Crise

Rússia inicia exercícios militares em Belarus em plena crise com a Ucrânia

Deslocamento de soldados foi denunciado por Kiev como um meio de "pressão psicológica" do governo russo, que concentrou desde novembro mais de 100.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia

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AFP

Publicado em 10/02/2022 às 9:46 | Atualizado em 10/02/2022 às 19:09
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Atualizada às 17h15

Os exércitos russo e bielorrusso iniciaram nesta quinta-feira (10) manobras em Belarus, às portas da Ucrânia, país que é o epicentro da tensão entre Moscou e o Ocidente, em em meio a esforços diplomáticos intensos para encerrar a crise.

O deslocamento desses soldados foi imediatamente denunciado pela presidência ucraniana como um meio de "pressão psicológica" do governo russo, que concentrou desde novembro mais de 100.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia.

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que as manobras são "um gesto de grande violência", enquanto o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que as mesmas representam um "momento perigoso" para a segurança na Europa.

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, considerou "incompreensível" a preocupação dos países ocidentais com as manobras em Belarus.

Em Berlim, o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, disse à Rússia para não subestimar a "união" e "determinação" dos europeus. "Esperamos agora que a Rússia dê passos claros para reduzir a tensão atual", assinalou, após uma reunião com os líderes dos países bálticos, ex-repúblicas soviéticas que fazem fronteira com a Rússia e hoje são membros da Otan e da União Europeia.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em visita a Varsóvia, insistiu na necessidade de convencer Vladimir Putin a "participar da desescalada", enquanto sua chefe diplomática, Liz Truss, pediu a retirada das tropas, após uma reunião em Moscou com Serguei Lavrov .

Às vésperas das manobras, o Exército russo divulgou um vídeo que mostra sistemas antiaéreos S-400 apontando seus mísseis para o céu em um campo coberto de neve na região bielorrussa de Brest, fronteira com a Ucrânia.

O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, disse que queria evitar "incidentes desagradáveis" no início das manobras militares, e conversou por telefone com o colega bielorrusso, general Victor Goulevitch.

Moscou cita 'operação defensiva' 

A Rússia é acusada de estar disposta a executar uma nova operação militar contra a Ucrânia, após a anexação da Crimeia em 2014. O Kremlin nega qualquer intenção bélica e afirma que deseja garantir sua segurança diante do que considera um comportamento hostil de Kiev e da Otan.

Os exercícios russo-bielorrussos "acontecem com o objetivo de se preparar para deter e repelir uma agressão estrangeira como parte de uma operação defensiva", afirmou o ministério da Defesa russo.

Acrescentou que os exercícios militares prosseguirão até 20 de fevereiro em cinco campos militares, quatro bases aéreas e "vários pontos" de Belarus, particularmente na região de Brest, na fronteira com a Ucrânia

Os exércitos russo e bielorrusso não revelaram o número de soldados que participam nas manobras, mas, segundo países ocidentais, 30.000 soldados russos foram mobilizados em Belarus com esse fim.

O governo russo anunciou nesta quinta-feira a chegada à Crimeia de seis navios de guerra para os próximos exercícios no Mar Negro, ao redor do sul da Ucrânia.

Atividade diplomática intensa

A tensão provocou uma intensa atividade diplomática para buscar uma saída à crise. O presidente francês, Emmanuel Macron, visitou Moscou na segunda-feira e Kiev na terça-feira.

Em caso de ataque russo, os países ocidentais ameaçaram Moscou com fortes sanções econômicas, que serão somadas às impostas em 2014, após a anexação da península ucraniana da Crimeia.

Um conflito no leste da Ucrânia entre o governo e separatistas apoiados pela Rússia provocou mais de 13.000 mortes em oito anos, segundo a ONU, e continua apesar dos acordos de paz de 2015.

A Rússia nega uma tentativa de desestabilizar o país vizinho pró-Ocidente e insiste que pretende estabelecer uma defesa diante da Otan, organização a qual a Ucrânia deseja aderir. As negociações continuam muito difíceis entre as duas partes, cujas posições parecem irreconciliáveis.

Moscou exige o fim da política de ampliação da Otan, o compromisso de não instalar armas ofensivas perto das fronteiras russas e o recuo da infraestrutura militar da Aliança às fronteiras de 1997, ou seja, antes de a organização receber os ex-membros do bloco soviético.

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