TRANSIÇÃO

Barbados se despede da Rainha Elizabeth II e se torna uma república

A ilha terá como chefe de Estado outra mulher, Sandra Mason, até então governadora-geral do país, após sua eleição em 21 de outubro

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AFP

Publicado em 30/11/2021 às 2:00
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A rainha Elizabeth II perderá uma nova joia de sua coroa com a posse nesta segunda-feira (29) à noite da primeira presidente da história de Barbados, tornando a pequena ilha a república mais jovem do mundo.

Já independente do Reino Unido desde 1966, Barbados celebrará sua transição da monarquia para o governo republicano após cerca de quatro séculos de sujeição ao soberano britânico.

A ilha conhecida por suas praias paradisíacas, seu rum e por ser o berço da superestrela global Rihanna, terá como chefe de Estado outra mulher, Sandra Mason, até então governadora-geral do país, após sua eleição em 21 de outubro.

Sua posse oficial será à meia-noite na capital, Bridgetown. A bandeira da rainha será retirada e a presidente eleita prestará juramento perante o mais alto magistrado do país. Em seguida, será hasteada a bandeira presidencial.

Convidado para a ocasião, o príncipe Charles, herdeiro da coroa, participará das comemorações, assim como Rihanna.

Foi temporariamente suspenso o toque de recolher imposto devido ao coronavírus para permitir que a população aproveite as festividades. Estão previstos fogos de artifício, principalmente após transição ser concluída.

No entanto, a cerimônia oficial não será aberta ao público e as autoridades aconselharam os residentes a não deixarem suas casas a menos que seja absolutamente necessário. Em Bridgetown, poucas horas antes do início da cerimônia, muitos disseram que foram excluídos das celebrações.

"Não estou muito animado com Barbados se tornando uma república, simplesmente porque as pessoas na verdade não sabem que estamos nos tornando uma república", declarou Ian Trotman, um fabricante de tecidos de 58 anos que sentiu falta de uma campanha pública informativa.

Barbados continuará sendo membro da organização Commonwealth, como observou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em um comunicado na segunda-feira.

"Seguiremos amigos e aliados incondicionais, aproveitando as afinidades e conexões duradouras entre nossos povos e o vínculo especial da Commonwealth", escreveu Johnson.

Sandra Mason foi a primeira mulher admitida na ordem dos advogados de Barbados. Sua carreira começou como professora, secretária e então advogada, até finalmente se tornar governadora geral, a representante perante a rainha, em 2018.

Como presidente, Mason terá o cargo mais alto do país e seus poderes não estarão mais nas mãos da monarca. Suas funções, porém, serão em grande parte cerimoniais, na maioria dos casos exigindo a assinatura conjunta da primeira-ministra.

Nascida no distrito da classe trabalhadora de St. Philip, Mason, agora com 72 anos, atribui ao sistema de educação pública de Barbados suas realizações estelares.

"A educação em Barbados é gratuita", ressaltou. "Você pode conseguir o que quiser e por isso senti que era minha responsabilidade (...) retribuir algo".

Em 1973, ela se formou em Direito pela Universidade das Índias Ocidentais (UWI), a única universidade pública do país, e foi admitida na ordem em 1975 como advogada em exercício. Em 1997, virou secretária da Suprema Corte.

Em 2020, Mason pronunciou o "discurso do trono" anual, escrito pela primeira-ministra, declarando que havia chegado o momento de "deixar completamente para trás nosso passado colonial".

"Os barbadenses querem um chefe de Estado barbadense (...) Esta é a declaração máxima de confiança em quem somos e no que somos capazes de alcançar", disse o texto de Mia Mottley.

Entre suas paixões políticas está o sonho de uma versão caribenha da União Europeia. "Sou uma fã do caribenho. Acredito na integração regional, acho que é algo que precisa se concretizar", afirmou Mason.

Entretanto, várias vozes em Barbados criticaram Mottley por ter chamado o príncipe Charles para a posse de Mason como convidado de honra, e ter lhe concedido a Ordem da Liberdade de Barbados, a mais alta honraria nacional.

"A família real britânica é uma fonte de exploração nesta região e, até agora, não ofereceram um pedido formal de desculpas ou qualquer tipo de reparação pelos danos sofridos", disse Kristina Hinds, professora de Relações Internacionais da UWI. "Não vejo como alguém da família pode receber este prêmio."

Para alguns ativistas, como Firhaana Bulbulia, fundadora da Associação Muçulmana de Barbados, o colonialismo britânico e a escravidão são responsáveis pela desigualdade existente hoje na ilha.

"A desigualdade econômica, a capacidade de possuir terras e até mesmo o acesso a empréstimos bancários têm muito a ver com as estruturas construídas após o domínio britânico", afirmou Bulbulia, de 26 anos.

Alguns moradores apontam problemas mais urgentes da ilha, entre eles a crise econômica causada pela pandemia da covid-19, que colocou em evidência o quanto o país depende do turismo, em especial do Reino Unido.

Antes do surgimento do vírus, mais de um milhão de pessoas visitavam a ilha de 287 mil habitantes a cada ano.

O desemprego é de quase 16%, 9% a mais que nos anos anteriores, apesar do aumento dos empréstimos governamentais para financiar obras do setor público e criar empregos.

 

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