Rússia inicia exercícios militares em Belarus em plena crise com a Ucrânia
Deslocamento de soldados foi denunciado por Kiev como um meio de "pressão psicológica" do governo russo, que concentrou desde novembro mais de 100.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia
Atualizada às 17h15
Os exércitos russo e bielorrusso iniciaram nesta quinta-feira (10) manobras em Belarus, às portas da Ucrânia, país que é o epicentro da tensão entre Moscou e o Ocidente, em em meio a esforços diplomáticos intensos para encerrar a crise.
O deslocamento desses soldados foi imediatamente denunciado pela presidência ucraniana como um meio de "pressão psicológica" do governo russo, que concentrou desde novembro mais de 100.000 soldados nas fronteiras da Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, afirmou que as manobras são "um gesto de grande violência", enquanto o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que as mesmas representam um "momento perigoso" para a segurança na Europa.
O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, considerou "incompreensível" a preocupação dos países ocidentais com as manobras em Belarus.
Em Berlim, o chefe de governo alemão, Olaf Scholz, disse à Rússia para não subestimar a "união" e "determinação" dos europeus. "Esperamos agora que a Rússia dê passos claros para reduzir a tensão atual", assinalou, após uma reunião com os líderes dos países bálticos, ex-repúblicas soviéticas que fazem fronteira com a Rússia e hoje são membros da Otan e da União Europeia.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, em visita a Varsóvia, insistiu na necessidade de convencer Vladimir Putin a "participar da desescalada", enquanto sua chefe diplomática, Liz Truss, pediu a retirada das tropas, após uma reunião em Moscou com Serguei Lavrov .
Às vésperas das manobras, o Exército russo divulgou um vídeo que mostra sistemas antiaéreos S-400 apontando seus mísseis para o céu em um campo coberto de neve na região bielorrussa de Brest, fronteira com a Ucrânia.
O chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, disse que queria evitar "incidentes desagradáveis" no início das manobras militares, e conversou por telefone com o colega bielorrusso, general Victor Goulevitch.
Moscou cita 'operação defensiva'
A Rússia é acusada de estar disposta a executar uma nova operação militar contra a Ucrânia, após a anexação da Crimeia em 2014. O Kremlin nega qualquer intenção bélica e afirma que deseja garantir sua segurança diante do que considera um comportamento hostil de Kiev e da Otan.
Os exercícios russo-bielorrussos "acontecem com o objetivo de se preparar para deter e repelir uma agressão estrangeira como parte de uma operação defensiva", afirmou o ministério da Defesa russo.
Acrescentou que os exercícios militares prosseguirão até 20 de fevereiro em cinco campos militares, quatro bases aéreas e "vários pontos" de Belarus, particularmente na região de Brest, na fronteira com a Ucrânia
Os exércitos russo e bielorrusso não revelaram o número de soldados que participam nas manobras, mas, segundo países ocidentais, 30.000 soldados russos foram mobilizados em Belarus com esse fim.
O governo russo anunciou nesta quinta-feira a chegada à Crimeia de seis navios de guerra para os próximos exercícios no Mar Negro, ao redor do sul da Ucrânia.
Atividade diplomática intensa
A tensão provocou uma intensa atividade diplomática para buscar uma saída à crise. O presidente francês, Emmanuel Macron, visitou Moscou na segunda-feira e Kiev na terça-feira.
Em caso de ataque russo, os países ocidentais ameaçaram Moscou com fortes sanções econômicas, que serão somadas às impostas em 2014, após a anexação da península ucraniana da Crimeia.
Um conflito no leste da Ucrânia entre o governo e separatistas apoiados pela Rússia provocou mais de 13.000 mortes em oito anos, segundo a ONU, e continua apesar dos acordos de paz de 2015.
A Rússia nega uma tentativa de desestabilizar o país vizinho pró-Ocidente e insiste que pretende estabelecer uma defesa diante da Otan, organização a qual a Ucrânia deseja aderir. As negociações continuam muito difíceis entre as duas partes, cujas posições parecem irreconciliáveis.
Moscou exige o fim da política de ampliação da Otan, o compromisso de não instalar armas ofensivas perto das fronteiras russas e o recuo da infraestrutura militar da Aliança às fronteiras de 1997, ou seja, antes de a organização receber os ex-membros do bloco soviético.