desta ilha do arquipélago espanhol das Ilhas Canárias - estimaram especialistas nesta quarta-feira (29).
Além disso, o fato de já existir um "canal aberto" entre o vulcão Cumbre Vieja, que está em erupção há 11 dias, e o mar é uma "boa notícia", porque pode evitar "novos represamentos de lava" em terra, disse o porta-voz do Instituto Vulcanológico das Ilhas Canárias (Involcan), David Calvo, à televisão pública.
O fluxo de lava, que alcançou o oceano na madrugada desta quarta-feira (29) na costa oeste da ilha do arquipélago atlântico, continua a cair continuamente na água, gerando "um delta de lava que, aos poucos, vai ganhando terreno no mar", descreve o Instituto Espanhol de Oceanografia.
O momento do impacto era temido há dias, devido à possibilidade de explosões, ondas de água fervente e gases tóxicos. As piores previsões não se concretizaram.
As imagens da AFPTV mostravam na manhã de hoje grandes colunas de vapor e gases que se elevavam quando o fluxo de lava chegava ao mar.
Com mais de 1.000°C, o choque da lava do vulcão Cumbre Vieja com a água do oceano aconteceu às 23h locais (19h em Brasília). Como precaução, os moradores das áreas mais próximas foram confinados para evitar o contato com os gases tóxicos.
"Neste momento, temos um vento importante na área que dissipa mais essa coluna (de gases) em direção ao mar. Portanto, o risco é muito menor" para a população, disse Rubén Fernández, um dos responsáveis pelo Plano de Emergências Vulcânicas das Ilhas Canárias (Pevolca), à rádio pública RNE.
"Neste momento, não temos nenhum indício que nos faça pensar que seja perigoso para as pessoas que estão em confinamento, nem para as equipes de emergência, que também respeitam os perímetros de segurança", afirmou Fernández.
"A inalação, ou o contato com gases ácidos e líquidos, pode irritar a pele, os olhos e o aparelho respiratório e causar dificuldades respiratórias", alertou o Involcan.
Cientistas diziam que era muito difícil prever quando a lava chegaria ao mar, já que sua velocidade havia variado nos dias anteriores.
Na manhã de segunda-feira (27) aconteceu uma redução notável da atividade do vulcão Cumbre Vieja. À tarde, porém, a erupção voltou com intensidade renovada, o que fez o fluxo ganhar velocidade e terminar alcançando a água na terça.
O vulcão "entrou numa fase de equilíbrio, o que significa que, no decorrer destes dias, provavelmente continuaremos a observar este tipo de atividade", de grande produção de lava, antecipou David Calvo.
Por causa da erupção, mais de 6.000 pessoas tiveram de deixar suas casas, mas não há registro de vítimas. A lava já devastou 656 construções - nem todas residências - e cobriu 268 hectares desta ilha, de 85.000 habitantes, que vive do cultivo de banana e do turismo, segundo o sistema de medição geoespacial europeu Copernicus.
"Em toda essa extensão, não sobrou nada além de lava. A paisagem será outra, a devastação é tremenda (...) A ilha de La Palma naquela área é outra ilha", lamentou o presidente regional das Ilhas Canárias, Ángel Víctor Torres, que detalhou que os fluxos chegaram a ter uma largura de "600 metros".
A chuva de cinzas deixou o aeroporto de Santa Cruz de la Palma inoperante por 24 horas no fim de semana. Embora esteja, em tese, em operação neste momento, praticamente não há voos chegando.
Na terça-feira (28), o governo espanhol aprovou um pacote de ajudas diretas de US$ 12,2 milhões para fornecer casas e itens de primeira necessidade para quem perdeu tudo com a erupção.
Os especialistas avaliam que a atividade vulcânica pode durar várias semanas, ou mesmo alguns meses.
As duas erupções anteriores em La Palma ocorreram em 1949 e 1971. Três pessoas morreram, duas delas, por inalação de gases.