Jovens chilenos votam por 'mudança' com seu futuro 'em jogo'
São sete os candidatos, entre eles dois favoritos, segundo as contestadas pesquisas de intenção de voto
"É o nosso futuro que está em jogo", diz à AFP a publicitária Constanza Vargas enquanto aguarda em uma longa fila em um centro de votação em Santiago durante as eleições gerais. Seu argumento é o mesmo de milhares de jovens: "uma mudança" no Chile após dois anos de turbulências políticas.
Aos 32 anos, Vargas convoca os jovens a irem às urnas em busca de uma alternativa ao modelo neoliberal herdado da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), que embora tenha gerado estabilidade econômica e política no país nos últimos 31 anos, aprofundou as desigualdades sociais.
Ela faz parte da primeira geração de jovens que viveu integralmente na democracia e juntamente com centenas de milhares de pessoas, impulsionou em outubro de 2019 os maiores protestos sociais desde o retorno da institucionalidade plena no país.
"Somos o futuro", reforça Vargas, uma entre os 15 milhões de chilenos - de uma população de 19 milhões - convocados às urnas neste domingo (21) para eleger o sucessor do atual presidente, o conservador Sebastián Piñera.
São sete os candidatos, entre eles dois favoritos, segundo as contestadas pesquisas de intenção de voto - que por lei não são publicadas há 15 dias -: o deputado de esquerda e ex-líder estudantil Gabriel Boric (35 anos), da aliança Aprovo Dignidade, e o ultradireitista José Antonio Kast (55), do Partido Republicano.
- Votar para mudar -
Nas filas intermináveis e passando calor à espera de votar em um bairro populoso da capital, Felipe Rojas, estudante de 24 anos, declara categoricamente à AFP: "É preciso votar".
O Chile estabeleceu em 2012 o voto voluntário, o que fez cair a participação eleitoral a menos de 50%.
"O país precisa de mudanças; estamos cansados dos mesmos políticos", diz, irritado com a demora e a desorganização.
Carla Fuenzalida, estudante de 19 anos, tem as mesmas queixas metros atrás nas longas filas deste centro de votação, onde as pessoas recorreram a bonés, chapéus, sombrinhas e guarda-chuvas para se proteger do sol.
"Estamos fazendo fila há mais de uma hora. Isto não está certo, queremos votar, chega deste Chile", diz à AFP.
- Das ruas para as urnas -
Em um bairro residencial de Santiago, o diretor de arte Pedro Tórtora, de 35 anos, explica à AFP que a juventude que participou dos protestos sociais desde outubro de 2019 agora deve revalidar esta revolução social com o voto.
"As mudanças não só se fazem nas ruas, mas também nas urnas. Por isso é muito importante, não só que os jovens votem, mas que toda a população vote para poder fazer a mudança verdadeira", alega Tórtora.