Chile: direitista Kast e esquerdista Boric vão disputar segundo turno das presidenciais
Com longas filas e um dia particularmente quente, o Chile realizou neste domingo as eleições mais incertas desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990)
O ultradireitista José Antonio Kast lidera as eleições presidenciais do Chile neste domingo (21) com 28,5% dos votos, seguido do esquerdista Gabriel Boric, com 24,7%, e os dois vão disputar o segundo turno após a apuração de 49,8% dos votos, segundo o Serviço Eleitoral.
Com o resultado, os dois candidatos - com programas e conceitos antagônicos para o futuro do Chile - se enfrentarão no segundo turno de 19 de dezembro, pois nenhum deles superou os 50% dos votos para suceder o atual presidente, o conservador Sebastián Piñera.
A surpresa do dia foi o terceiro lugar para o populista Franco Parisi (direita liberal), que obteve 13,4% dos votos após uma campanha pelas redes sociais que desatou uma onda de memes nas últimas semanas, quando se confirmou que continuaria em sua casa no Alabama, sul dos Estados Unidos, sem ter pisado no país durante toda a campanha eleitoral.
Economista de 54 anos, Parisi enfrenta problemas com a justiça chilena por suspeita de fraude e por deixar de pagar a pensão alimentícia de dois filhos menores, fruto de seu primeiro casamento no Chile. Por este motivo, se voltar ao país, será proibido de sair.
Contrariando as previsões, Parisi desbancou dois candidatos que as pesquisas davam como pesos pesados na disputa, a mais incerta em 31 anos de democracia: a senadora democrata-cristã Yasna Provoste (12,2%) e o governista de direita Sebastián Sichel (12%).
"Seguimos com a cabeça erguida, já mandei os parabéns a Kast", disse Sichel, ao admitir sua derrota. No segundo turno, ele disse que não votará em Gabriel Boric, mas tampouco declarou voto abertamente em Kast.
Provoste também reconheceu a derrota em Vallenar, sua cidade natal 700 km ao norte de Santiago, reforçando que "este espírito totalitário e fascista é o que representa a candidatura de José Antonio Kast. Nós jamais poderíamos ter uma posição neutra em relação ao que isto significa para o país".
"Não queremos que se repitam estas dores e estes horrores" ocorridos durante a ditadura de Augusto Pinochet, disse, sem declarar apoio explícito a Boric, mas antecipando que "não vai manter uma posição neutra" em relação à disputa do segundo turno.
Com longas filas e um dia particularmente quente, o Chile realizou neste domingo as eleições mais incertas desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), com a ideia de mudar o modelo neoliberal, que permitiu crescimento econômico e estabilidade política nas últimas três décadas, mas é considerado a origem da desigualdade que motivou protestos sociais desde outubro de 2019.